SóProvas


ID
5509039
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Jaguariúna - SP
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto, para responder à questão.

   A psicanalista Maria Homem diz que o ressentimento é a palavra-chave para ousar compreender o mundo hoje. Luiz Filipe Pondé acredita que o ressentimento faz de nós incapazes de ver algo simples: o universo é indiferente aos nossos desejos; além de destruir em nós a capacidade de pensar e compreender a realidade.
   Ressentir-se significa atribuir ao outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer. Como se a culpa do que não somos ou não podemos ser fosse sempre do outro, esse bode expiatório que escolhemos quando não podemos nos haver com nossos próprios limites. Ressentir-se é uma impossibilidade de esquecer ou superar um agravo. Seria uma impossibilidade ou uma recusa?
   O ressentido não é alguém incapaz de perdoar ou esquecer, é alguém que não quer esquecer, não quer perdoar, nem superar o mal que o vitimou. O filósofo Max Scheler classifica como “auto envenenamento psicológico” o estado emocional do ressentido, um ser introspectivo ocupado com ruminações acusadoras e fantasias vingativas.
   O ressentido é um escravo de sua impossibilidade de esquecer, vivendo em função de sua vingança adiada, de maneira que em sua vida não é possível abrir lugar para o novo; trata-se de um vingativo passivo, e suas queixas contínuas mobilizam, no outro, confusos sentimentos de culpa. Na verdade, ele acusa, mas não está seriamente interessado em ser ressarcido do agravo que sofreu. No ressentido, permanece uma dívida impagável, a compensação reivindicada é da ordem de uma vingança projetada no futuro. O ressentido é um covarde, pois não concede a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação. Esse desejo de vingança recusado é o núcleo doentio do ressentimento nietzschiano. Uma vez que não se permite reagir, só resta ao fraco ressentir.
   Por não esquecer, o ressentido não consegue entregar-se ao fluxo da vida presente. A memória é como uma doença, o tempo não pode ser detido, a vontade não pode “querer pra trás”, ou seja, corrigir o curso de suas escolhas passadas.
   A solução para o ressentimento não é negá-lo, mas nomeá-lo, informar-se sobre ele, perceber que é impossível não o ter em nós em alguma medida. “Conhece-te a ti mesmo”, foi o conselho dado pelo sábio filósofo Sócrates, no século V a.C. Quem sabe tenhamos a coragem e as ferramentas para compreender essa emoção, e, com isso, podermos nos colocar além do ressentimento. Talvez possamos um dia transformar esse sentimento e, assim, criar um novo modo de estar com o outro.
(Luciana Ribeiro Soubhia, Ressentimento.
Revista Bem-estar, 04-07-2021. Adaptado)

As referências a psicanalistas e filósofos são empregadas 

Alternativas
Comentários
  • Linha 1 e 2: "Luiz Filipe Pondé acredita que o ressentimento faz de nós incapazes de ver algo simples: o universo é indiferente aos nossos desejos; além de destruir em nós a capacidade de pensar e compreender a realidade."

    Linha 6, 7 e 8: "O filósofo Max Scheler classifica como “auto envenenamento psicológico” o estado emocional do ressentido, um ser introspectivo ocupado com ruminações acusadoras e fantasias vingativas."

    As duas passagens acima mencionadas, reforçam o ponto de vista da autora quando ela diz:

    Linha 9 a 13 - "O ressentido é um escravo de sua impossibilidade de esquecer, vivendo em função de sua vingança adiada, de maneira que em sua vida não é possível abrir lugar para o novo; trata-se de um vingativo passivo, e suas queixas contínuas mobilizam, no outro, confusos sentimentos de culpa. Na verdade, ele acusa, mas não está seriamente interessado em ser ressarcido do agravo que sofreu. No ressentido, permanece uma dívida impagável, a compensação reivindicada é da ordem de uma vingança projetada no futuro. O ressentido é um covarde, pois não concede a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação. Esse desejo de vingança recusado é o núcleo doentio do ressentimento nietzschiano. Uma vez que não se permite reagir, só resta ao fraco ressentir."

    Gabarito: E)

  • GABARITO: E

    ➥ Pessoal, neste texto, a autora utiliza diversas vezes uma estratégia argumentativa chamada de testemunho (ou argumento) de autoridade.

    ➥ Um testemunho de autoridade se dá quando o autor cita uma pessoa ou instituição, desde que goze de prestígio social. Tal recurso é muito relevante na argumentação e faz com que você ganhe valiosos pontinhos em uma redação. Em vez de construir seus argumentos só com o que você pensa sobre o assunto, cite um pensador, uma instituição reconhecida etc. Isso demonstra que você conhece o mundo que o circunda.

     

    Exemplo retirado da gramática do Pestana:

    "Deve-se ressaltar a importância da transparência nos governos para aprimorar a governança e a gestão. Tal afirmação foi, inclusive, sublinhada pela presidenta Dilma Rousseff: 'Quanto maior a transparência, maior a possibilidade de que o dinheiro público se destine ao que são os programas necessários.'"

    • Complementando: Os argumentos de autoridade também podem te eliminar em um concurso, se você não ficar esperto. Às vezes o examinador coloca, principalmente nas questões de Direito: "em razão do princípio da igualdade..." e depois coloca um elemento falso rsrs. Muito cuidado.

     

    O correto é a E, já que os pensadores e pesquisadores são citados para reforçar o ponto de vista da autora:

    (E) como reforço dos pontos de vista da autora, servindo como argumentos que conferem maior credibilidade a seu discurso. → Esta é, inclusive, a função de um argumento de autoridade.

     

    Espero ter ajudado.

    Bons estudos! :)

  • Linha 5 Seria uma impossibilidade ou uma recusa?

    Linha 17 Quem sabe tenhamos a coragem e as ferramentas para compreender essa emoção, e, com isso, podermos nos colocar além do ressentimento. Talvez possamos um dia transformar esse sentimento e, assim, criar um novo modo de estar com o outro.

    gab E

  • Servem para dá mais autoridade ao texto e argumentos convincentes aos leitores Letra E