SóProvas


ID
5234920
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Suzano - SP
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

‘Somos cada vez menos felizes e produtivos porque estamos viciados na tecnologia’
[...]
O cotidiano digital descrito pela jornalista espanhola Marta Peirano, autora do livro El enemigo conoce el sistema (O inimigo conhece o sistema, em tradução livre), esconde na verdade algo nada trivial: um sequestro rotineiro de nossos cérebros, energia, horas de sono e até da possibilidade de amar no que ela chama de “economia da atenção”, movida por tecnologias como o celular. Nesse ciclo, os poderosos do sistema enriquecem e contam com os melhores cérebros do mundo trabalhando para aumentar os lucros enquanto entregamos tudo a eles.
O preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você oferece em troca”, diz a jornalista. Desde os anos 90, quando descobriu a cena dos hackers em Madri, até hoje, ela não parou de enxergar a tecnologia com um olhar crítico e reflexivo. Seu livro narra desde o início libertário da revolução digital até seu caminho para uma “ditadura em potencial”, que para ela avança aos trancos e barrancos, sem que percebamos muito. Marta Peirano foi uma das participantes do evento Hay Festival Cartagena, um encontro de escritores e pensadores que aconteceu na cidade colombiana entre 30 de janeiro e 2 de fevereiro. A seguir, leia a entrevista concedida à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
BBC News Mundo: Você diz que a “economia da atenção” nos rouba horas de sono, descanso e vida social. Por quê?
Marta Peirano: A economia da atenção, ou o capitalismo de vigilância, ganha dinheiro chamando nossa atenção. É um modelo de negócios que depende que instalemos seus aplicativos, para que eles tenham um posto de vigilância de nossas vidas. Pode ser uma TV inteligente, um celular no bolso, uma caixinha de som de última geração, uma assinatura da Netflix ou da Apple. E eles querem que você os use pelo maior tempo possível, porque é assim que você gera dados que os fazem ganhar dinheiro.
BBC News Mundo: Quais dados são gerados enquanto alguém assiste a uma série, por exemplo?
Peirano: A Netflix tem muitos recursos para garantir que, em vez de assistir a um capítulo por semana, como fazíamos antes, você veja toda a temporada em uma maratona. Seu próprio sistema de vigilância sabe quanto tempo passamos assistindo, quando paramos para ir ao banheiro ou jantar, a quantos episódios somos capazes de assistir antes de adormecer. Isso os ajuda a refinar sua interface. Se chegarmos ao capítulo quatro e formos para a cama, eles sabem que esse é um ponto de desconexão. Então eles chamarão 50 gênios para resolver isso e, na próxima série, ficaremos até o capítulo sete. 
BBC News Mundo: Os maiores cérebros do mundo trabalham para sugar nossa vida?
Peirano: Todos os aplicativos existentes são baseados no design mais viciante de que se tem notícia, uma espécie de caça-níquel que faz o sistema produzir o maior número possível de pequenos eventos inesperados no menor tempo possível. Na indústria de jogos, isso é chamado de frequência de eventos. Quanto maior a frequência, mais rápido você fica viciado, pois é uma sequência de dopamina. Toda vez que há um evento, você recebe uma injeção de dopamina — quanto mais eventos encaixados em uma hora, mais você fica viciado.
BBC News Mundo: Todo tuíte que leio, todo post no Facebook que chama minha atenção, toda pessoa no Tinder de quem gosto é um “evento”?
Peirano: São eventos. E, na psicologia do condicionamento, há o condicionamento de intervalo variável, no qual você não sabe o que vai acontecer. Você abre o Twitter e não sabe se vai retuitar algo ou se vai se tornar a rainha da sua galera pelos próximos 20 minutos. Não sabendo se receberá uma recompensa, uma punição ou nada, você fica viciado mais rapidamente. A lógica deste mecanismo faz com que você continue tentando, para entender o padrão. E quanto menos padrão houver, mais seu cérebro ficará preso e continuará, como os ratinhos na caixa de [B.F.] Skinner, que inventou o condicionamento de intervalo variável. O rato ativa a alavanca obsessivamente, a comida saindo ou não.
[...]
BBC News Mundo: Poderíamos nos caracterizar como viciados em tecnologia?
Peirano: Não somos viciados em tecnologia, somos viciados em injeções de dopamina que certas tecnologias incluíram em suas plataformas. Isso não é por acaso, é deliberado. Há um homem ensinando em Stanford (universidade) àqueles que criam startups para gerar esse tipo de dependência. Existem consultores no mundo que vão às empresas para explicar como provocá-la. A economia da atenção usa o vício para otimizar o tempo que gastamos na frente das telas.
[...]
BBC News Mundo: Essa conscientização, de entender como funciona, ajuda? É o primeiro passo?
Peirano: Acho que sim. Também percebo que o vício não tem nada a ver com o conteúdo dos aplicativos. Você não é viciado em notícias, é viciado em Twitter; não é viciado em decoração de interiores, é viciado em Pinterest; não é viciado em seus amigos ou nos seus filhos maravilhosos cujas fotos são postadas, você é viciado em Instagram. O vício é gerado pelo aplicativo e, quando você o entende, começa a vê-lo de maneira diferente. Não é falta de vontade: eles são projetados para oferecer cargas de dopamina, que dão satisfação imediata e afastam de qualquer outra coisa que não dá isso na mesma medida, como brincar com seu filho, passar tempo com seu parceiro, ir para a natureza ou terminar um trabalho — tudo isso exige uma dedicação, já que há satisfação, só que não imediata.
[...]
(Diana Massis, Da BBC News Mundo. 23 fevereiro 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-51409523.)

Considerando a substituição do segmento de texto grifado pelo o que está entre parênteses, o verbo que deverá permanecer no singular está em:

Alternativas
Comentários
  • A questão é de concordância e quer saber, considerando a substituição do segmento de texto grifado pelo o que está entre parênteses, em qual das alternativas abaixo o verbo deverá permanecer no singular. Vejamos:

     .

    REGRA BÁSICA da concordância verbal:

    O verbo concorda com o sujeito em número (singular e plural) e pessoa (1ª, 2ª e 3ª), estando o sujeito antes ou depois dele.

     .

    A)O preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você oferece em troca [...]” (o valor que se atribui as coisas)

    Certo. Aqui, caso o sujeito seja "o valor que se atribui às coisas", o verbo deverá ficar no singular para concordar com o núcleo do sujeito "valor": O valor que se atribui às coisas (= ele) É a quantidade de vida...

     .

    B)A lógica deste mecanismo faz com que você continue tentando, para entender o padrão.” (a organização e o planejamento de funcionamento)

    Errado. Se o sujeito for para o plural, o verbo também deverá ir para o plural: A organização e o planejamento de funcionamento (= eles) FAZEM com que você continue...

     .

    C) “[...] tudo isso exige uma dedicação, já que há satisfação, só que não imediata.” (brincar com seu filho, passar tempo com seu parceiro, ir para a natureza ou terminar um trabalho)

    Errado. Se o sujeito for para o plural, o verbo também deverá ir para o plural: Brincar com seu filho, passar tempo com seu parceiro, ir para a natureza ou terminar um trabalho EXIGEM uma dedicação, já que há satisfação...

    Cegalla, em sua Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, página 452, traz um caso especial de concordância verbal:

    NÚCLEOS DO SUJEITO UNIDOS POR "OU"

    O verbo irá para o plural se a ideia por ele expressa se referir ou puder ser atribuída a todos os núcleos do sujeito:

    "Era tão pequena a cidade, que um grito ou gargalhada forte a atravessavam de ponta a ponta." (ANíBAL MACHADO) [Tanto um grito como uma gargalhada atravessavam a cidade.]

     .

    D)O cotidiano digital descrito pela jornalista espanhola Marta Peirano, autora do livro El enemigo conoce el sistema (O inimigo conhece o sistema, em tradução livre), esconde na verdade algo nada trivial: […]” (as práticas corriqueiras do meio virtual abordadas)

    Errado. Se o sujeito for para o plural, o verbo também deverá ir para o plural: As práticas corriqueiras do meio virtual abordadas (= elas) [...] ESCONDEM na verdade algo nada trivial.

     .

    Referência: CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, 48.ª edição, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

     .

    Gabarito: Letra A

  • Na letra C o sujeito não é oracional? Como o verbo flexiona. Não é pra substituir "tudo isso" por "Brincar..., passar..., ir... ou terminar exige ...."

    Ou estou errado?

  • Gabarito letra: A

    A)“O preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você oferece em troca[..]"

    Sujeito: 'O preço de qualquer coisa' Núcleo do sujeito: 'preço'

    Substituição proposta: 'o valor que se atribui as coisas'

    O valor que se atribui as coisas é a quantidade de vida que você oferece em troca. Correto!

    B)“A lógica deste mecanismo faz com que você continue tentando, para entender o padrão.” 

