SóProvas


ID
5248720
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Marília - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto para responder à questão

No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é

Marcelo Leite

  A pele é morena, pega cor fácil no sol. O cabelo grosso, que já foi mais preto, espeta rápido quando se corta curto. Quase sem pelos no torso, barba rala e falhada, olhos de um castanho escuro, altura mediana.
 O biótipo de brasileiro da gema se estriba no DNA. Há 32% de conteúdo genético característico de ameríndios em seus cromossomos. Com 19% de origem africana na mistura, minha ascendência europeia fica em minoria, apesar dos sobrenomes Nogueira e Leite, Camargo e Toledo.
  Queria mesmo era chamar Aikanã, Aikewara, Akuntsu, Amanayé, Amondawa, Anacé, Anambé, Aparai, Apiaká, Apinayé, Apurinã, Aranã, Arapaso, Arapium, Arara, Araweté, Arikapu, Aruá, Ashaninka, Atikum, Asurini, Awá ou Aweti.
  Ou então Baniwa, Barasana, Bororo. Canela, Chiquitano, Cinta-Larga. Deni, Desana, Dow.
  Quem sabe Enawenê-Nawê. Fulni-ô. Gamela. Huni Kuin. Ikpeng. Jarawara. Kantaruré. Menky Manoki. Ñandeva. Oro Win. Palikur. Rikbaktsa. Shanenawa. Tumbalalá. Umutina. Uru-Eu-Wau-Wau. Wauja. Xokleng. Xingu. Yuhupde. Zoró.
  Uma pequena amostra da diversidade indígena que sobrevive, hoje, no Brasil. São 254 desses nomes sonoros na lista. Muito provavelmente ela era ainda mais rica e poética antes da chegada das caravelas, do ferro e do sarampo.
  Falam-se nas aldeias mais de 150 línguas e dialetos, 2% do total mundial, estimado em cerca de 7000 idiomas. Antes do século 16, acredita-se, teriam sido mais de 1000, no atual território nacional. Bastaram 519 anos para extinguir 850 delas.
  O extermínio não impediu a miscigenação, ao contrário. Os portugueses se serviam das mulheres nativas ou das pobres escravas de África, quase sempre de modo forçado ou imposto; terá havido também algum amor.
  Sem nunca ter sido formalmente racista, o país continua segregado. A muito custo os negros conquistaram certo espaço na TV e nas capas de revista, quase nenhum nas baladas (exceção feita a jogadores de futebol e artistas). E os índios?
  Seguem invisíveis.
  O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, numa de suas frases sempre antológicas, diz que todo brasileiro é índio – exceto quem não é.

(Marcelo Leite, No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é. Folha de S. Paulo: 1o .09.2019. Adaptado)

De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, a regência foi respeitada em

Alternativas
Comentários
  • a. Os jogadores de futebol e artistas negros ocupam espaço na mídia, mas discordam DA segregação racista informal, no Brasil

    b. A invisibilidade dos povos indígenas remonta AO passado colonial, já a partir do século XVI.

    c. Paradoxalmente, o extermínio conviveu com a miscigenação de portugueses com mulheres nativas e escravas africana

    d. Ao declarar o biótipo de brasileiro em detrimento DOS sobrenomes europeus de seus ascendentes, Marcelo Leite define a própria etnia.

    e. “Brasileiro da gema” é expressão popular usada para se referir à legitimidade original da nacionalidade brasileira.

  • Alternativa C

    A) Os jogadores de futebol e artistas negros ocupam espaço na mídia, mas discordam com a segregação racista informal, no Brasil.

    • O verbo "discordar" é regido pela preposição "DE"
    • O correto seria: "discordam da segregação..."

    B) A invisibilidade dos povos indígenas remonta o passado colonial, já a partir do século XVI. 

    • O verbo "remontar" é regido pela preposição "A"
    • O correto seria: "remonta ao passado colonial..."

    C) Paradoxalmente, o extermínio conviveu com a miscigenação de portugueses com mulheres nativas e escravas africanas...

    D) Ao declarar o biótipo de brasileiro em detrimento aos sobrenomes europeus de seus ascendentes, Marcelo Leite define a própria etnia. 

    • A regência estaria correta com o usa da preposição "DE"
    • O correto seria: "em detrimento dos sobrenomes..."

    E) “Brasileiro da gema” é expressão popular usada para se referir da legitimidade original da nacionalidade brasileira.

    • O verbo "referir" é regido pela preposição "A"
    • O correto seria: "para se referir à legitimidade..."
  • GABARITO: C

    a) Os jogadores de futebol e artistas negros ocupam espaço na mídia, mas discordam com a segregação racista informal, no Brasil. → Errado. Quem discorda, discorda DE algo (da segregação)

    b) A invisibilidade dos povos indígenas remonta o passado colonial, já a partir do século XVI. → Errado. Remonta A algum lugar (remonta AO passado)

    c) Paradoxalmente, o extermínio conviveu com a miscigenação de portugueses com mulheres nativas e escravas africanas... → Correto. Conviveu COM alguém (conviveu com a miscigenação, conviveu com a sogra rsrs)

    d) Ao declarar o biótipo de brasileiro em detrimento aos sobrenomes europeus de seus ascendentes, Marcelo Leite define a própria etnia. → Errado. Em detrimento DE alguém (dos sobrenomes)

    e) “Brasileiro da gema” é expressão popular usada para se referir da legitimidade original da nacionalidade brasileira. → Errado. Quem se refere, se refere A algo (à legitimidade). O correto é: "...para se referir À legitimidade".

