SóProvas


ID
5256682
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
PM-TO
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1A2-II

   Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, a beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. A cachorra Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto. Agora, enquanto parava, dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares, estranhava não ver sobre o baú de folha a gaiola pequena onde a ave se equilibrava mal. Fabiano também às vezes sentia falta dele, mas logo a recordação chegava. Tinha andado a procurar raízes, à toa: o resto da farinha acabara, não se ouvia um berro de rês perdida na caatinga. Sinha Vitória, queimando o assento no chão, as mãos cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo numa confusão. Despertara-a um grito áspero, vira de perto a realidade e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula. Resolvera de supetão aproveitá-lo como alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a família falava pouco. E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas. O louro aboiava, tangendo um gado inexistente, e latia arremedando a cachorra.
    As manchas dos juazeiros tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. As alpercatas dele estavam gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos, gretavam-se e sangravam.
   Num cotovelo do caminho, avistou um canto de cerca, encheu-o a esperança de achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz saiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar a força.
   Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira, chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra. 

Graciliano Ramos. Vidas secas. 107.ª edição (com adaptações).

De acordo com o texto 1A2-II, após a morte do papagaio, Fabiano e sua família

Alternativas
Comentários
  • linha 8 " Ordinariamente a família falava pouco."

    E

  • E

    (E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas.)

  • Que venham mais questões como essa, amém!

  • Resolvera de supetão aproveitá-lo como alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a família falava pouco. E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas.

    Gab. E

  • Esse livro é otimo. Quem não leu, leia!

  • a baleia comeu! depois eles comeram denovo o papagaio?

  • Nesta questão o concurseiro deve demonstrar que sabe localizar informações no texto e relacioná-las, de modo a fazer uma interpretação correta. Sempre faço questão de falar a respeito da importância da leitura, pois é por meio dela que adquirimos conhecimento. Mas não basta lermos apenas aquilo que nos agrada. A leitura é um desafio e textos literários, geralmente, oferecem uma dificuldade um pouco maior do que outros tipos de texto. O importante é não deixar de ler.

     

    Dito isto, vamos à resolução.

     

    O enunciado nos diz o seguinte:

     

    De acordo com o texto 1A2-II, após a morte do papagaio, Fabiano e sua família.

     

    Analisando as alternativas, temos:

     

    A) criaram coragem para seguir viagem. Incorreta. Fabiano e sua família iniciaram a viagem antes da morte do papagaio. O fato de a ave ter morrido não interferiu na disposição dos retirantes para viajar.

     

    B) arrependeram-se de ter comido a ave. Incorreta. O texto nos diz que ocorreu exatamente o contrário, como fica claro no trecho em que Sinhá Vitória justifica o ato de comerem o papagaio: “Despertara-a um grito áspero, vira de perto a realidade e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula. Resolvera de supetão aproveitá-lo como alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil".

     

    C) deixaram de sentir fome. Incorreta. Mas, fiquem atentos, pois esta alternativa pode induzir ao erro. De fato, como a família se alimentou do papagaio, o leitor pode vir a pensar que o problema da fome havia sido resolvido. Porém, trata-se de uma família de retirantes e o texto descreve bem as condições e penúria em que eles vivem. Sendo assim, eles não poderiam ter deixado de sentir fome.

     

    D) sentiram-se mais felizes. Incorreta. Esta alternativa é daquelas que podem ser eliminadas de cara, afinal, ninguém fica feliz com a morte de um animal de estimação.

     

    E) passaram a falar ainda menos que já falavam. Correta. Esta informação está no seguinte trecho do texto: “E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas".

     

    Gabarito do Professor: Letra E.

  • NO TEXTO:

    E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas.

    #ESTUDAGUERREIRO

    FÉ NO PAI QUE SUA APROVAÇÃO SAI !