    Sujeito: 'A lógica deste mecanismo' Núcleo do sujeito: 'lógica'

    Substituição proposta: 'a organização e o planejamento de funcionamento'

    A organização e o planejamento de funcionamento fazem com que você continue tentando, para entender o padrão. Errado!

    C)“[...] tudo isso exige uma dedicação, já que há satisfação, só que não imediata.”

    'Tudo' é um aposto resumidor. Nesses casos, o verbo fica no singular. Na proposta de alteração o verbo vai para o plural, pois é um sujeito composto. Brincar com seu filho, passar tempo com seu parceiro, ir para a natureza ou terminar um trabalho exigem uma dedicação, já que há satisfação, só que não imediata.” Errado!

    D)“O cotidiano digital descrito pela jornalista espanhola Marta Peirano, autora do livro El enemigo conoce el sistema (O inimigo conhece o sistema, em tradução livre), esconde na verdade algo nada trivial: […]” 

    Sujeito: 'O cotidiano digital' Núcleo do sujeito: 'cotidiano'

    Substituição proposta: 'as práticas corriqueiras do meio virtual abordadas'

    As práticas corriqueiras do meio virtual abordadas descritas pela jornalista espanhola Marta Peirano, autora do livro El enemigo conoce el sistema (O inimigo conhece o sistema, em tradução livre), escondem na verdade algo nada trivial: […]” Errado!

    Espero ter ajudado.

    Bons estudos!

  • Também analisei dessa forma .. sujeito oracional

    qual o erro da alternativa C ?

  • Quando os núcleos forem infinitivos antônimos, formando um sujeito oracional composto, o verbo concordará na terceira pessoa do plural.

    Ex.: Viver e morrer devem ser uma realidade conhecida.

    Se esses infinitivos vierem modificados por um artigo, isso significa que são substantivados, o que nos leva para a regra básica de concordância no plural, com ambos os núcleos.

    Ex.: O viver e o morrer devem ser uma realidade conhecida.

    Por outro lado, se esses infinitivos que formam um sujeito oracional não forem antônimos, segue-se a regra geral do sujeito oracional, que é a concordância no singular.

    Ex.: Comer, rezar e amar se tornou meu lema.

    A alternativa "c" também está correta.

  • Resolvi de forma diferente, diga-me se estiver incorreto. As regras de concordância nominal são diferentes de acordo com a localização do advérbio, logo se esse vier antes concorda com o mais próximo, por outro lado se vier depois concorda com o todo ou com o mais próximo.

    Em caso de concordância verbal, se o verbo vier antes, concorda com o mais próximo ou com o todo, doutro lado, se vier depois, deve concordar com o todo.

  • ITEM A > FAÇA A TROCA. DEPOIS, ENCONTRE O SUJEITO. O VERBO CONCORDA COM O NÚCLEO DO SUJEITO. SUJEITO NO SIGULAR, VERBO NO SINGULAR

  • Gente, só eu vi o erro da A por causa da falta de crase em "o valor que se atribui ÀS coisas"?

  • HA DUAS RESPOSTAS. TANTO A LETRA A QUANTO A LETRA C ESTÃO CORRETAS. QUESTÃO DEVERIA SER ANULADA. 

    EXPLICAÇÃO: NA LETRA C, AO SUBSTITUIR POR "Brincar com seu filho, passar tempo com seu parceiro, ir para a natureza ou terminar um trabalho EXIGE.... " o verbo deve permanecer no singular, pois o sujeito é oracional.

  • O preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você oferece em troca [...]” (o valor que se atribui as coisas)

    OK. Ambos são sujeitos simples, devendo o verbo permanecer no singular.

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    A lógica deste mecanismo faz com que você continue tentando, para entender o padrão.” (a organização e o planejamento de funcionamento)

    Errado. A proposta da alternativa traz um sujeito composto, ao contrário da frase original.

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    “[...] tudo isso exige uma dedicação, já que há satisfação, só que não imediata.” (brincar com seu filho, passar tempo com seu parceiro, ir para a natureza ou terminar um trabalho)

    Errado. A proposta da alternativa traz um sujeito composto, ao contrário da frase original.

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    O cotidiano digital descrito pela jornalista espanhola Marta Peirano, autora do livro El enemigo conoce el sistema (O inimigo conhece o sistema, em tradução livre), esconde na verdade algo nada trivial: […]” (as práticas corriqueiras do meio virtual abordadas)

    Errado. A proposta da alternativa traz um sujeito composto, ao contrário da frase original.

  • Letra A ,sujeito simples, continua no singular.