- ID
- 5453458
- Banca
- Instituto Consulplan
- Órgão
- Prefeitura de Formiga - MG
- Ano
- 2020
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Texto para responder à questão.
Agudo decifrador das calamidades do presente, Byung-Chul Han é também, ele próprio, um fenômeno de nossa
época. O autor dos dois livros aqui resenhados não se parece
com o clássico intelectual europeu, tampouco com o acadêmico que profere seus saberes desde o púlpito de uma
renomada universidade estadunidense. A sua peculiaridade,
contudo, não se restringe ao exotismo de ser asiático e ter
um nome impronunciável para boa parte dos ocidentais,
mas se concentra sobretudo no seu estilo inconfundível e –
em vários sentidos – absolutamente contemporâneo.
[...]
“Vivemos numa época pobre de negatividade”, eis um
dos principais argumentos de “A sociedade do cansaço”. Isso
não teria impedido, porém, o desenvolvimento de formas
peculiares de violência, mais sutis e invisíveis, próprias de
“uma sociedade permissiva e pacificada”. Assim, contrariamente ao que ocorria algum tempo atrás, essa violência da
positividade que hoje impera “não é privativa, mas saturante;
não excludente, mas exaustiva”. Sob lemas como o famoso
“Yes, we can”, ao qual poderíamos acrescentar outros como
“just do it” ou “porque eu mereço”, Byung-Chul Han parece
acertar em cheio: “No lugar de proibição, mandamento ou lei,
entram projeto, iniciativa e motivação”.
Todo esse estímulo positivo, porém, cansa: “A sociedade
do desempenho produz depressivos e fracassados”. O paradoxo é complicado, pois, ao acreditarmos que nos libertamos
de todas as opressões que vinham de fora, vemo-nos
enredados em coações autodestrutivas que são altamente
eficientes, entre outros motivos “porque a vítima dessa
violência imagina ser alguém livre”.
Já em “A sociedade da transparência”, o autor arremete
contra a mania de exposição que hoje também abunda, e
que estaria igualmente afiliada a essa tola positividade sem
sombras nem relevos. “Tudo deve tornar-se visível; o imperativo da transparência coloca em suspeita tudo o que não se submete à visibilidade”, constata. Quando a informação
e a comunicação penetram por toda parte, sem deixar
margem alguma ao mistério, destrói-se algo primordial para
os relacionamentos humanos: a confiança. “A intensa exigência por transparência aponta precisamente para o fato de
que o fundamento moral da sociedade se tornou frágil”,
após o declínio de valores outrora bastante prezados como
a honestidade e a sinceridade. Assim, vivemos numa “sociedade da desconfiança e ela suspeita que, em virtude do
desaparecimento da confiança, agarra-se ao controle”.
(Paula Sibilia, publicado por Revista Quatro Cinco Um, nº 10, abril de 2018.
Fragmento.)
O fragmento apresentado faz parte do texto de Paula
Sibilia, sobre a autora:
Paula Sibilia é antropóloga, ensaísta e pesquisadora argentina
residente no Rio de Janeiro, dedica-se ao estudo de diversos
temas culturais contemporâneos sob a perspectiva genealógica, contemplando particularmente as relações entre corpos,
subjetividades, tecnologias e manifestações midiáticas ou
artísticas. Também é mestre em Comunicação (UFF), doutora
em Saúde Coletiva (IMS-UERJ) e em Comunicação e Cultura
(ECO-UFRJ), e professora na Universidade Federal Fluminense
(UFF).
(Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/578000-
ensaista-feroz.)
Acerca do objetivo comunicacional do texto de Paula Sibilia,
pode-se afirmar que: