SóProvas


ID
5568364
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
FUNPRESP-JUD
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Filosofia em dois desenhos

    Fui caminhar. E na calçada me deparei com um estranho indivíduo. Carregava um saco plástico enorme que, pelo perfil do conteúdo, calculei estivesse cheio de latinhas. Mal acabei de pensar, o homem se acocorou na calçada. Extraiu de alguma parte uma pedra branca parecendo ser cal prensada, e com ela começou a desenhar no cimento.
    Parei para ver, atraída pelo ritual que se esboçava. O homem desenhou dois círculos um diante do outro, quase encostados, e dentro deles desenhou duas setas convergentes.
    Levantou-se, olhou sua obra com satisfação, andou cinco ou seis passos e, novamente, se acocorou. Continuava com a pedra de cal na mão.
    Mas o desenho que fez foi diferente. Riscou dois traços, colocados na mesma distância dos dois círculos, e atrás deles desenhou duas setas que apontavam uma para a outra.
    Segui adiante refletindo sobre o que havia presenciado. A primeira coisa que me veio à cabeça foi a Serra da Capivara, que visitei numa ida a Teresina para algum congresso ou palestra. Trouxe de volta a louça que a arqueóloga franco-brasileira Niéde Guidon, há muitos anos responsável pelo sítio arqueológico, ensinou os locais a fazerem para terem uma fonte de subsistência. Louça com impressos os mesmos desenhos estampados na rocha, que se acredita serem vestígios de uma cultura paleoamericana. Pois, como um ser primitivo, o homem havia estampado seus pensamentos e sua visão interior na mais moderna das rochas: o cimento.
    Havia reparado que o homem estava muito sujo e desgrenhado. Calçava havaianas de sola já bem fininha e roupas indefinidas. Provavelmente era mais um morador de rua. E como morador de rua, usava a mesma calçada em que dormia para se expressar. Usava a calçada, único bem que lhe pertencia, como se fosse papel para desenhar ou escrever. Porque não há dúvida de que, ao desenhar, aquele homem estava escrevendo.
    Estava escrevendo a sua dificuldade para se comunicar. Preso dentro de um círculo, pouco adiantava que as setas apontassem em direção uma da outra. Ele não conseguia obedecer à ordem das setas, pois continuava contido pela linha que delimitava o círculo.
    Coisa idêntica dizia o segundo desenho, agora com um traço, uma parede, um muro, impedindo-o de obedecer ao comando das setas.
    Pode até ser que o homem, através de seus desenhos estivesse desenvolvendo uma teoria filosófica sobre a incomunicabilidade dos seres humanos. Que, se por um lado não conseguem viver sozinhos (significado das setas instando à comunicação), por outro lado não conseguem se entender (significado dos círculos e dos traços impeditivos).
    Avançando nessa teoria, chegaríamos à conclusão de que tudo o que é coletivo resvala no pessoal. Assim como os desenhos do homem, tão íntimos e pessoais, destinavam-se a quem quer que passasse naquela exata calçada de Ipanema.

Adaptado de: https://www.marinacolasanti.com/2021/09/filosofiaem-dois-desenhos.html [Fragmentos]. Acesso em: 18 set. 2021.

Considerando os aspectos linguísticos do texto de apoio e os sentidos por eles expressos, julgue o seguinte item. 


No trecho “Louça com impressos os mesmos desenhos estampados na rocha, que se acredita serem vestígios de uma cultura paleoamericana.”, o “se” tem função apassivadora, permitindo, assim, a omissão do agente, visto que não é possível especificá-lo

Alternativas
Comentários
  • Errado.

    Marquei errado, pois o "SE" NÃO é partícula apassivadora na oração e se exercesse teria SUJEITO EXPLÍCITO.

    Sobre o "SE" desempenhando papel de partícula apassivadora:

    -Utilizada com verbos transitivos DIRETOS e verbos transitivos DIRETOS E INDIRETOS.

    -Verbo deve concordar com o sujeito paciente.

    Fonte: Baseada nas aulas a que assisti do Prof: Elias Santana, Gran cursos.

    FÉ e CORAGEM NA CAMINHADA!! ❤️✍

  • Eu acredito que a questão misturou Partícula Apassivadora com Índice de indeterminação do sujeito

  • Ali ocorre uma locução verbal, sendo o verbo principal "ser", que é um verbo de ligação. Verbos de ligação possuem índice de indeterminação do sujeito, e não partícula apassivadora.

