SóProvas


ID
5575726
Banca
FCC
Órgão
TJ-SC
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.

A crônica em sua função

   A palavra crônica é conhecida e designa um gênero de texto. Vem por vezes acompanhada de adjetivo: política, esportiva, social, policial etc. Se vier desacompanhada de qualquer qualificativo, é porque ela serve a um cronista não especializado, um escritor de linguagem cativante que pode falar de qualquer coisa que desperte o interesse do leitor. Não há jornal ou revista que dispense esse tipo de cronista. Que função terá essa modalidade de crônica, livre que está para abordar não importa o que seja?
     Quando, ao ler um jornal, nos detemos nela, é porque sabemos que a mão do escritor, com leveza de estilo, com algum humor, com um mínimo de sabedoria e perspicácia, nos conduzirá por um texto que nos poupa da gravidade dos grandes assuntos da política ou da economia e chamará nossa atenção para algum assunto que, não sendo manchete, diz respeito à nossa vida pequenina, ao nosso cotidiano, aos nossos hábitos, aos nossos valores mais íntimos. Uma crônica pode falar de uma dor de dente, de um incidente na praia, de um caso de amor, de uma viagem, de um momento de tédio ou até mesmo da falta de assunto. O importante é que o cronista faça de seu texto um objeto hipnótico, do qual não se consegue tirar os olhos. Para isso, há que haver talento. 
    Entre nós, pontifica até hoje o nome do cronista Rubem Braga (1913-1990). É uma unanimidade: todos o consideram o maior de todos, o mestre do gênero. De fato, Rubem Braga cumpriu com excelência o alcance de um cronista: deu-nos poesia, reflexão, análise, lucidez, ironia, humor − tudo numa linguagem de exemplar clareza e densidade subjetiva. A crônica de Rubem Braga cumpriu à perfeição o papel fundamental desse gênero literário pouco homenageado. Nas palavras do crítico Antonio Candido, uma crônica “pega o miúdo da vida e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas. Isto acontece porque ela não tem a pretensão de durar, uma vez que é filha do jornal e da era da máquina, onde tudo acaba tão depressa”. O crítico não tem dúvida em considerar que as boas crônicas, “por serem leves e acessíveis talvez comuniquem, mais do que poderia fazer um estudo intencional, a visão humana do homem na sua vida de todo dia”. Não é pouca coisa. Vida longa aos bons cronistas. 
(Jeremias Salustiano, inédito)

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: B

    Pode haver outros erros que não detectei. Fui pela concordância:

    a) Se nas manchetes o assunto de que tratam no jornal tem gravidade, nas crônicas suscedem muitas vezes que a importância esteje nos pormenores. → Errado. O que sucede (sem o S, viu? rsrs) nas crônicas? Que a importância esteja nos pormenores. ISSO (que a importância esteja nos pormenores) SUCEDE (sem o S) nas crônicas. Além disso, o verbo estar, no presente do subjuntivo, se conjuga assim: que eu esteja, que tu estejas, que ele esteja (...). Não existe, então, "esteje".

    • Cuidado para não confundir com SUSCITAR. Essa palavra, sim, se escreve com S ;)

     

    b) Continua viva e atraente nos periódicos de hoje (1) a presença de crônicas que nos atraiam (2) pela leveza e pela vivacidade de estilo. → Correto.

    1- O que continua vivo e atraente nos periódicos? A presença de crônicas. A presença continua VIVA e ATRAENTE nos periódicos.

    2- O que nos atrai? Crônicas. O pronome relativo "que" retoma "crônicas". Como não há outra interpretação a ser feita, o verbo fica no singular.

    • Lembre-se de que, se houver dois substantivos antes do pronome relativo, pode o verbo concordar com um dos dois, desde que o sentida frase esteja claro: "O resultado das pesquisas que se apurou/se apuraram provocou polêmica".
    • No caso da questão, não poderíamos empregar a concordância com "presença", pois o sentido ficaria prejudicado.

     

    c) Não devem haver assuntos que uma boa crônica não possa tratar, ao lhes dar uma importância desmerecida. → Errado. Pessoal, o verbo haver, quando possui sentido de existir, é impessoal e, por isso, não vai ao plural (houve brigas na rua → houveram brigas na rua x). Numa locução verbal (verbo auxiliar + principal), ele contaminará o auxiliar com a impessoalidade. Por isso o correto é: "não DEVE haver assuntos (...)"

