Também interpreto como incorreta a estrutura a que o colega Ivan fez menção.
Com meu comentário, tentarei ajudá-los a diferenciar uma oração subordinada adverbial causal de uma coordenada sindética explicativa quando se constata a existência da conjunção "pois", "que" ou "porque", que atendem a ambas as circunstâncias. Em face a esse motivo, essas duas orações frequentemente se confundem e há enorme debate gravitando em torno dessa polêmica, ainda sem solução final. Evanildo Bechara, em Lições de Português Pela Análise Sintática, até mesmo sai em defesa da abolição dessa discrepância existente, haja vista que estruturalmente em nada mudam essas orações: o que se percebe de mudança restringe-se apenas ao campo semântico.
Leia-se o fragmento:
"O ressentido é um covarde, pois não concede a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação."
A seguir, reproduzirei, sem nenhuma modificação, as palavras do também professor Fernando Pestana, autor de já célebre gramática para concursos:
Por ser uma situação difícil e polêmica [a diferenciação entre as duas orações mencionadas], explicarei com mais fluidez ainda. Existem três casos importantes a considerar. Veja:
1º caso: Se o verbo que antecede a conjunção vier no imperativo, ou indicar desejo, é certo que a oração será coordenada explicativa.
– Estude, que seu futuro estará garantido!
– Deus o abençoe, meu filho, porque sua generosidade não tem limite.
2º caso: Se o porque (ou que, pois, porquanto) iniciar uma consequência, a oração será explicativa; se iniciar uma causa, a oração será causal.
– A avenida não tinha limite de velocidade, porque o carro passou a 300 km/h. (explicativa)
– O carro passou a 300 km/h porque a avenida não tinha limite de velocidade. (causal)
3º caso: Se a afirmação anterior à conjunção for uma suposição ou uma constatação por dedução, gerada por uma apuração ou comprovação, a conjunção será explicativa (este é o caso de “Choveu, porque a rua está molhada.”; ou seja, você deduz que choveu por causa de uma apuração – a rua molhada).
– Ele passou por aqui, porque ainda há pouco o vi. (explicativa)
– Não precisa mentir. O Leandro faltou às aulas, pois me contaram. (explicativa)
Por seu turno, Antônio Suaréz de Abreu, em Gramática Integral da Língua Portuguesa, p. 483 e 484, recomenda-nos dois aspectos a serem considerados a fim de tentarmos diferenciar essas duas orações:
1) iconicidade temporal
Isso significa que as orações coordenadas não podem ser invertidas. Ex.: César veio, viu e venceu → venceu, viu e César veio. Essa reescritura não apresenta o menor sentido, o contrário do que ocorreria se houvesse uma oração subordinada adverbial causal. Ex.: não saiu de casa, porque estava frio → porque estava frio, não saiu de casa.
2) impossibilidade de redução
Orações coordenadas não podem ser reduzidas sem que mudem o sentido ou se tornem agramaticais; não obstante, isso não ocorre com as subordinadas. Exs.:
a) Saia logo, porque o avião vai explodir.
Tente reduzi-la: saia logo, por o avião vai explodir. Não faz sentido. Logo, essa oração é coordenada explicativa.
b) Saiu à rua, porque estava quente dentro de casa.
Tente reduzi-la: saiu à rua por estar quente dentro de casa. Faz sentido. Logo, essa oração é subordinada adverbial causal.
Se inspecionada a frase do enunciado em que se constata a conjunção "pois", ver-se-á que ela não pode ser invertida ou reduzida:
"Por não conceder a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação, o ressentido é um covarde."
À vista disso, pode-se asseverar com segurança que a oração encabeçada pela conjunção "pois" é subordinada adverbial causal. A banca incorre em erro quando a trata por coordenada sindética explicativa.