SóProvas


ID
5434282
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Prefeitura de Colômbia - SP
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

Carta aberta a Lourenço Diaféria* 


Dom Lourenço:

    Sou um assíduo leitor. Leio tudo e continuamente. No banheiro, no ônibus, no quintal, na calçada; de madrugada, tarde, noite; livros, livretos, folhetins, revistas, cartazes, pichações, jornais, jornalecos, folhas soltas, propagandas, guias telefônicos, bulas, portas de banheiro e até uma ou outra palma da mão.

Sou um leitor. 

    Sou um leitor por imagem refletida, como num espelho ou numa montanha de ecos, pois o que eu queria mesmo era ser escritor. Vã esperança. Louco sonho. Não fui ou não aconteci, como se diz agora. Daí virei leitor; não virei, nasci leitor... Mas, desgraça minha – ou sorte –, não sou um leitor técnico, erudito, de análise. Não, não consigo sequer desvendar normas gramaticais, estilos, influências... Dir-se- -ia leitor cru? E como não bastasse: gringo, estrangeiro, Tupac-Amaru. Sou apenas um glutão de imagens, sentimentos, emoções e vibrações. Sou um leitor de nó na garganta e lágrimas fáceis. Sinto nas palavras, por outros escritas, aquilo tudo que está dentro de mim, que queria expressar e não consigo; que sinto e não sei transmitir.

    Ah! Dom Lourenço... É a mesma coisa que ter um balão dentro da gente que vai enchendo de emoções, emoções, emoções, pronto a explodir, e, quando acontece, estoura o peito e espalha aquelas palavras todas – imagens e sentimentos – salpicando todos em volta, pintando-os todos multicolores, floridos, irmanando-os, tornando os homens mais humanos, mais compreensivos, mais amigos, mais altos, mais nobres e mais puros. 

    Sou um leitor. E como tal tenho um aferido e aguçado “sentimentômetro” de revoluções mil, de pique e médias, de luzes amarelas, verdes e vermelhas. E meu particular aparelho de medir sentimentos há muito não acusava pressão máxima. Há muito eu não sentia a faixa vermelha, o assobio estridente, a pulsação acelerada, o lacre de segurança quebrado, que anuncia próxima e inadiável explosão. Mas ao ler Morte sem colete o aparelho funcionou e senti em mim a caldeira de pressão, o rio sem barragem, a sombra fresca, cântaro na fonte, grito de liberdade, toque de recolher, queda e consciência... 

    Gracias, muchas gracias, por nos tornarmos irmãos no sentir e transmitir.

    *Lourenço Carlos Diaféria foi um contista, cronista e jornalista brasileiro.

(MEYER, Luís Aberto. In: Magistrando a Língua Portuguesa: literatura brasileira, redação, gramática, metodologia do ensino e literatura infantil. Rose Sordi. São Paulo: Moderna, 1991.)


Acerca da expressão “Sou um leitor de nó na garganta e lágrimas fáceis.” (4º§), pode-se afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • "Polissemia significa "algo que tem muitos significados". Uma palavra polissêmica é uma palavra que reúne vários significados. A palavra "vela" é um dos exemplos de polissemia."

  • Gabarito na alternativa A

    Solicita-se julgamento das assertivas sobre a passagem:

    "Sou um leitor de nó na garganta e lágrimas fáceis.”

    A) É possível observar o emprego da polissemia.

    Correta. O termo "nó", normalmente forma de entrelaçar algo, pode tomar múltiplos sentidos, no texto sob a semântica de "aperto".

    B) À linguagem coloquial aplica-se exclusivamente a denotação.

    Incorreta. A linguagem coloquial, informal, é marcada pelo uso não só de denotação, mas de elementos nitidamente conotativos.

    C) O autor usa um tom exagerado para transmitir suas emoções.

    Incorreta. Não há exagero por parte do autor, que apenas descreve seu sentimentalismo.

    D) A partir de uma expressão ambígua, o autor expressa suas ideias.

    Incorreta. Não é visualizado caso de ambiguidade na passagem.

  • Você nunca sai perdendo quando ganha CONHECIMENTO!

  • AMBIGUIDADE: FRASE OU EXPRESSÃO DE DUPLO SENTIDO

    POLISSEMIA: ALGO QUE TEM MUITOS SIGNIFICADOS

  • Gabarito A

    a)  ALTERNATIVA CORRETA. Polissemia caracteriza-se pela possibilidade de uma única palavra poder assumir significados distintos, inclusive pertencentes a campos semânticos diferentes. É a polissemia que dá ensejo à existência de inúmeras figuras de linguagem. No texto oferecido no enunciado desta questão, por exemplo, o substantivo  e o adjetivo fáceis apresentaram-se com valores semânticos afastados daqueles com que, rotineiramente, são usados. O substantivo , contido na expressão nó na garganta, empresta à expressão o valor semântico de desconforto que acomete os que se emocionam facilmente e estão prestes a chorar. Em lágrimas fáceis, o adjetivo fáceis atribui à expressão a capacidade de definir aqueles que as vertem como pessoas emocionalmente frágeis. Esta é a resposta da questão.     

    b) ALTERNATIVA INCORRETA. Observamos que à linguagem coloquial aplicou-se, exclusivamente, a conotação, ou seja, o uso figurado da palavra.  

    c)  ALTERNATIVA INCORRETA.  Observa-se tom exagerado na descrição das emoções do autor do texto. A leitura do fragmento É a mesma coisa que ter um balão dentro da gente que vai enchendo de emoções, emoções, emoções, pronto a explodir, e, quando acontece, estoura o peito e espalha aquelas palavras todas – imagens e sentimentos – salpicando todos em volta, pintando-os todos multicolores, floridos, irmanando-os, tornando os homens mais humanos, mais compreensivos, mais amigos, mais altos, mais nobres e mais puros atestará a validade da afirmação contida nesta alternativa.

    d)ALTERNATIVA INCORRETA. A expressão leitor de nó na garganta e lágrimas fáceis é aparentemente ambígua, uma vez que contém traços sugestivos de oposição, tais como  e fáceis. No entanto, as duas estão contidas no mesmo campo semântico, que envolve emoções incontidas, ou contidas com muita dificuldade. A partir desses elementos, o autor fundamentou suas ideias.  

    "Faça da dificuldade a sua motivação."

  • GAB-A

    FUI POR ELIMINAÇÃO