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ID
5439583
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
PG-DF
Ano
2021
Provas
Disciplina
Psicologia
Assuntos

A respeito de organizações de aprendizagem, julgue o item subsequente.

A aprendizagem do tipo analítica supõe que a racionalidade humana é limitada e tende a ocorrer em contexto de alto grau de incerteza.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: ERRADO

  • Pelo contrário, a aprendizagem do tipo analítica entende que as pessoas podem aprender mais e mais, e que é necessário levar em consideração vários fatores para otimizar a aprendizagem.

  • Qual a literatura?

  • Qual a literatura?

  • Onde encontro esses conceitos?

  • A questão cobra conhecimentos na cerca da Teoria da Racionalidade Limitada (ou Teoria Comportamental, Teoria do Comportamento Administrativo), proposta por Herbert Simon no final dos anos 1940, que contesta os pilares fundamentais da racionalidade plena dos agentes decisores, oriundos do pensamento econômico neoclássico, propondo um caminho mais “realista" para descrição de como as escolhas são feitas nas organizações.
    É um assunto bastante atípico nos concursos se psicologia, mas tem sido tratado pela CESPE com certa relevância, tendo aparecido recentemente nesta prova e também no concurso do TJRJ. Assim, vamos tomar um pouco mais de tempo pra comentar esse assunto que você pouco ou nada deve ter visto.
    Antes de Simon propor a teoria da racionalidade limitada, no final dos anos 1940, o modelo de agente decisor que ocupava espaço no pensamento administrativo era o do “homem econômico", detentor de uma racionalidade plena.  Nesse modelo de racionalidade plena, a tarefa de decidir compreende três etapas, a saber: a) o relacionamento de todas as possíveis estratégias, b) a determinação de todas as consequências que acompanham cada uma dessas estratégias, e c) a avaliação comparativa desses grupos de consequências.
    Como complementa Simon, aqui, a palavra todas é usada deliberadamente. Seu significado sugere, de fato, onisciência e onipotência por parte do agente decisor. O homem econômico é, então, aquele que, consciente de todos os dados e fatos implicados na sua decisão, é capaz de encontrar, em tempo hábil, o curso de ação que trará, do modo mais eficiente possível, os resultados por ele esperados. O homem econômico sempre faz, portanto, escolhas ótimas (SIMON, 1979).
    Todavia, os limites da racionalidade do homem econômico são encontrados justamente na incapacidade do ser humano de dispor, em tempo hábil, de todos os dados ligados à escolha, de analisar todas as alternativas possíveis de ação e de comparar suas consequências a fim de escolher a opção ótima. Como explica o autor, a limitação da racionalidade reside no fato de que, ao tomar decisões administrativas, é preciso escolher continuamente premissas cuja veracidade ou falsidade não se conhece claramente e nem se pode determinar com segurança à luz das informações e do tempo disponível (SIMON, 1979). 
    Fica claro, então, que o modelo da racionalidade plena se trata de uma “ficção" em termos daquilo que os seres humanos são capazes de fazer. É impossível, evidentemente, que o indivíduo conheça todas as alternativas de que dispõe ou todas as suas consequências.
    Simon argumenta que, restringidos tanto pela complexidade das organizações modernas como por suas próprias capacidades cognitivas limitadas, os tomadores de decisão são incapazes de operar em condições de racionalidade perfeita. A questão sobre a qual se decide provavelmente não é clara ou pode ser objeto de diversas interpretações; informações sobre alternativas podem não estar disponíveis, ser incompletas ou mal representadas; e os critérios pelos quais soluções potenciais são avaliadas são geralmente incertos ou não estão de acordo com as próprias alternativas. Além disso, o tempo e a energia disponíveis para os tomadores de decisão buscarem maximização de resultados são limitados e finitos. A procura por melhores escolhas pode simplesmente levar um tempo demasiadamente longo. A consequência dessas restrições é que o resultado será provavelmente “satisfatório" (satisficing) e não ótimo  (SIMON, 1979).
    A constatação da impossibilidade de existência da racionalidade plena fez então com que Simon (1979) se propusesse a reformar o conceito de homem econômico, buscando uma definição de agente decisor mais próxima da realidade que caracteriza a decisão concreta nas organizações. Assim, enquanto o homem econômico maximiza seus esforços, selecionando a melhor alternativa entre as que se lhe apresentam, seu primo, a quem chamaremos de homem administrativo, contemporiza, isto é, busca um curso de ação satisfatório ou razoavelmente bom (SIMON, 1979). 
    Por isso, complementa Simon (1979), para o homem administrativo, a alternativa finalmente escolhida jamais permite a realização completa ou perfeita dos objetivos visados, representando apenas a melhor solução encontrada naquelas circunstâncias. 
    O princípio da racionalidade limitada assume que, para lidar com as complexidades do mundo real, um indivíduo deve construir um modelo simplificado para cada situação. Frente à limitada habilidade que os seres humanos têm para processar informação, e frente ao mundo complexo que eles precisam enfrentar, as pessoas usam vários esquemas heurísticos para simplificar o mundo complexo e, assim, poder lidar com ele. O homem administrativo reconhece que o mundo por ele percebido é apenas um modelo drasticamente simplificado do agitado e confuso mundo real. Por isso, o homem administrativo é capaz de tomar decisões guiadas por regras empíricas relativamente simples, que não sobrecarregam sua capacidade [limitada] de pensar (SIMON, 1979).
    Quando as pessoas fazem julgamentos em condições de incerteza, elas tendem a evitar análises de dados exaustivas; ao invés disso, elas frequentemente empregam heurísticas, que representam mecanismos cognitivos que permitem “atalhos" no processo de tomada de decisão. Os “atalhos" e “simplificações" heurísticas, por sua vez, surgem ao agente decisor na forma de “intuição" ou “instinto" em um processo “racional" de percepção que, de acordo com Simon (1989) não é frio, mas temperado com a emoção característica da descoberta da solução para um problema decisório complexo.
    E aqui chegamos finalmente ao que nos interessa: a aprendizagem do tipo analítica supõe que a racionalidade humana é limitada e tende a ocorrer em contexto de alto grau de incerteza?
    Entendendo analítico como o que se efetiva através de análise, de exame detalhado, que busca informações, estuda os dados profundamente e avalia bem as questões antes de decisões; podemos concluir que esse tipo dema0rendizagem nada tem a ver com a racionalidade limitada acima exposta, não é mesmo. A aprendizagem analítica está mais próxima da racionalidade plena, que acabamos de ver.

    SIMON, H. A. Comportamento administrativo. 3. ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1979.

    Gabarito do Professor: ERRADO .