SóProvas


ID
5060764
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Capanema - PA
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Crônicas de Artur Xexéo

    Não vivi a crise dos 30. Nem a dos 40. Nem mesmo a dos 50. As datas de aniversário chegaram e foram embora sem causar maiores comoções. Mas vivi momentos em que a idade pesou. Momentos em que me dei conta de que não era tão jovem quanto pensava. O mais recente aconteceu na semana passada, quando me preparava para entrar numa sessão de cinema, em Nova York, para assistir a “Super 8”, o melhor filme de Steven Spielberg que não foi dirigido por Steven Spielberg. Mas comecemos do começo.
    A primeira vez em que me dei conta de que a juventude estava acabando foi no Tivoli. Para quem não está ligando o nome à pessoa, o Tivoli era um mafuá que ficava em plena Lagoa Rodrigo de Freitas muito antes de o local ter atrações como pizzarias, academias de ginástica, pistas de skate, cinemas multiplex. Nas sextas-feiras à noite, depois da última aula na faculdade, minha turma costumava ir para lá. Todos já com mais de 20 anos, talvez perto dos 25, teimávamos em não abandonar a infância jogando argolas para ganhar bichinhos de pelúcia ou disputando corrida nos carrinhos de bate-bate (meu Deus, será que alguém ainda sabe o que é isso?). Pois eu estava lá, aguardando a minha vez de entrar no Chapéu Mexicano, quando uma menina se aproximou. Faz tanto tempo que eu ainda tinha coragem de andar no Chapéu Mexicano. A menina era uma adolescente e, sem perceber o mal que me causava, perguntou com educação:
    — O senhor está na fila?
    Foi quando me dei conta de que já existiam pessoas dez anos mais moças do que eu saindo de casa sozinhas para mafuás na beira da Lagoa. E assim entrei na maturidade. Numa noite de sexta-feira no Tivoli. Foi traumático, mas passou. Enfrentei com galhardia os 30, os 35, os 40, os 45... até me encontrar com a revista “Caras”. É sempre um momento constrangedor, nas entrevistas, quando o repórter quer saber a idade do entrevistado. Hoje não existe mais esse problema. É só ir na Wikipedia. Mas meu encontro com a “Caras” aconteceu antes da internet. Faz tempo. Todas as reportagens da revista tinham a idade do entrevistado entre vírgulas logo após o nome dele. Conheço gente que só lia a “Caras” para saber a idade dos artistas. E um dia a reportagem era comigo. Eu nunca fiz nada para sair na “Caras”. Nunca fui a Angra dos Reis, nunca chorei mágoas em castelo na França, nunca fui flagrado saindo de uma farmácia no Leblon. Mas lancei um livro, uma minibiografia de Janete Clair. Não foi assunto suficientemente importante para merecer uma reportagem de “Caras”. Mas valeu uma foto pequenininha numa página com mais 328 fotos de gente que estava dançando numa boate ou participando da festa de aniversário do filho de um cantor sertanejo. Na foto, eu dava um autógrafo no livro comprado por Sonia Braga (isso mesmo, eu e Sonia Braga nos meus tempos de superstar). E a legenda entregava: “No lançamento da biografia de Janete Clair, Artur Xexéo, 50...” Mas eu não tinha 50 anos. Ainda faltava um bom tempo para eu chegar lá. O triste foi constatar que eu aparentava 50, nunca mais li “Caras”. Nem sei se eles ainda publicam a idade de todos os entrevistados.
    Mas passou. Fiz 50 anos e nem me dei conta. Até a semana passada, quando, enfim, cheguei ao tal cinema em Nova York. Era na Rua 42, um multiplex com mais de 20 salas todas passando praticamente o mesmo filme. “Thor”, “X-Men”, “Super 8”... Para que tantas salas se são tão poucos os filmes? Me decidi pelo “Super 8”. Escolhi uma das sete salas em que o filme estava sendo exibido, separei o dinheiro do ingresso certinho e fui à bilheteria. A bilheteira me deu troco. Fiquei confuso. Afinal, eu tinha contado o dinheiro certo. O ingresso custava US$ 24. Por que tinham me cobrado só US$ 19.20? A bilheteira me deu desconto de sênior! Simplesmente olhou para mim e concluiu: Sênior. Mais tarde soube que, em Nova York, quem tem mais de 65 anos é considerado sênior e tem direito a descontos no cinema e em museus. Peraí, 65 anos? A bilheteira do multiplex na Rua 42 estragou minha semana de folga me dando de bandeja a crise da terceira idade com uns bons anos de antecedência.

(Disponível em: https: //www.facebook.com. Adaptado.)

Analise o segmento: “A primeira vez em que me dei conta de que a juventude estava acabando foi no Tivoli. Para quem não está ligando o nome à pessoa, o Tivoli era um mafuá que ficava em plena Lagoa Rodrigo de Freitas (...)” (2º§). Assinale o item em que o uso da crase é compatível com o do segmento.

Alternativas
Comentários
  • Assertiva A

    As amigas foram à confraternização da empresa de táxi

  • Ao meu ver, a questão busca por um gabarito que contenha uma crase sendo utilizada pela transitividade de um verbo. A única alternativa que apresenta tal classificação é a letra A.

  • Gabarito: A

    O verbo ligar no sentindo de estabelecer uma conexão/comunicação é transitivo direto e indireto. Ligar alguém a algo.

    A crase no enunciado ocorreu por causa da junção da preposição a pedida pelo verbo ligar com o artigo a que antecedeu a palavra pessoa.

    O nome -> objeto direto

    À pessoa -> objeto indireto

    A - As amigas foram à confraternização da empresa de táxi

    Verbo ir é transitivo indireto e rege a preposição a, logo a crase ocorreu pela junção da preposição a pedida pelo verbo com o artigo a, semelhante à frase do enunciado.

    B- Estávamos observando tudo à distância de cinco metros.

    Uso da crase ocorreu pelo fato da distância estar especificada.

    Obs. As locuções adverbiais com substantivo feminino possuem crase, exemplo: à tarde, à vontade, às vezes, às pressas, etc.

    Exceção à regra é a locução “a distância”, se esta não estiver determinada:

    • Estávamos observando tudo a distância.
    • Estávamos observando tudo à distância de dois metros.

    C- A cantora fez o maior sucesso por fazer seu show à Anita.

    O termo "à Anita" é uma locução adverbial de modo, subtendendo-se a expressão à moda de, assim como ocorre em arroz à grega (à moda) e escrever à Drummond (à moda de).

    D- O campeonato de futebol terá seu início às 17 horas hoje.

    As locuções adverbiais que especificam o momento de um evento com o núcleo expresso com o substantivo hora recebem crase obrigatória.

    Exs. À meia noite; à duas horas

    E - Ele terminou a prova às pressas, pois já estava no horário.

    "Às pressas" recebeu crase por ser uma locução adverbial com substantivo feminino.

  • A Questão queria o uso da crase devido à mesma regra que o enunciado. Ou seja, preposição regida por um verbo mais artigo definido.

  • Foi a (algum lugar) e volta da(algum lugar)-crase no a. Foi a (algum lugar ) volta de ( algum lugar) -crase pra quê? *PS: Já matei muita questão com esse macete.
  • Ah não mano. Marquei C porque de alguma forma achei que a cantora tinha feito o show à Anitta (tinha feito o show para ela). Não sei onde me escondo depois dessa!

  • Há formas mais interessantes de trazer dificuldade sem perder a clareza no enunciado. Obviamente, não foi essa a escolha da banca. Bons estudos!

  • Errei! Mas confesso que a questão está bem elaborada!

    Lembrem-se: casa, terra e distância só terão crase se vierem com especificador.

    O Comentário da colega Andressa Cistina está perfeito.

  • A questão quer uma crase por transitividade.

    a) verbo "ir" é VTI

    b) Termo "distãncia" especificado.

    c) termo "à moda de"

    d) horas especificadas

    e) locução adverbial

  • Boa noite ! Seguem alguns mnemônicos : Vou a,volto de ,crase para quê ?

    Vou a volto da ,crase há !

    Antes de "cujo" e "quem " ,crase não tem !

  • Temos a(preposição) + a(pronome demonstrativo)

    Basta trocar o a por aquela:

    aquela pessoa

    aquela confraternização