- ID
- 5450536
- Banca
- Instituto Consulplan
- Órgão
- Prefeitura de Formiga - MG
- Ano
- 2020
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Ele quem mesmo?
Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher
da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: “olha,
não dá mais”. Tá certo que a gente tava quase se matando e
que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina
nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com
um e-mail, não é mesmo? Liguei pra tentar conversar e
terminar tudo decentemente e ele respondeu: “mas agora eu
tô comendo um lanche com amigos”. Enfim, fiquei pra morrer
algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher
melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita, mais
equilibrada ou mais inteligente, ele não volta pra mim?
Foi assim que me matriculei simultaneamente numa
academia de ginástica, num centro budista e em um curso
de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos
seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do
planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente
nada, ele continuou não lembrando que eu existia. Aí achei
que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava
ser ainda melhor pra ele. Sim, ele tinha que voltar pra mim
de qualquer jeito!
Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não
suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora.
Participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei
novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores
do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou taurina com
ascendente em Áries, lua em Gêmeos, filha única! Eu não
desisto fácil assim de um amor, e então resolvi que tinha que ser
uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim.
Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em
minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando
meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais
culta e vivida. Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem
sinal de vida.
Comecei um documentário com um grande amigo,
aprendi a fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a
terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres, rezei pra Santo
Antônio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos
de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei
por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris. Como
última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi
ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei
tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi
bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também
finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio
absoluto.
O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir
todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita
para ele, mais mulher para ele.
Até que algo sensacional aconteceu…
Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão
realizada, tão mulher, que eu acabei me tornando mulher
DEMAIS para ele.
Ele quem mesmo?
(MEDEIROS, Martha. Ele quem mesmo? Disponível em: https://
www.pensarcontemporaneo.com/ele-quem-mesmo-cronica-demartha-medeiros/. Acesso em: 05/12/2019.)
Observe a regência do verbo “apaixonar” em “me apaixonei
por praia” (5º§). Há ERRO de regência em: