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ID
5122669
Banca
UNIFAL-MG
Órgão
UNIFAL-MG
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

É entre os moralistas e os educadores do século XVII que vemos formar-se esse outro sentimento da infância que estudamos no capítulo anterior e que inspirou toda a educação até o século XX, tanto na cidade como no campo, na burguesia como no povo. O apego à infância e à sua particularidade não se exprimia mais através da distração e da brincadeira, mas através do interesse psicológico e da preocupação moral. A criança não era nem divertida nem agradável: “Todo homem sente dentro de si essa insipidez da infância que repugna à razão sadia; essa aspereza da juventude, que só se sacia com objetos sensíveis e não é mais do que o esboço grosseiro do homem racional”. Assim falava El Discreto de Balthazar Gratien, um tratado sobre a educação de 1646, traduzido para o francês em 1723 por um padre jesuíta. “Só o tempo pode curar o homem da infância e da juventude, idades da imperfeição sob todos os aspectos.” Como vemos, essas opiniões devem ser recolocadas em seu contexto da época e comparadas aos outros textos para serem compreendidas. Elas já foram interpretadas por alguns historiadores como uma ignorância da infância. No entanto, devemos ver nelas o início de um sentimento sério e autêntico da infância. Pois não convinha ao adulto se acomodar à leviandade da infância: este fora o erro antigo. Era preciso antes conhecê-la melhor para corrigi-la, e os textos do fim do século XVI e do século XVII estão cheios de observações sobre a psicologia infantil. Tentava-se penetrar na mentalidade das crianças para melhor adaptar a seu nível os métodos de educação. Pois as pessoas se preocupavam muito com as crianças, consideradas, testemunhos da inocência batismal, semelhantes aos anjos e próximas a Cristo, que as havia amado. Mas esse interesse impunha que se desenvolvesse nas crianças uma razão ainda frágil e que se fizesse delas homens racionais e cristãos. O tom às vezes era austero e a ênfase recaía sobre a severidade, por oposição ao relaxamento e às facilidades dos costumes; mas nem sempre era assim. Havia também o humor, até mesmo em Jacqueline Pascal, e havia uma ternura declarada. No final do século, procurou-se conciliar doçura e a razão. Para o abade Goussault, conselheiro do Parlamento, em Le Portrait d’une honnête femme, “familiarizar-se com os próprios filhos, fazê-los falar sobre todas as coisas, tratá-los como pessoas racionais e conquistá-los pela doçura é um segredo infalível para se fazer deles o que se quiser. As crianças são plantas jovens que é preciso cultivar e regar com frequência: alguns conselhos dados na hora certa, algumas demonstrações de ternura e amizade feitas de tempos em tempos as comovem e as conquistam. Algumas carícias, alguns presentinhos, algumas palavras de confiança e cordialidade impressionam seu espírito, e poucas são as que resistem a esses meios doces e fáceis de transformá-las em pessoas honradas e probas”. A preocupação era sempre a de fazer dessas crianças pessoas honradas e probas e homens racionais.

(Fragmento) (ARIÈS, Phillipe. História social da criança e da família. Tradução de Dora Flaksman. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978, p. 162-163)

Em relação ao trecho “outro sentimento da infância que estudamos no capítulo anterior”, o vocábulo que desempenha o mesmo papel coesivo na passagem:

Alternativas
Comentários
  • Não entendi, alguém poderia explicar.

  • Passos para não errar esse tipo de questão:

    1º - Como a questão pede o vocábulo (palavra) que desempenha papel coesivo, temos então duas possibilidades: buscar o termo anafórico (aquele que destaca um referente anterior) ou o termo catafórico (aquele que expressa uma ideia posterior).

    "outro sentimento da infância que estudamos no capítulo anterior”

    2º - Nesse caso, identifica-se o QUE na função de pronome relativo - veja: "outro sentimento da infância o qual estudamos no capítulo anterior". (sentimento o qual foi estudado)

    Como já sabemos que temos que procurar o termo anafórico, basta fazer a análise dos itens de todos vocábulos QUE e fazer o mesmo procedimento de troca (Detalhe - retomar os períodos do texto era fundamental, pois a banca colocou somente os fragmentos contendo o termo QUE).

    Vejamos:

    a) (Todo homem sente dentro de si essa insipidez da infância) que repugna à razão sadia. (correta) - troca-se o QUE pelo pronome relativo A QUAL retomando a palavra "insipidez". (insipidez a qual repugna à razão sadia) - nosso gabarito!

    Obs.: Tente fazer a mesma coisa nas outras orações e verá que não terá sentido.

  • No caso da questão o termo "que" é PRONOME RELATIVO, pois retoma um termo anterior iniciando uma ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA (que no caso é restritiva, pois não tem vírgula antes do "que")

    "outro sentimento da infância que (O QUAL) estudamos no capítulo anterior" ( P.R. retomando sentimento)

    "essa insipidez da infância que (A QUAL) repugna à razão sadia" (P.R. retomando insipidez)