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ID
5256655
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
PM-TO
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1A1-I

  Apenas dez anos atrás, ainda havia em Nova York (onde moro) muitos espaços públicos mantidos coletivamente nos quais cidadãos demonstravam respeito pela comunidade ao poupá-la das suas intimidades banais. Há dez anos, o mundo não havia sido totalmente conquistado por essas pessoas que não param de tagarelar no celular. Telefones móveis ainda eram usados como sinal de ostentação ou para macaquear gente afluente. Afinal, a Nova York do final dos anos 90 do século passado testemunhava a transição inconsútil da cultura da nicotina para a cultura do celular. Num dia, o volume no bolso da camisa era o maço de cigarros; no dia seguinte, era um celular. Num dia, a garota bonitinha, vulnerável e desacompanhada ocupava as mãos, a boca e a atenção com um cigarro; no dia seguinte, ela as ocupava com uma conversa importante com uma pessoa que não era você.
Num dia, viajantes acendiam o isqueiro assim que saíam do avião; no dia seguinte, eles logo acionavam o celular. O custo de um maço de cigarros por dia se transformou em contas mensais de centenas de dólares na operadora. A poluição atmosférica se transformou em poluição sonora. Embora o motivo da irritação tivesse mudado de uma hora para outra, o sofrimento da maioria contida, provocado por uma minoria compulsiva em restaurantes, aeroportos e outros espaços públicos, continuou estranhamente constante. Em 1998, não muito tempo depois que deixei de fumar, observava, sentado no metrô, as pessoas abrindo e fechando nervosamente seus celulares, mordiscando as anteninhas. Ou apenas os segurando como se fossem a mão de uma mãe, e eu quase sentia pena delas. Para mim, era difícil prever até onde chegaria essa tendência: Nova York queria verdadeiramente se tornar uma cidade de viciados em celulares deslizando pelas calçadas sob desagradáveis nuvenzinhas de vida privada, ou de alguma maneira iria prevalecer a noção de que deveria haver um pouco de autocontrole em público? 

Jonathan Franzen. Como ficar sozinho. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012, p. 17-18 (com adaptações).

No último período do texto 1A1-I, com o uso do diminutivo no vocábulo “nuvenzinhas”, o autor

Alternativas
Comentários
  • A

    DESPREZO COM A PALAVRA

  • pm pi 2021 pra cima R- A
  • Depreciação- desvalorização da qualidade, da importância; desprezo, menosprezo, desqualificação.
  • O autor do texto deixa sua crítica explícita ao uso excessivo de celulares. Ele chama as pessoas de viciados em celulares. Compara, de certa forma, o celular à nicotina (ambos são vícios) e fala em "desagradáveis nuvenzinhas de vida privada". Vejam que ele não está sendo afetuoso e nem falando que a "nuvem" é pequena, até porque o termo "nuvem", nesse contexto, está no sentido figurado. Ele está, realmente, criticando, ironizando, desdenhando.

    Portanto, o nosso gabarito é a letra A (expressa depreciação). 

    Profa Sthefanny Alcântara

  • Esta é uma questão de interpretação textual e exige, portanto, leitura atenta do texto. O texto aborda a transformação social decorrente do início da popularização do telefone celular em Nova York.

    No trecho "Para mim, era difícil prever até onde chegaria essa tendência: Nova York queria verdadeiramente se tornar uma cidade de viciados em celulares deslizando pelas calçadas sob desagradáveis nuvenzinhas de vida privada, ou de alguma maneira iria prevalecer a noção de que deveria haver um pouco de autocontrole em público?", o autor utiliza o termo "nuvenzinhas" não no seu sentido literal de “nuvens" pequenas no céu, mas para indicar que havia pequenos espaços de vida privada não solicitadas. Como o sentido empregado é metafórico, é possível eliminar as alternativas C, D e E.

    Importante notar que, ao retornar ao texto, antes do substantivo “nuvenzinhas" há o adjetivo “desagradáveis". As nuvens de vida privada são desagradáveis para o autor do texto, já que ele considera esse tipo de interação social em público um incômodo. Logo, o termo “nuvenzinhas" não demonstra afeto (alternativa B), mas expressa depreciação. O gabarito correto é a alternativa A.

    Gabarito da Professora: Letra A .