SóProvas


ID
5089735
Banca
IBADE
Órgão
Câmara de Ji-Paraná - RO
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.

AÇÃO DO CORAÇÃO

    Foi num impulso. Em uma manhã, ao olhar no espelho, decidi que não queria mais ter a cara de sempre. No dia seguinte, então, fui confiante, pé ante pé, a um salão de beleza perto de casa. Entrei no lugar com o cabelo no meio das costas e saí de lá, minutos depois, tomando vento na nuca, com o corte mais dramático que já havia feito em toda a minha vida. De bônus, ainda ganhei a lembrança de ter à minha volta um grupo enorme de pessoas que parou tudo que estava fazendo só para observar o meu nervosismo e deslumbre enquanto a cabeleireira me dava, a cada tesourada, uma nova cara.
     Esse momento, aos 22 anos, foi meu primeiro ato de coragem. Até aquele dia, eu sempre havia enxergado a vida como um barquinho que eu não podia balançar muito: era preferível só mesmo navegar de maneira constante, evitando as águas mais agitadas das mudanças. Valia para o corte de cabelo, mas também para minha postura no dia a dia, com receio do que pensariam sobre mim se eu saísse um pouco da linha. Era melhor, então, não chamar atenção, não perturbar, viver dentro de normas preestabelecidas e, quem sabe, ficar em paz.
    Mas havia algo de desagradável e amargo nessa escolha. Permanecer na bonança era confortável. Mas era, também, ficar na superfície da vida. Além de ser cômodo e preguiçoso, evitar qualquer mudança, por menor que fosse, era também abrir mão de saber mais sobre o mundo e sobre quem eu era dentro dele. Era ser ignorante e indiferente às possibilidades à minha volta – em nome de uma tranquilidade que eu nem sabia se queria de verdade.
      Foi na cadeira do salão de beleza que provei da literal definição da palavra “coragem”: ela vem do latim e quer dizer “ação do coração”. Significa deixar que nossos atos mostrem ao mundo quem somos, por inteiro e de verdade – os potenciais, as imperfeições, as forças e fraquezas.
    Com muitos centímetros a menos de cabelo, sendo forçada a não esconder mais meu rosto, passei a ficar frente a frente com uma outra versão de mim toda vez que via meu reflexo. Foi como sair de uma carcaça velha e me entregar ao mundo sem possibilidade de voltar atrás. Sem máscaras. Por causa do novo rosto, experimentei diariamente medo e êxtase. E percebi que para sair do primeiro sentimento e chegar ao segundo, só existia um caminho: erguer a cabeça e ser corajosa.   
    A coragem, especialmente quando atrelada a mudanças, é engrandecedora por um motivo simples: ela sempre tem o medo como ponto de partida. Não dá para ser corajoso sem que haja algo que nos assuste à nossa frente, uma atitude. Só a partir disso é possível permitir que a ação do coração entre em cena. Vale para uma mudança no visual, mas também para pôr em prática nossos valores quando o mundo nos oprime, para assumir erros quando descobrimos que machucamos alguém e até para contar nossa história. 
    Nunca será confortável. O resultado será sempre imprevisível – e, às vezes, pode não ser agradável. Mas a coragem é nossa atitude mais libertadora porque, sendo uma estrada por vezes espinhosa, é o único caminho em linha reta para o autoconhecimento e, logo, para o amor-próprio.

(Texto adaptado. Rafaela Carvalho)

No 3º parágrafo “...em nome de uma tranquilidade que eu nem sabia se queria de verdade.”, a palavra destacada tem, respectivamente, o valor sintático e morfológico de:

Alternativas
Comentários
  •  “...em nome de uma tranquilidade que eu nem sabia se queria de verdade.” - “...em nome de uma tranquilidade a qual eu nem sabia se queria de verdade.” ( Pronome relativo ) - eu nem sabia se queria de verdade a tranquilidade (objeto direto).

  • A questão é sobre a palavra "que" e quer saber o valor sintático e morfológico da palavra destacada em “...em nome de uma tranquilidade que eu nem sabia se queria de verdade”. Vejamos: 

     .

    A) objeto direto / conjunção integrante.

    Errado.

    Conjunção integrante: introduz oração subordinada substantiva. É mero conectivo oracional. As conjunções integrantes são representadas pelas conjunções "QUE" e "SE”. A oração pode ser trocada por "isso, nisso, disso". Ex.: Necessito de que me ajude. (= Necessito disso).

     .

    B) objeto direto / pronome relativo.

    Certo. "Que", nesse caso, é morfologicamente um pronome relativo, retoma "tranquilidade" e equivale a "a qual". A função sintática do "que" é de objeto direto, já que na ordem direta, temos: "eu nem sabia se queria de verdade uma tranquilidade". A função sintática do "que" é a mesma do seu antecedente na ordem direta: como "uma tranquilidade" na ordem direta é um objeto direto, o "que" terá essa mesma classificação: objeto direto.

    Pronome relativo: introduz oração subordinada adjetiva. Exerce função sintática de sujeito, obj. direto, obj. indireto, complemento nominal, predicativo do sujeito ou aposto. A palavra pode ser trocada por "o qual, a qual, os quais, as quais". São pronomes relativos: que, quem, onde, o qual (a qual, os quais, as quais), quanto (quanta, quantos, quantas) e cujo (cuja, cujos, cujas). Ex.: O livro que li era péssimo. (que = o qual)

     .

    Função sintática do "que"

    Para saber a função sintática do "que", devemos substituir o "que" pelo seu antecedente e depois colocar a frase na ordem direta. A função sintática do "que" será a mesma do seu antecedente na frase da ordem direta.

     .

    C) objeto indireto / advérbio.

    Errado.

    Advérbio: palavra invariável que indica circunstâncias. Modifica o sentido do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio. Pode ser de afirmação, dúvida, intensidade, lugar, modo, tempo e negação.

     .

    D) sujeito / pronome indefinido.

    Errado.

    Pronomes indefinidos: referem-se à terceira pessoa do discurso, dando-lhe sentido vago ou expressando quantidade indeterminada. Alguns deles: algum, nenhum, todo, outro, muito, pouco, certo, vários, tanto, quanto, qualquer, tudo, algo, nada, ninguém, cada...

     .

    E) predicativo / palavra expletiva.

    Errado.

    Partícula expletiva ou de realce: é aquela que pode ser retirada da frase sem prejuízo algum para o sentido. Nesse caso, a palavra não irá exercer nenhuma função sintática.

    Ex.: O que QUE ela falou pra você? (O que ela falou pra você?)

     .

    Gabarito: Letra B