SóProvas


ID
5568340
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
FUNPRESP-JUD
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Filosofia em dois desenhos

    Fui caminhar. E na calçada me deparei com um estranho indivíduo. Carregava um saco plástico enorme que, pelo perfil do conteúdo, calculei estivesse cheio de latinhas. Mal acabei de pensar, o homem se acocorou na calçada. Extraiu de alguma parte uma pedra branca parecendo ser cal prensada, e com ela começou a desenhar no cimento.
    Parei para ver, atraída pelo ritual que se esboçava. O homem desenhou dois círculos um diante do outro, quase encostados, e dentro deles desenhou duas setas convergentes.
    Levantou-se, olhou sua obra com satisfação, andou cinco ou seis passos e, novamente, se acocorou. Continuava com a pedra de cal na mão.
    Mas o desenho que fez foi diferente. Riscou dois traços, colocados na mesma distância dos dois círculos, e atrás deles desenhou duas setas que apontavam uma para a outra.
    Segui adiante refletindo sobre o que havia presenciado. A primeira coisa que me veio à cabeça foi a Serra da Capivara, que visitei numa ida a Teresina para algum congresso ou palestra. Trouxe de volta a louça que a arqueóloga franco-brasileira Niéde Guidon, há muitos anos responsável pelo sítio arqueológico, ensinou os locais a fazerem para terem uma fonte de subsistência. Louça com impressos os mesmos desenhos estampados na rocha, que se acredita serem vestígios de uma cultura paleoamericana. Pois, como um ser primitivo, o homem havia estampado seus pensamentos e sua visão interior na mais moderna das rochas: o cimento.
    Havia reparado que o homem estava muito sujo e desgrenhado. Calçava havaianas de sola já bem fininha e roupas indefinidas. Provavelmente era mais um morador de rua. E como morador de rua, usava a mesma calçada em que dormia para se expressar. Usava a calçada, único bem que lhe pertencia, como se fosse papel para desenhar ou escrever. Porque não há dúvida de que, ao desenhar, aquele homem estava escrevendo.
    Estava escrevendo a sua dificuldade para se comunicar. Preso dentro de um círculo, pouco adiantava que as setas apontassem em direção uma da outra. Ele não conseguia obedecer à ordem das setas, pois continuava contido pela linha que delimitava o círculo.
    Coisa idêntica dizia o segundo desenho, agora com um traço, uma parede, um muro, impedindo-o de obedecer ao comando das setas.
    Pode até ser que o homem, através de seus desenhos estivesse desenvolvendo uma teoria filosófica sobre a incomunicabilidade dos seres humanos. Que, se por um lado não conseguem viver sozinhos (significado das setas instando à comunicação), por outro lado não conseguem se entender (significado dos círculos e dos traços impeditivos).
    Avançando nessa teoria, chegaríamos à conclusão de que tudo o que é coletivo resvala no pessoal. Assim como os desenhos do homem, tão íntimos e pessoais, destinavam-se a quem quer que passasse naquela exata calçada de Ipanema.

Adaptado de: https://www.marinacolasanti.com/2021/09/filosofiaem-dois-desenhos.html [Fragmentos]. Acesso em: 18 set. 2021.

Considerando os aspectos linguísticos do texto de apoio e os sentidos por eles expressos, julgue o seguinte item. 


No 1º parágrafo, o pronome poderia estar após o verbo “acocorou”, visto que não há critério que obrigue o uso da próclise.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: CERTO

    Uso da Próclise

    • Palavras ou expressões negativas: Nada me perturba.
    • Quando empregada corretamente à colocação pronominal ajuda a harmonizar o texto, evitando ambiguidades: Eu não vi ela hoje.
    • Orações com conjunções subordinativas: Quando se trata de falar em inglês ele é um expert.
    • Advérbios: Aqui se tem.
    • Pronomes Relativos, Demonstrativos e Indefinidos: A pessoa que me ligou era minha colega. (relativo)
    • Em frases interrogativas: Quanto cobrará pelo jantar?
    • Em frases exclamativas ou optativas (que exprimem desejo): Deus nos dê forças.
    • Verbo no gerúndio antecedido da preposição: Em se plantando tudo dá.

    Uso da Mesóclise

    • Futuro do presente: Assim que oportuno, contar-lhe-ei detalhes da cerimônia.
    • Futuro do pretérito: A inovação do setor ajudar-nos-ia significativamente.

    Uso da Ênclise

    • Quando o verbo começa uma oração: Diga-me o que pensas sobre o resultado.
    • Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Quero convidar-te para o meu aniversário.
    • Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo: Sigam-me, por favor.
    • Quando o verbo estiver no gerúndio: A menina desatenta argumentou fazendo-se de boba.

    https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/lingua-portuguesa/colocacao-pronominal

  • Gab c

    Não há atração de próclise.

    (o homem'' é um substantivo. atuando como sujeito da frase.)

    o homem se acocorou na calçada.

  • A questão é sobre colocação pronominal e quer que analisemos a afirmação abaixo. Vejamos:

     .

    No 1º parágrafo, o pronome poderia estar após o verbo “acocorou”, visto que não há critério que obrigue o uso da próclise.

    Nesse caso, como não há nenhum fator de próclise, também podemos usar a ênclise sem nenhum problema: "o homem se acocorou na calçada" OU "o homem acocorou-se na calçada".  

    • Vale destacar que o pronome pode ficar antes (próclise) ou depois (ênclise) do verbo quando houver sujeito explícito antes do verbo. Ex.: Celso Cunha se consagrou entre os gramáticos. OU Celso Cunha consagrou-se entre os gramáticos.

     .

    Para complementar:

     .