     

    d) Pouco importam que os assuntos tratados numa crônica tenham relevância, uma vez que é ela mesma que os concede com seu talento. → Errado. O que pouco importa? Que os assuntos tratados tenham relevância. Pouco importa ISSOISSO pouco importa. Temos um sujeito oracional (verbo no lugar do sujeito) e, por isso, o verbo ficará no singular

     

    e) O autor do texto não considera de somenas importância o fato de que as crônicas alcancem uma grandeza humana pouco intencional. → Errado. Perguntei ao colega Sr. Shelking e ele disse: "o adjetivo 'somenos' não é biforme, ou seja, não possui uma forma para o masculino e outra para o feminino. Esse adjetivo é comum de dois gêneros e grafa-se sempre "somenos", e não 'somenas'. Está atrelado ao substantivo 'importância'".

    • Somenos: irrelevante, inferior. "a questão não é de somenos; merece reflexão"

     

    (comentário corrigido após notificação do colega).

    Bons estudos! :)

  • CUIDADO

    Há comentário que indica como corretas construções que incorrem em erro.

    Solicita-se indicação da construção livre de imperfeições:

    A) Se nas manchetes o assunto de que tratam no jornal tem gravidade, nas crônicas suscedem muitas vezes que a importância esteje nos pormenores.

    Incorreta. Há incorreta grafia dos termos destacados, respectivamente as formas verbais "sucedem", sem "s", e "esteja", inexistindo a conjugação "esteje".

    A forma verbal "sucedem", ainda que estivesse grafada corretamente, apresentaria erro de concordância, devendo apresentar-se em forma singular para concordar com seu sujeito "que a importância esteja nos pormenores".

    A forma verbal "tratam", em terceira pessoa do plural, está corretamente flexionada para indicar sujeito indeterminado (salvo presença de sujeito determinável em outra passagem da construção maior).

    B) Continua viva e atraente nos periódicos de hoje a presença de crônicas que nos atraiam pela leveza e pela vivacidade de estilo. 

    Correta. A construção não possui problemas.

    Faço importante adendo: é incorreto o comentário disponível que afirma ser possível a flexão singular do verbo "atraiam".

    Na construção "...a presença de crônicas que nos atraiam pela leveza e pela vivacidade de estilo.", a presença da construção "pela leveza e pela vivacidade do estilo" deixa claro que a relação semântica ocorre com o substantivo plural "crônicas", vez que estas, e não o substantivo "presença", possuem leveza e vivacidade de estilo.

    A concordância com o substantivo "presença", como se este possuísse leveza e vivacidade de estilo, gera grave incoerência textual.

    C) Não devem haver assuntos que uma boa crônica não possa tratar, ao lhes dar uma importância que julgávamos des- merecida.

    Incorreta. A locução verbal "deve haver" possui como verbo principal a forma impessoal "haver", devendo a locução permanecer, em sua totalidade, impessoal. Não há justificativa para o emprego de hífen entre prefixo e radical no termo "desmerecida" (salvo se no PDF original for caso de translineação).

    D) Pouco importam que os assuntos tratados numa crônica tenham relevância, uma vez que é ela mesma que os concede com seu talento.

    Incorreta. O sujeito da forma verbal "importam" é a construção oracional imediatamente posterior, devendo o verbo assumir forma singular para com ele concordar.

    E) O autor do texto não considera de somenas importância o fato de que as crônicas alcancem uma grandeza humana pouco intencional.

    Incorreta. O adjetivo "somenos" é forma de dois gêneros e dois números, grafando-se sempre "somenos". A grafia apresentada pela banca é incorreta.

    Gabarito na alternativa B

  • A galera que está mais treinada..." nos periódicos de hoje" seria locução adverbial deslocada? Estaria entre vírgulas?

  • Oi, Jeferson, o Pestana diz que a FCC não leva em conta esta regrinha de que, em um adjunto adverbial com mais de 3 palavras, a vírgula é obrigatória. Para a banca, a vírgula é facultativa.

    Veja: "a banca FCC não considera essa regra em suas provas, ou seja, por mais que o adjunto adverbial tenha até mais de três vocábulos, ela ainda considera facultativa a vírgula" (F. Pestana; A Gramática para Concursos Públicos; capítulo 27 - pontuação; pág. 679 da 4ª edição).

    Qualquer dúvida é só perguntar. Um abraço! :)