SóProvas


ID
5379151
Banca
FAUEL
Órgão
Prefeitura de Bela Vista da Caroba - PR
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Minha redação do cursinho cruzou o mundo
como se fosse do Verissimo

     Era o meu segundo vestibular para medicina. Estava na minha aula preferida — não pelo tema, mas pelo professor. Valter era o nome dele, um jornalista que decidiu como carreira ajudar adolescentes não só a escrever, mas a pensar. Naquele dia, ele mostrou a imagem de um pêndulo. A ideia era refletir sobre como o equilíbrio nos impede de viver os extremos.
     Por coincidência, a minha redação para aquele assunto já estava pronta. Havia escrito no dia anterior um texto que decidi chamar de “Quase”. Arranquei a folha do meu caderno, dobrei e passei para a frente. Da última fila à primeira, o bilhete chegou até o professor. 
     “Posso ler em voz alta?”, ele perguntou.
    O que aconteceu naquele instante? Nada. Recebi um elogio, e algumas meninas do cursinho pediram para guardar uma versão do texto, que eu copiei à mão. Era 2002 e eu ainda demoraria a descobrir que o acaso nem sempre acontece de repente. No meu caso, o destino agiu devagar.
   Quatro anos depois, já na quarta fase da faculdade de medicina, em vez de felicíssima pela oportunidade de ingressar em uma carreira que traz tanto prestígio, eu divertia as minhas colegas com o que escrevia quando estava entediada. Rezava — coisa que eu não faço sempre — por um sinal.
   O universo me respondeu nas páginas do jornal O Globo, na edição de Páscoa, em uma coluna que dizia assim: “Eu gostaria de encontrar o verdadeiro autor do ‘Quase’ para agradecer a glória emprestada e para lhe dar um recado. No Salão do Livro de Paris, ganhei da autora um volume de textos e versos brasileiros muito bem traduzidos para o francês com uma surpresa: eu estava entre Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e outros escolhidos adivinha com que texto? Em francês, ficou ‘Presque’.”
  Quem me procurava era Luis Fernando Verissimo, a quem a autoria daquele punhado de palavras que saíram de uma sala de aula e se espalharam pelo mundo vinha sendo atribuída. Na semana seguinte, o escritor divulgou o meu nome e, para mim, a história terminava aí.  
   Depois de desfeito o engano, no entanto, passei a receber muitas mensagens de pessoas dizendo que a minha redação tinha mudado as suas vidas, ajudado a continuar ou terminar o casamento, a trocar de trabalho e a escolher uma profissão. “Eu carrego seu texto como um amuleto”, me disseram. 
     O “Quase” foi o meu grande acaso. Eu não sei quais são as chances de uma folha de caderno precisar chegar tão longe para ajudar o próprio autor, mas o que eu sei é que essa chance existe. 
    Conversar com tanta gente corajosa me motivou a buscar uma vida menos morna e resistir à tentação de escolher por medo. Eu, que iria ser médica, me tornei jornalista. Troquei Florianópolis pela Austrália. Incluí na minha família brasileira um amor indiano.
    Ao longo desses anos, o “Quase” virou letra de música, tatuagem, rap na Guiana Francesa, espetáculo de dança, questão de vestibular, de concurso público e até anúncio de funerária. Fez parte das turnês da Ana Carolina e também foi lido pela Ana Maria Braga. O texto tem sido usado em escritórios de psicologia, em teatros de colégio e foi traduzido para diversas línguas espontaneamente. 
    Até hoje eu recebo as mensagens mais amáveis de gente que encontrou força ou conforto nas minhas palavras. O que essas pessoas talvez não saibam é que elas são, genuinamente, a minha maior inspiração.

Sarah Westphal Trabalha com Marketing e mora em Central Coast, na Austrália (Casos do Acaso. Folha de São Paulo, 23/05/2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/casos-do-acaso/2021/05/minha-redacao-do-cursinho-cruzou-o-mundo-comose-fosse-do-verissimo.shtml)

Assinale a alternativa em que todas as palavras estão escritas de forma CORRETA.

Alternativas
Comentários
  • O leitor reestabeleu o contato social assim que finalizou a leitura a cerca da vida e obra de Clarice Lispector.

    Paralizaram o bairro com a realização de um multirão de doações de livros para a biblioteca da escola.

    O escritor decidiu reinvidicar explicações, fazendo juz ao seu direito de saber a verdade.

    Coincidiu do leitor encontrar sua escritora favorita durante a viagem para o exterior

  • A) O leitor reestabeleu o contato social assim que finalizou a leitura a cerca da vida e obra de Clarice Lispector.

    --> A palavra reestabelecer está registrada no vocabulário ortográfico da Academia Brasileira de Letras e em alguns dicionários como a forma não preferencial de restabelecer.

    B) Paralizaram o bairro com a realização de um multirão de doações de livros para a biblioteca da escola.

    --> Paralisaram vem do verbo paralisar.

    --> A grafia correta é mutirão. Não tem a consoante L.

    C) O escritor decidiu reinvidicar explicações, fazendo juz ao seu direito de saber a verdade.

    --> A forma correta de escrita da palavra é reivindicar. A consoante N fica na sílaba -vin.

    --> A palavra jus é com S no final.

    D) Coincidiu do leitor encontrar sua escritora favorita durante a viagem para o exterior.

    --> Alternativa correta.

  • Letra D

    Gente, o erro da alternativa A não é a palavra reestabelecer, mas sim a expressão "a cerca de (próximo de) " que deveria está grafada assim: acerca de (a respeito de).

    A palavra reestabelecer está registrada no Vocabulário ortográfico da Academia Brasileira de Letras e em alguns dicionários como a forma não preferencial de restabelecer. Assim, restabelecer é a forma mais correta, utilizada e socialmente aceita.

  • "do leitor": um clássico exemplo de sujeito preposicionado. Pode Arnaldo?