- ID
- 5178199
- Banca
- Instituto Excelência
- Órgão
- Prefeitura de Taubaté - SP
- Ano
- 2019
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Leia a Crônica abaixo para responder a questão.
O melhor amigo
Fernando Sabino
A mãe estava na sala, costurando. O menino abriu a porta
da rua, meio ressabiado, arriscou um passo para dentro e
mediu cautelosamente a distância. Como a mãe não se
voltasse para vê-lo, deu uma corridinha em direção de seu
quarto.
– Meu filho? – gritou ela.
– O que é – respondeu, com o ar mais natural que lhe foi
possível.
– Que é que você está carregando aí?
Como podia ter visto alguma coisa, se nem levantara a
cabeça? Sentindo-se perdido, tentou ainda ganhar tempo.
– Eu? Nada…
– Está sim. Você entrou carregando uma coisa.
Pronto: estava descoberto. Não adiantava negar – o jeito
era procurar comovê-la. Veio caminhando desconsolado
até a sala, mostrou à mãe o que estava carregando:
– Olha aí, mamãe: é um filhote…
Seus olhos súplices aguardavam a decisão.
– Um filhote? Onde é que você arranjou isso?
– Achei na rua. Tão bonitinho, não é, mamãe?
Sabia que não adiantava: ela já chamava o filhote de isso.
Insistiu ainda:
– Deve estar com fome, olha só a carinha que ele faz.
– Trate de levar embora esse cachorro agora mesmo!
– Ah, mamãe… – já compondo uma cara de choro.
– Tem dez minutos para botar esse bicho na rua. Já disse
que não quero animais aqui em casa. Tanta coisa para
cuidar, Deus me livre de ainda inventar uma amolação
dessas.
O menino tentou enxugar uma lágrima, não havia lágrima.
Voltou para o quarto, emburrado:
A gente também não tem nenhum direito nesta casa –
pensava. Um dia ainda faço um estrago louco. Meu único
amigo, enxotado desta maneira!
– Que diabo também, nesta casa tudo é proibido! – gritou,
lá do quarto, e ficou esperando a reação da mãe.
– Dez minutos – repetiu ela, com firmeza.
– Todo mundo tem cachorro, só eu que não tenho.
– Você não é todo mundo.
– Também, de hoje em diante eu não estudo mais, não
vou mais ao colégio, não faço mais nada.
– Veremos – limitou-se a mãe, de novo distraída com a
sua costura.
– A senhora é ruim mesmo, não tem coração!
– Sua alma, sua palma.
Conhecia bem a mãe, sabia que não haveria apelo: tinha
dez minutos para brincar com seu novo amigo, e depois…
ao fim de dez minutos, a voz da mãe, inexorável:
– Vamos, chega! Leva esse cachorro embora.
– Ah, mamãe, deixa! – choramingou ainda: – Meu melhor
amigo, não tenho mais ninguém nesta vida.
– E eu? Que bobagem é essa, você não tem sua mãe?
– Mãe e cachorro não é a mesma coisa.
– Deixa de conversa: obedece sua mãe.
Ele saiu, e seus olhos prometiam vingança. A mãe chegou
a se preocupar: meninos nessa idade, uma injustiça praticada e eles perdem a cabeça, um recalque,
complexos, essa coisa
– Pronto, mamãe!
E exibia-lhe uma nota de vinte e uma de dez: havia
vendido seu melhor amigo por trinta dinheiros.
– Eu devia ter pedido cinquenta, tenho certeza que ele
dava murmurou, pensativo.
Fonte: http://phaleixo.blogspot.com/
No trecho “ao fim de dez minutos, a voz da mãe,
inexorável: – Vamos, chega! Leva esse cachorro
embora.”, o termo em destaque poderia ser
substituído sem prejuízo de sentido por: