SóProvas


ID
5233279
Banca
IDIB
Órgão
CRF - MS
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO

O Tempo
Rubem Alves
    Há duas formas de marcar o tempo. Uma delas foi inventada por homens que amam a precisão dos números, matemáticos, astrônomos, cientistas, técnicos. Para marcar o tempo de forma precisa, eles fabricaram ampulhetas, relógios, cronômetros, calendários. Nesses artefatos técnicos, todos os pedaços do tempo – segundos, minutos, dias, anos – são feitos de uma mesma substância: números, entidades matemáticas. Não há inícios nem fins, apenas a indiferente sucessão de momentos, que nada dizem sobre alegrias e sofrimentos. Apenas um bolso vazio. Nele, a alma não encontra morada.
    Nas Olimpíadas, a performance dos corredores e nadadores é medida até os centésimos. Fico a me perguntar: “Como é que conseguem? Que diferença faz?”.
    A outra foi inventada por homens que sabem que a vida não pode ser medida com calendários e relógios. A vida só pode ser marcada com a vida. Os amantes do Cântico dos Cânticos marcavam o tempo do amor pelos frutos maduros que pendiam das árvores. Quando as folhas dos plátanos ficam amarelas sabemos que o outono chegou. Os ipês-rosas e amarelos anunciam o inverno.
    Qual a magia que informa os ipês, todos eles, em lugares muito diferentes, que é hora de perder as folhas e florescer? E sem misturar as cores. Primeiro os rosas, depois os amarelos e, finalmente, os brancos.
   Sugeri que algum compositor compusesse uma sinfonia ou uma brincadeira musical em três movimentos. Primeiro movimento, “Ipê-rosa”, andante tranquilo, em que os violoncelos cantam a paz e a segurança. Segundo movimento, “Ipê-amarelo”, rondo vivace, em que os metais, cores parecidas com a dos ipês, fazem soar a exuberância da vida. Terceiro movimento, “Ipê-branco”, moderato, em que o veludo dos oboés canta a mansidão. Seria bom se nós, como os ipês, nos abríssemos para o amor no inverno.
    A precisão dos números marca o tempo das máquinas e do dinheiro. O tempo do amor se marca com o corpo.
    Um calendário é coisa precisa: anos, meses, dias, horas, que são marcados com números. Esses números medem o tempo. Mas os pedaços de tempo são bolsos vazios: nada há dentro deles. O bolso vazio do tempo se torna parte do nosso corpo quando o enchemos com vida. Aí o tempo não mais pode ser representado por números. O tempo aparece como um fruto que vai sendo comido: é belo, é colorido, é perfumado. E, à medida que vai sendo comido, vai acabando. Vem a tristeza. O tempo da vida se marca por alegrias e tristezas. Há inícios e há fins.
    Tempus fugit; o tempo foge. Portanto, carpe diem: colha o dia como um fruto que amanhã estará podre.
    Viver ao ritmo de alegrias e tristezas é ser sábio. “Sapio”, no latim, quer dizer, “eu saboreio”. O sábio é um degustador da vida. A vida não é para ser medida. Ela é para ser saboreada.
    Um texto bíblico diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos um coração sábio”. Acho que Jesus sorriria se eu acrescentasse ao “Pai-Nosso” outra súplica: “A fruta nossa de cada dia dá-nos hoje…”. Caqui, pitanga, morango à beira do abismo, melancia…
    Heráclito foi um filósofo grego fascinado pelo tempo. Contemplava o rio e via que tudo é rio. Percebeu que não é possível entrar duas vezes no mesmo rio; na segunda vez, as águas serão outras, o primeiro rio já não existirá. Tudo é água que flui: as montanhas, as casas, as pedras, as árvores, os animais, os filhos, o corpo… Assim é tudo, assim é a vida: tempo que flui sem parar. Daquilo que ele supostamente escreveu, restam apenas fragmentos enigmáticos. Dentre eles, um me encanta: “Tempo é criança brincando, jogando; da criança o reinado”.
    Para nós, o tempo é um velho, cada vez mais velho, sobre quem se acumulam os anos que passam e de quem a vida foge.
    Heráclito, ao contrário, diz que o tempo é criança, início permanente, movimento circular, o fim que volta sempre ao início, fonte de juventude eterna, possibilidade de novo começos.
    Tempo é criança? O que o filósofo queria dizer exatamente eu não sei. Mas sei que as crianças odeiam Chronos, o deus dos cronômetros, dos segundos, dos centésimos de segundos O relógio é o tempo do dever: corpo engaiolado.
Disponível em https://www.revistaecosdapaz.com/o-tempo-uma-cronica-encantadora-de-rubem-alves/. 

Ao observar a posição do pronome oblíquo “o” em “O bolso vazio do tempo se torna parte do nosso corpo quando o enchemos com vida”, assinale a alternativa que apresenta uma oração em que o pronome oblíquo foi empregado da mesma forma e pelo mesmo motivo que no exemplo citado.

Alternativas
Comentários
  • Não entendi esse gabarito.

  • Alguém pode me ajudar? Não entendi.

  • Acredito que seguiram a linha de serem orações subordinadas .

    Na primeira a condição é somente se enchermos o bolso com vida(Quando) e na letra A, a condição é que só pagará a conta se emprestarem o dinheiro.

    Bom, isso foi dedução, não sei se é esse o motivo.

  • Existem 9 tipos de palavras que atraem para perto de si o pronome oblíquo átono (exatamente, TIPOS de palavras, não se pode dizer 9 classes de palavras, pois apenas o "pronome" tem 5 subdivisões que entram neste contexto -reto, indefinido, relativo, demonstrativo e interrogativo-). Dentre essas 9 palavras, estão as conjunções, que no caso das coordenativas, atraem facultativamente o pronome oblíquo átono, e no caso das SUBORDINATIVAS, como é o caso do enunciado, atraem OBRIGATORIAMENTE o pronome para perto de si. VAMOS À QUESTÃO?

    O bolso vazio do tempo se torna parte do nosso corpo quando o enchemos com vida” O PRONOME OBLÓQUO "O" ESTÁ ANTECEDIDO PELA CONJUNÇÃO QUANDO (SUBORDINATIVA) COM VALOR CONDICIONAL, E NÃO TEMPORAL.

    EXPRIME IDEIA DE: ...SE O ENCHEMOS DE VIDA.

    "A) Caso me empreste o dinheiro, pagarei a multa hoje mesmo". EXPRIME IDEIA DE: SE ME EMPRESTAR O DINHEIRO... GABARITO LETRA A

    B) Pedro lhe ofereceu uma vaga de emprego na empresa dele. O uso do pronome oblíquo após substantivos é facultativo.

    C) Alguém a viu saindo de forma suspeita do supermercado. O uso do pronome oblíquo após pronomes indefinidos é obrigatório (cuidado que os verbos formam locução verbal. Aí é outra explicação)

    D) As pessoas não se cuidam e ainda prejudicam os outros. O uso do pronome oblíquo após advérbios é obrigatório.

    Todas as alternativas estão corretas, todavia a única em que o pronome oblíquo foi empregado pelo mesmo motivo e da mesma forma que no enunciado foi na alternativa A.

  • Sem rodeios: A questão trata de colocação pronominal. O mais dfícil (e o que confundiu) foi interpretar o que a banca queria desde o início, já que não deixou claro que seria colocação pronominal.

    O bolso vazio do tempo se torna parte do nosso corpo quando o enchemos com vida” --- "quando" é conjunção subordinativa, atraindo o pronome oblíquo átono, ensejando próclise. Assim, para acertar a questão, devemos procurar nas alternativas algum caso de próclise por conta de conjunção subordinativa.

    Fatores de próclise: palavra negativa, advérbio, pronome indefinido, pronome relativo, pronome demonstrativo e conjunção subordinativa.

    A)Caso me empreste o dinheiro, pagarei a multa hoje mesmo. Conjunção subordinativa. Gabarito.

    B)Pedro lhe ofereceu uma vaga de emprego na empresa dele. ----- Substantivo.

    C) Alguém a viu saindo de forma suspeita do supermercado. ------- Pronome indefinido.

    D) As pessoas não se cuidam e ainda prejudicam os outros. -------- Palavra negativa.

  • Pra quem não entendeu, é simples: a banca queria uma alternativa que houvesse a próclise por conta da conjunção, assim como ocorreu no exemplo da banca...

  • eu entendi o que a banca pediu, mas pensei que "quando" fosse um advérbio de tempo

  • Não basta saber português, tem que ter telepatia para entender o que as bancas querem.

  • A banca apresentou no enunciado o emprego do pronome, entretanto cobrou a colocação do pronome.

    Há diferenças entre "classificação", "emprego" e "colocação" pronominal.

  • caso de próclise.... triste

  • Eu fui sorrindo e dei de cara na parede

  • Não entendi o erro do item C.