SóProvas


ID
5063683
Banca
IPEFAE
Órgão
Prefeitura de Andradas - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Ler a vida

(Marina Colasanti)


Quinta-Feira, 20 de agosto de 2020


Faço, toda manhã, exercícios respiratórios diante da janela aberta. E tenho o privilégio de ver o mar. Pois, manhã destas estava eu inspirando e expirando, quando reparei num barco de pesca parado em meio ao azul. Olhei para cima. Cormorões em bando revoluteavam. Pensei que os pescadores haviam lido aquelas asas e sabido através delas que um cardume nadava naquele exato ponto.

Toda manhã, tendo cumprido o dever dos exercícios, rego as plantas do terracinho do quarto e deixo o olhar escorrer sobre os prédios. Pois já fazem algumas manhãs que meus olhos encontram uma jovem mulher, de biquíni e grávida, andando em marcha apertada na laje do seu edifício. Calça tênis. Leio no seu andar o começo de uma devoção que nunca terminará, devoção ao filho que ainda nem nasceu. É por ele, para que nasça sadio apesar dela estar trancada em casa, que toda manhã toma o elevador e caminha, empenhada, sob o sol.


Tudo na vida é leitura, para quem tem olhos.


Num esforço de sobrevivência, os bebês precisam aprender a ler o mundo muito antes de identificar as letras. É preciso distinguir os objetos, identificar sua função e saber como essa função se encaixa no cotidiano. Interpretar o rosto dos outros humanos é imprescindível, sem o que corre-se o risco de confundir uma reprimenda com um carinho — e a reprimenda pode ser protetiva. É importante ler chama e gelo, chuva e vento, mar e floresta.

Sabemos que bebês que têm mais estímulos desenvolvem-se mais plenamente. O que são estímulos? São aulas de leitura da vida.

Pergunto-me como meu amigo Yllen Kerr, se vivo estivesse, leria o medonho incêndio do Pantanal. Foi premiado por uma série de reportagens sobre aquela imensa planície, inundada na maior parte do ano, seca somente durante quatro meses. Fotografou onças e aves, serpentes e jacarés para ilustrar as reportagens. Hoje choraria, tenho certeza, vendo os restos queimados de tantos animais. Não sei se leria nas chamas o aquecimento global, a alteração do regime de chuvas devido ao desmatamento, ou a pouca água dos rios permitindo a maior seca dos últimos 30 anos. Talvez, arguto que era, lesse esses três fatores juntos.


Cada um lê de acordo com os olhos que tem. 


Vi em uma revista que Dior acabou de lançar novo modelo de bolsa. O modelo, dizia a legenda da foto, tem preços “a partir de 19 mil reais”. A revista listava o nome de três ou quatro proprietárias brasileiras desta joia. Certamente, elas leram a chegada da nova bolsa como um apelo de elegância desejável. Eu, ao contrário, li como extrema deselegância exibir bolsa deste preço em país tão miserável. Não importa quanto a pessoa ganha, importa quanto os outros não ganham. Não importa se a usuária já colabora de alguma maneira com obras beneficentes, o que mais importa é que 19 mil reais correspondem a 33 auxílios emergenciais.


(...)


Mas a leitura da vida não se faz só com os próprios olhos, entram na receita a sensibilidade e os conhecimentos que se têm.

FONTE: https://www.marinacolasanti.com/2020/08/ler-vida.html

O texto se vale de uma linguagem formal. Entretanto, em alguns momentos, a autora lança mão de certos usos informais, diferentes do que preceitua a gramática normativa. Assim, se a passagem “(...). Pois já fazem algumas manhãs que meus olhos encontram uma jovem mulher (...)” fosse reescrita segundo a gramática padrão da língua, mantendo-se o sentido original, teríamos:

Alternativas
Comentários
  • gaba B

    (...). Pois meus olhos encontram uma jovem mulher já faz algumas manhãs (...).

    VERBO FAZER → no sentido de tempo decorrido é invariável.

    Quem perguntou da LETRA D

    (...). Pois meus olhos encontram com uma jovem mulher já se fazem algumas manhãs (...)

    já se faz algumas manhãs seria o correto, visto que, como dito acima, o verbo FAZER no sentido de tempo decorrido é invariável :)

    perntencelemos!

  • Por que a Letra D está errada?

  • Por que a Letra D está errada?

  • A alternativa ''D'' está errada por conta do pronome relativo ''as quais'', uma vez que ''NAS manhãs'', os olhos encontravam a jovem mulher. No caso da letra ''D'', há ausência da preposição ''EM''. (pelo menos foi assim que eu interpretei para acertar a questão.

  • LEMBRANDO QUE:

    Na (D) também existe erro de pontuação.

  • Na alternativa D, "as quais" é pronome relativo e, em tese, retomaria o termo antecedente, sendo, portanto, inadequado na frase. Nesse caso, deveria ser substituído pelo "que", que é conjunção integrante e inicia uma frase "meus olhos encontram uma jovem mulher". Basta substituí-la por "isso".

    Qualquer erro, avisem.

  • GABARITO - B

    A) (...). Pois meus olhos encontram uma jovem mulher já fazem algumas manhãs (...).

    Fazer no sentido de tempo decorrido = Impessoal = singular.

    é a mesma pegada do verbo haver no sentido de tempo decorrido.

    Havia três anos que não via Joana.

    ________________________________________________________

    Bons estudos!