    • Macete para crase: Troque por palavra masculina, se aparecer "ao", coloque crase na palavra feminina (nunca se esqueça dos casos proibidos e dos especiais). Veja: "para se referir AO boi" (Ah, mas não faz sentido! Eu sei, a gente só colocou "boi" porque é palavra masculina e precisamos observar se apareceu AO, ok? rsrs). Apareceu, né? Então, na palavra feminina, vai crase.

    Espero ter ajudado.

    Bons estudos! :)

  • regência verbal trata da transitividade de verbo, que pode ser intransitivo (dispensa complementos verbais), transitivo direto (requer complemento verbal direto), transitivo indireto (requer complemento verbal indireto) ou ainda bitransitivo (requer concomitantemente um complemento verbal direto e outro indireto). Nestas duas últimas, o verbo reclama preposição (a, de, em, por, sobre, etc.)

    Por seu turno, a regência nominal difere da verbal, pois o teor é tratar da relação entre termos regentes (adjetivo, advérbio e substantivo) e regidos (complementos nominais), feita também por meio de preposições.

    a) Os jogadores de futebol e artistas negros ocupam espaço na mídia, mas discordam com a segregação racista informal, no Brasil.

    Incorreto. Consoante Celso Pedro Luft, em Dicionário Prático de Regência Verbal, p.214, o verbo "discordar", no caso em tela, é transitivo indireto e pode reger duas preposições: "de" ou "em". Correções: "(...), mas discorda da segregação (...)" ou "(...), mas discordam na segregação (...)";

    b) A invisibilidade dos povos indígenas remonta o passado colonial, já a partir do século XVI.

    Incorreto. Consoante Celso Pedro Luft, em Dicionário Prático de Regência Verbal, p.448, o verbo "remontar", tendo o sentido de "referir-se ou aludir a coisas ou pessoas antigas ou de outra época", é transitivo indireto e rege a preposição "a". Correção: "A invisibilidade dos povos indígenas remonta ao passado colonial";

    c) Paradoxalmente, o extermínio conviveu com a miscigenação de portugueses com mulheres nativas e escravas africanas...

    Correto. Atente para o verbo "conviver". Este, tendo a acepção de "viver com outrem em familiaridade; ter convivência", é transitivo indireto e rege a preposição "com" ou, em conjunto, as preposições "com" e "em" (p.ex.: convivi com ele num internato);

    d) Ao declarar o biótipo de brasileiro em detrimento aos sobrenomes europeus de seus ascendentes, Marcelo Leite define a própria etnia.

    Incorreto. O substantivo "detrimento" só se usa na locução prepositiva "em detrimento de" e rege, em consonância com Celso Pedro Luft, em Dicionário Prático de Regência Nominal, p.172, apenas a preposição "de". Correção: (...) em detrimento dos sobrenomes...";

    e) “Brasileiro da gema” é expressão popular usada para se referir da legitimidade original da nacionalidade brasileira.

    Incorreto. Consoante Celso Pedro Luft, em Dicionário Prático de Regência Verbal, p.441, o verbo "referir-se", no sentido de "aludir; reportar-se", é pronominal e transitivo direto e indireto, regendo preposição "a". Correção: "(...) expressão popular usada para se referir à legitimidade (...)." Obs.: marca-se o fenômeno crásico porque a preposição "a" se aglutina ao artigo "a", determinante do substantivo "legitimidade".

    Letra C

  • Esta é uma questão que exige conhecimento de regência nominal e verbal. É preciso destacar qual alternativa está correta do ponto de vista da regência.

    A) Os jogadores de futebol e artistas negros ocupam espaço na mídia, mas discordam com a segregação racista informal, no Brasil.
    Incorreta. O verbo "discordar" é regido pela preposição de. Quem discorda, discorda de alguma coisa ou de alguém. O correto seria "Os jogadores de futebol e artistas negros ocupam espaço na mídia, mas discordam da segregação racista informal, no Brasil."

    B) A invisibilidade dos povos indígenas remonta o passado colonial, já a partir do século XVI. 
    Incorreto. O verbo "remontar" é regido pela preposição a. Quem remonta, remonta a algo ou a alguém. O correto seria "A invisibilidade dos povos indígenas remonta ao passado colonial, já a partir do século XVI."

    C) Paradoxalmente, o extermínio conviveu com a miscigenação de portugueses com mulheres nativas e escravas africanas...
    Correto. O verbo "conviver" exige a preposição com. Quem convive, convive com algo ou alguém.

    D) Ao declarar o biótipo de brasileiro em detrimento aos sobrenomes europeus de seus ascendentes, Marcelo Leite define a própria etnia. 
    Incorreto. A regência nominal de "detrimento" é "em detrimento de". O correto seria "Ao declarar o biótipo de brasileiro em detrimento dos sobrenomes europeus de seus ascendentes, Marcelo Leite define a própria etnia."

    E) “Brasileiro da gema" é expressão popular usada para se referir da legitimidade original da nacionalidade brasileira. 
    Incorreto. Quem se refere, se refere a alguma coisa ou a alguém. Sendo assim, o correto seria "Brasileiro da gema" é expressão popular usada para se referir à legitimidade original da nacionalidade brasileira.

    Gabarito da Professora: Letra C .