    Colocação pronominal

     .

    PRÓCLISE (pronome ANTES do verbo)

    É obrigatória quando houver palavra que atraia o pronome para antes do verbo. As palavras que atraem o pronome são:

    1) Palavras de sentido negativo. Ex.: Nunca me deixaram falar.

    2) Advérbios. Ex.: Sempre me lembro deles.

    3) Pronomes indefinidos e demonstrativos neutros. Ex.: Tudo se acaba / Isso te pertence.

    4) Conjunções subordinativas. Ex.: Quando nos viu, chorou.

    5) Pronomes relativos. Ex.: Há certas pessoas que nos querem bem.

    6) Orações interrogativas. Ex.: Quem se apresenta?

     . .

    MESÓCLISE (pronome NO MEIO do verbo)

    É obrigatória com verbo no futuro do presente ou no futuro do pretérito, desde que não haja antes palavra atrativa. Ex.: Convidar-me-ão para a formatura. / Convidar-me-iam para a formatura.

     .

    ÊNCLISE (pronome APÓS o verbo)

    É obrigatória com:

    1) Verbo no início da frase. Ex.: Passaram-me a resposta.

    2) Verbo no imperativo afirmativo. Ex.: Meninos, calem-se.

    3) Verbo no gerúndio. Ex.: Chegou, falando-nos grosseiramente.

    Obs.: Se o gerúndio vier precedido de preposição ou de palavra atrativa, ocorrerá PRÓCLISE. Ex.: Em se tratando de regras, sou leiga. / Saiu da sala, não nos dizendo as razões.

    4) Verbo no infinitivo impessoal. Ex.: Era necessário ajudar-te.

     .

    Gabarito: Certo

  • Deixa eu simplificar a QUESTÃO: QUANDO VIER SUJEITO EXPLÍCITO, PODE HAVER PRÓCLISE ou ENCLISE.

    o homem se acocorou na calçada

    O homem acocorou-se na calçada

  • GAB C

    Revisão :

    Próclise obrigatória: "NARIS DE PREGO" (Com "S" mesmo)

    - Negativas

    - Advérbios

    - Relativos (pronomes relativos)

    - Indefinidos/Interrogativos (pronomes)

    - Subordinadas (conjunções subordinativas)

    - DEmonstrativos

    - PREposição seguida de GerúndiO (Ex.: Em se tratando...)

    Ex de atrativos: Nem, que, alguém, aqui, conforme, isso.

     

    Verbo no INFINITIVO pode se utilizar PRÓCLISE ou ÊNCLISE, ainda que haja palavra atrativa à Infinitivo é bi, aceita na frente e atrás.

     

    Proibido

    - Colocar pronome oblíquo átono após futuro à ”Emprestarei-te algo”

    - Colocar pronome oblíquo átono após particípio à “Tinha emprestado-lhe algo”

  • < > GABARITO: CERTO

    • PARA AJUDAR A FIXAR

    VALE A PENA FAZER UM ADENDO:

    "Mal acabei de pensar, o homem se acocorou na calçada"

    QUESTÃO NÃO FALOU NADA, MAS TEMOS AQUI UMA OBS.

    ORAÇÃO SUBORDINADA ADVERBIAL TEMPORAL

    "QUANDO ACABEI DE PENSAR"

    VALE LEMBRAR QUE SE NÃO TIVESSE A VIRGULA ALI SERIA PROIBIDO O USO DA ÊNCLISE, AINDA QUE COM A PARTE ATRATIVA LÁ NO INÍCIO E O PRONOME "LÁ NA FRENTE".

    OS COLEGAS JÁ TROUXERAM OS CASOS PROIBITIVOS, E A SUBORDINADA TEMPORAL SE FAZ PRESENTE. DÊ UMA OLHADINHA LÁ.

    TMJ

  • proclise - antes - naris de prego

    negativa

    adverbios

    relativos

    indefinidos

    subordinada

    demonstrativo

    preposição seguida de gerundio

  • O sujeito é determinado, e como não há fatores que tornem a próclise obrigatória, como por exemplo,

    palavras:

    negativa

    adverbios

    relativos

    indefinidos

    subordinada

    demonstrativas

    Pode-se usar a ênclise.

  • acocorar = Sentar(-se) sobre os calcanhares, pôr(-se) de cócoras.

    https://www.dicio.com.br/acocorar/#:~:text=Significado%20de%20Acocorar,p%C3%B4r(%2Dse)%20de%20c%C3%B3coras.

  • A vírgula após o advérbio retira a atração sendo recomendado o uso da ênclise

  • Não entendi. A questão pergunta se há alguma regra em que seja obrigatório o uso de próclise. A maioria disse que o gabarito é CORRETO. Entretanto, justamente por termos advérbio antes e um verbo no pretérito perfeito (acocorou) não poderíamos utilizar ênclise. Dessa forma, o gabarito não seria ERRADO?

    "No 1º parágrafo, o pronome poderia estar após o verbo “acocorou”, visto que não há critério que obrigue o uso da próclise."

    Resposta: ERRADO, o pronome não poderia estar após o verbo pois, como dito anteriormente, além de haver uma oração adverbial anteposta ao verbo, o verbo está no pretérito perfeito (passado) e, portanto, não admite ênclise.

  • O núcleo do sujeito exerce atração facultativa nesse caso

  • GABARITO: CERTO

    Quando houver sujeito EXPLÍCITO e não houver FATOR ATRATIVO DE PRÓCLISE, poderá ser tanto próclise como ênclise.

    O homem acocorou-SE. (ênclise) ✅

    O homem SE acocorou. (próclise) ✅

    pertencelemos!