  • Fica uma provocação: SE - foi usado como partícula de realce

  • Alguém consegue explicar melhor ??

  • CUIDADO

    A questão possui gabarito incorreto

    Solicita-se julgamento da assertiva sobre a passagem:

    “Louça com impressos os mesmos desenhos estampados na rocha, que se acredita serem vestígios de uma cultura paleoamericana.”

    Temos na passagem a ocorrência da forma verbal "acreditar", notavelmente empregada, diante da ausência de preposição, como forma transitiva direta cujo significado se aproxima de "ter como verdade", "supor".

    Diante do contexto de emprego do verbo, a partícula "se" atua como partícula apassivadora que, pela ausência de indicação do agente da passiva, indetermina o sujeito da ação.

    "Alguém acredita serem vestígios de uma cultura paleoamericana."

    "Serem vestígios de uma cultura paleoamericana é acreditado (tido como verdade, suposto) por alguém."

    Não há contexto, diante da ausência de preposição acompanhando a forma verbal, para que se dê a partícula "se" a classificação de índice de indeterminação do sujeito.

    Importante ainda destacar que, embora não seja função direta da partícula apassivadora, em construções de voz passiva sintética a não explicitação do agente da passiva pode servir indiretamente como forma de indeterminar o sujeito.

    Gabarito da banca: errado

    Gabarito correto: certo

  • Pessoal solicitem o comentário do professor a questão abre margem para vários entendimentos.

  • acreditar é verbo transitivo indireto (quem acredita, acredita EM alguma coisa)

    verbo transitivo direto + SE = partícula apassivadora

    verbo transitivo indireto + SE = índice de indeterminação de sujeito

  • Acredito que a partícula "se" seja uma conjunção integrante.

  • Peçam comentário

  • Minha contribuição.

    VTD / VTDI + SE = pronome apassivador

    VL / VI / VTI + SE = índice de indeterminação do sujeito

    Abraço!!!

  • Acho que o "se" nesse contexto é pronome oblíquo e teve um caso de próclise por causa do "que"
  • A partícula SE pode adquirir as seguintes classificações

    a) Pronome apassivador: Relaciona-se com VTD ou VTDI, estando na voz passiva sintética, o verbo pode ser flexionado para o plural.

    Bizu: para reconhecê-lo muda-se o verbo para a voz passiva sintética

    EX: Fiscalizaram-se várias CNHs / voz passiva sintética

        Várias CNHs foram fiscalizadas / voz passiva analítica

    b) PIV: Integra verbos essencialmente pronominais, que denotam quase sempre sentimentos e atitudes próprias do sujeito. QUEIXAR-SE, ARREPENDER-SE, VANGLORIAR-SE, SUBMETER-SE E ETC

    EX: Os garotos queixaram-se do mau atendimento.

    c) Índice de indeterminação do sujeito: Relaciona-se com VI, VTD OU VL, uma vez que conjugados na 3º pessoa do singular

    Bizu: para identificar, basta substituir o "SE" por alguém ou ninguém.

    EX: Precisa-se de funcionários = Alguém precisa de funcionários

    d) Pronome reflexivo: Dependendo de como se relaciona com o verbo, o pronome "se" pode exercer função de OBJD, OBJI ou SUJEITO DE UM INFINITIVO, assumindo o sentido de "a si mesmo"

    EX: A garota penteou-se diante do espelho = A garota penteou a si mesmo diante do espelho

  • O comentário de Ivan Lucas está correto, e também discordo do gabarito apresentado pela banca. Fernando Pestana inclusve menciona que o verbo 'acreditar' em uma construção oracional muda sua transitividade para VTD.

    "Alguns verbos transitivos indiretos, como 'acreditar', quando passam a ter complemento verbal em forma de oração, mudam de transitividade, passando a transitivos diretos. Tais verbos estão ligados ao campo semântico do julgamento, opinião, crença: acreditar, crer, desconfiar, pensar.

    – Acredito em Deus. = Acredito que Deus existe."

    Fonte: As dúvidas de português mais comuns em concursos, 1ª 2015, pg. 25.

  • Marquei errado e acertei a questão, pois acho que o "se" seria parte integrante do verbo?

  • temos um pronome relativo que antecede a colocação pronominal, "SE" antes do verbo. pronome relativo nesse contexto antecedendo o verbo pede colocação pronominal
  • índice de indeterminação do sujeito.

    Quando passamos para a voz passiva analítica, não faz sentido ---> vestígios de uma cultura paleoamericana são acreditados. Acontece com os verbos transitivos indiretos.