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ID
5415454
Banca
SELECON
Órgão
Câmara de Cuiabá - MT
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto l ( Texto para a questão)

Instintos e descivilização

Quão robusta é a ordem civilizada ocidental? A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça. O padrão é conhecido: situações de conflito armado, cataclismos naturais e colapso econômico agudo – como, por exemplo, a hiperinflação alemã no início dos anos 1920; o blecaute que atingiu Nova York no outono de 1965; a guerra civil iugoslava da década de 1990; ou a passagem do furacão Katrina por New Orleans em meados de 2005 – revelam a fragilidade da fina superfície de civilidade e decoro sobre a qual assenta a nossa civilização. Sob impacto do abalo provocado por desastres como esses , o comportamento das pessoas sofre uma drástica mutação: enquanto alguns, em geral poucos, agem de forma solidária e até mesmo heroica, a maior parte da população atingida regride a um estado de violência e selvageria no qual a lógica do “salve-se quem puder” deságua na rápida escalada dos furtos, assaltos, saques, crimes, estupros e vandalismo. Quase que num piscar de olhos, o cordato cidadão civilizado – “casado, fútil, cotidiano e tributável” – se transforma em besta feroz, capaz das piores atrocidades. – Como entender o perturbador fenômeno? A interpretação usual propõe o modelo hobbesiano. O ser humano no fundo é um animal selvagem e terrível. Remova os sustentáculos elementares da ordem civilizada; dispa a camisa de força social; suspenda, ainda que brevemente, a vigilância e a ameaça de punição aos infratores do código legal, e, em pouco tempo, retrocedemos ao “estado natural hobbesiano” e à “guerra de todos contra todos”. O civilizado sem máscara da civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa, sem amarras nem recalques, como que de volta à selva e aos estágios da evolução em que as faculdades de inibição erguidas ao longo do processo civilizatório dormiam ainda no embrião da mente. Os episódios de regressão à barbárie seriam, em suma, o psiquismo arcaico do animal humano posto a nu. – O modelo hobbesiano poderia ter tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento. Que a regressão à barbárie revele alguma coisa do nosso psiquismo arcaico não há por que duvidar. Mas o que vem à tona no caso não é o “estado de natureza” do mundo pré-civilizado ou o animal homem tal como a evolução o teria produzido – o que vem à tona é o bicho-homem descivilizado, ou seja, o civilizado que se vê repentinamente fora da jaula e apto a dar livre curso aos impulsos e instintos naturais tolhidos e asfixiados pela ordem civilizada. O descivilizado é o civilizado à solta: livres das amarras e restrições da vida comum mas portador de um psiquismo arcaico que foi pesadamente macerado e em larga medida deformado pela renúncia instintual imposta pelo processo civilizatório. A ferocidade que tomou conta dos conquistadores europeus no Novo Mundo e o surto de bestialidade fascista que varreu a Europa no século passado são exemplos extremos dessa realidade. O equívoco do modelo hobbesiano é confundir o homem descivilizado feito lobo do homem – ávido de desafogo e revide contra tudo e contra todos – com um suposto estado primitivo ou de pura natureza do animal. – “Você pode expelir a natureza com um varapau pontiagudo”, adverte Horácio, “mas ela sempre retornará.” A verdade do poeta, “nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir”. Mas à luz do exposto acima não seria talvez de todo impróprio emendar: a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão.

Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

Na frase “A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça”, a expressão “a julgar pelo” é iniciada pela palavra “a”, que assume o valor de:

Alternativas
Comentários
  • Sinceramente, a questão está meio dúbia. Alguém poderia explicar?

    Na frase “A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça”, a expressão “a julgar pelo” é iniciada pela palavra “a”, que assume o valor de:

    RESPOSTA: LETRA A

  • CARGA SEMÂNTICA DO INFINITIVO 

     

    --> AO + INFINITIVO = IDEIA DE TEMPO

    “Ao chegar ao colégio, encontrei meu amigo”

    --> A + INFINITIVO = IDEIA DE CONDIÇÃO/SE

    “A continuar assim, você não conseguirá seu intento”

    --> POR + INFINITIVO = IDEIA DE CAUSA (POR QUE)

    “Por estar acamado, não irei à reunião”

    --> PARA + INIFINITIVO = IDEIA DE FINALIDADE (PARA QUE)

    “Elas vieram para conversar”

    --> APESAR DE + IFINITIVO = CONCESSÃO (EMBORA)

  • Diego substitua “a” por “se”: “se for julgar pelo século XX…”. Assim, vai conseguir perceber a ideia de condição. Espero ter ajudado.
  • AO+ INFINITIVO= da ideia de TEMPO

    A+ INFINITIVO=da ideia de CONDIÇÃO

    POR+ INFINITIVO=da ideia de CAUSA

    PARA+ INFINITIVO=da ideia de FINALIDADE

    APESAR DE+ INFINITIVO=da ideia de CONCESSÃO

  • E ai, tudo bom?

    Gabarito: A

    Bons estudos!

    -Se você não está disposto a arriscar, esteja disposto a uma vida comum. – Jim Rohn

  • Entrem no site do Professor Elias Santana. Tabela de conjunções. Decore-as.

  • Diego substitua “a” por “se”: “se for julgar pelo século XX…”. Assim, vai conseguir perceber a ideia de condição. Espero ter ajudado.

  • Tá bloqueado pra mim pedir comentário dos professores aqui do qconcursos, se vocês puderem peçam, pois eles são 171, era pra ter os comentários, onde a maioria das questões não têm.

  • GABARITO LETRA A

    Vemos que o sentido estabelecido é de condição (alternativa A). Uma forma para verificar é substituir a preposição “a" pela conjunção condicional “se' e verificar se há manutenção do sentido original. “Se julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça" mantém o sentido original da frase, o que confirma a expressão de condição do a prepositivo.

    Na frase “A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça”, a expressão “a julgar pelo” é iniciada pela palavra “a”, que assume o valor de: condição

    Substitua “a” por “se”: “se for julgar pelo século XX…”. Assim, vai conseguir perceber a ideia de condição.

    A + INFINITIVO = IDEIA DE CONDIÇÃO/SE

  • Esta questão mobiliza conhecimentos sobre preposição e formas nominais do verbo. Em primeiro lugar, devemos observar que o “a" no início da expressão não é o “a" artigo, mas uma preposição.

    Quando a preposição “a" acompanha um verbo no infinitivo, como é o caso de julgar, ela pode assumir os seguintes sentidos:
    - progressivo: em geral, equivalente ao sentido do verbo no gerúndio. Ando a ver se compro um carro. Ando vendo se compro um carro.
    - condição, hipótese, exceção ou concessão: A ser verdade o que dizes, não posso perdoá-lo. / Se for verdade o que dizes, não posso perdoá-lo.

    Voltando ao enunciado, vemos que o sentido estabelecido é de condição (alternativa A). Uma forma para verificar é substituir a preposição “a" pela conjunção condicional “se' e verificar se há manutenção do sentido original. “Se julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça" mantém o sentido original da frase, o que confirma a expressão de condição do a prepositivo.

    Gabarito da Professora: Letra A
  • A + INFINITIVO = IDEIA DE CONDIÇÃO/SE

    A JULGAR

    A FAZER

  • Rumo a PPMG

    São 6 simulados inéditos baseados na Selecon:

    https://p.eduzz.com/1082953?a=48670029

  • Se julgar pelo século XX

  • Gabarito: A

    Olhe para cima, que é de lá que vem tua força! Não desista!

    Ótimos estudos! <3

  • PPMG/2022. A vitória está chegando!!