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ID
5256631
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
PM-TO
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1A1-I

  Apenas dez anos atrás, ainda havia em Nova York (onde moro) muitos espaços públicos mantidos coletivamente nos quais cidadãos demonstravam respeito pela comunidade ao poupá-la das suas intimidades banais. Há dez anos, o mundo não havia sido totalmente conquistado por essas pessoas que não param de tagarelar no celular. Telefones móveis ainda eram usados como sinal de ostentação ou para macaquear gente afluente. Afinal, a Nova York do final dos anos 90 do século passado testemunhava a transição inconsútil da cultura da nicotina para a cultura do celular. Num dia, o volume no bolso da camisa era o maço de cigarros; no dia seguinte, era um celular. Num dia, a garota bonitinha, vulnerável e desacompanhada ocupava as mãos, a boca e a atenção com um cigarro; no dia seguinte, ela as ocupava com uma conversa importante com uma pessoa que não era você.
Num dia, viajantes acendiam o isqueiro assim que saíam do avião; no dia seguinte, eles logo acionavam o celular. O custo de um maço de cigarros por dia se transformou em contas mensais de centenas de dólares na operadora. A poluição atmosférica se transformou em poluição sonora. Embora o motivo da irritação tivesse mudado de uma hora para outra, o sofrimento da maioria contida, provocado por uma minoria compulsiva em restaurantes, aeroportos e outros espaços públicos, continuou estranhamente constante. Em 1998, não muito tempo depois que deixei de fumar, observava, sentado no metrô, as pessoas abrindo e fechando nervosamente seus celulares, mordiscando as anteninhas. Ou apenas os segurando como se fossem a mão de uma mãe, e eu quase sentia pena delas. Para mim, era difícil prever até onde chegaria essa tendência: Nova York queria verdadeiramente se tornar uma cidade de viciados em celulares deslizando pelas calçadas sob desagradáveis nuvenzinhas de vida privada, ou de alguma maneira iria prevalecer a noção de que deveria haver um pouco de autocontrole em público? 

Jonathan Franzen. Como ficar sozinho. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012, p. 17-18 (com adaptações).

Depreende-se dos sentidos do texto 1A1-I que a expressão “suas intimidades banais”, presente no primeiro período, refere-se

Alternativas
Comentários
  • A

    Há dez anos, o mundo não havia sido totalmente conquistado por essas pessoas que não param de tagarelar no celular. 

  • GAB:A

    VEJAMOS,

    Fragmento do texto:

    1.  Apenas dez anos atrás, ainda havia em Nova York (onde moro) muitos espaços públicos mantidos coletivamente nos quais cidadãos demonstravam respeito pela comunidade ao poupá-la das suas intimidades banais.
    2. Há dez anos, o mundo não havia sido totalmente conquistado por essas pessoas que não param de tagarelar no celular.
    3. essas é anafórico e retoma o termo anterior.
  • Gabarito: A

    A expressão “suas intimidades banais” refere-se ao conteúdo das conversas das pessoas ao celular. Isso é ratificado no segundo período do texto, veja: “… por essas pessoas que não paravam de tagarelar no celular.”

  • Nesta questão o conteúdo cobrado refere-se aos mecanismos de coesão textual, mais precisamente a anáfora. A anáfora é um recurso linguístico para retomar uma informação que já havia sido trabalhada anteriormente no texto. Esse recurso auxilia na coesão do texto, pois, dessa forma, repetições são evitadas.

     

    Dito isto, vamos à resolução.

     

    O enunciado nos propõe a seguinte situação:

     

    Depreende-se dos sentidos do texto 1A1-I que a expressão “suas intimidades banais", presente no primeiro período, refere-se.

     

    Uma maneira fácil de resolver a questão é lendo o que vem antes da expressão suas intimidades, pois, geralmente, o pronome possessivo suas é um recurso anafórico, isto é, retoma uma informação já dada anteriormente no texto. Transcrevo, aqui, fragmento do texto associado que vai até a expressão:

     

    Apenas dez atrás, ainda havia em Nova York (onde moro) muitos espaços públicos mantidos coletivamente nos quais os cidadãos demonstravam respeito pela comunidade ao poupá-la de suas intimidades banais.

     

    Uma dúvida poderia surgir aqui: afinal, o pronome suas está retomando o termo comunidade (que está mais próximo) ou o vocábulo cidadãos (que está mais distante). Pois bem, o contexto não permite que associemos o pronome possesivo suas à comunidade, até porque a comunidade está sendo poupada de algo. E de que a comunidade está sendo poupada? De conversas banais? E quem costuma ter essas conversas banais, de acordo com o texto? Os cidadãos.

     

    Além disso, a concordância nominal também ajuda a responder, visto que tanto cidadãos quando suas estão no plural.

     

    Sendo assim, o pronome suas retoma, anaforicamente, a palavra cidadãos.

     

    Gabarito do Professor: Letra A.