SóProvas


ID
5641330
Banca
VUNESP
Órgão
UNICAMP
Ano
2022
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto, para responder à questão.



      O escritor argentino Jorge Luis Borges, que não era muito simpático à etimologia, apontou a inutilidade de saber que a palavra cálculo veio do latim “calculus”, pedrinha, em referência aos pedregulhos usados antigamente para fazer contas.


      Tal conhecimento, argumentou o genial autor de “A Biblioteca de Babel”, não nos permite “dominar os arcanos da álgebra”. Verdade: ninguém aprende a calcular estudando etimologia.


      O que Borges não disse é que o estudo da história das palavras abre janelas para como a linguagem funciona, como produz seus sentidos, que de outro modo permaneceriam trancadas. É pouco?


      Exemplo: a história de “calculus” não ensina ninguém a fazer contas, mas a do vírus ilustra muito bem o mecanismo infeccioso que opera dentro dos – e entre os – idiomas.


      O latim clássico “virus”, empregado por Cícero e Virgílio, é a origem óbvia da palavra sob a qual se abriga a apavorante covid-19. Ao mesmo tempo, é uma pista falsa.


      Cícero e Virgílio não faziam ideia da existência de um troço chamado vírus. Este só seria descoberto no século 19, quando o avanço das ciências e da tecnologia já tinha tornado moda recorrer a elementos gregos e latinos para cunhar novas expressões para novos fatos.


      Contudo, a não ser pelo código genético rastreável em palavras como visgo, viscoso e virulento, fazia séculos que o “virus” latino hibernava. Foi como metáfora venenosa que, já às portas do século 20, saiu do frigorífico clássico para voltar ao quentinho das línguas.


      Em 1898, o microbiologista holandês Martinus Beijerink decidiu batizar assim certo grupo de agentes infecciosos invisíveis aos microscópios de então, com o qual o francês Louis Pasteur tinha esbarrado primeiro ao estudar a raiva.


      O vírus nasceu na linguagem científica, mas era altamente contagioso. Acabou se tornando epidêmico no vocabulário comum de diversas línguas. O vírus da palavra penetrou no vocabulário da computação em 1972, como nome de programas maliciosos que se infiltram num sistema para, reproduzindo-se, colonizá-lo e infectar outros.


      No século 21, com o mundo integrado em rede, deu até num verbo novo, viralizar. Foi a primeira vez que um membro da família ganhou sentido positivo, invejável: fazer sucesso na internet, ser replicado em larga escala nas redes sociais. 


      Mesmo essa acepção, como vimos, tinha seu lado escuro, parente de um uso metafórico bastante popular que a palavra carrega há décadas. No século passado, tornou-se possível falar em “vírus do fascismo”, por exemplo. Ou “vírus da burrice”.


      Antigamente, quando se ignorava tudo sobre os vírus, uma receita comum que as pessoas usavam para se proteger do risco de contrair as doenças provocadas por eles era rezar. Está valendo. 


(Sérgio Rodrigues. O vírus da linguagem. Folha de S.Paulo, 12.03.2020. Adaptado)

A concordância, tanto verbal quanto nominal, está de acordo com a norma-padrão em:

Alternativas
Comentários
  • Sujeito Composto preposto ao verbo - preferência do freguês

    Sujeito Composto posposto ao verbo: posso concordar com os dois? deve

  • a) Foi apontado por Borges a inutilidade de saber que a palavra cálculo veio do latim “calculus”. 

    Incorreto. Há erro de concordância nominal. O particípio "apontado" deve concordar com o núcleo "inutilidade". Correção: "Foi apontada por Borges a inutilidade (...)";

    b) Usado pelas pessoas antigas para proteção contra doenças, orações parecem estarem na moda atualmente. 

    Incorreto. Há erro de concordância verbal e nominal: o particípio "usado" deve concordar em número e gênero com o núcleo a que se refere, ou seja, "orações"; à frente, há um caso peculiar: diante de construção "parece + estar", pode-se flexionar ou o auxiliar e manter o principal no infinitivo (parecem estar) ou o principal e manter o auxiliar no infinitivo (parece estarem), mas nunca ambos concomitantemente (parecem estarem). Essa dupla opção ocorre devido a um fenômeno em que é possível ou não considerar "parecer + estar" locução verbal: se consideramos, a flexão se dá com o verbo auxiliar, tal como ocorre com qualquer locução verbal (parecem estar); se não consideramos, flexionamos o principal (parece estarem). Correção: "Usadas pelas pessoas antigas para proteção contra doenças, orações parecem estar (ou parece estarem) na moda atualmente";

    c) Batizou-se de vírus os agentes infecciosos naquela época invisível aos microscópios. 

    Incorreto. Há erro de concordância verbal. O verbo "batizar" deve concordar com o núcleo a que se refere. O "se" acoplado a ele apenas marca a voz passiva sintética. Correção: "Batizaram-se de vírus os agentes (...)";

    d) De origem latina, “calculus” era empregado em referência aos pedregulhos que se usavam antigamente para fazer contas.

    Correto. Toda a concordância (verbal e nominal) foi respeitada;

    e) O funcionamento e a produção de sentidos da linguagem pode ser conhecida por meio do estudo da história das palavras.

    Incorreto. Há erro de concordância verbal e nominal. O verbo "poder" deve concordar no plural com ambos os núcleos (funcionamento e produção) e o adjetivo "conhecido" deve concordar no plural masculino (conhecidos). Correção: "O funcionamento e a produção (...) podem ser conhecidos..."

    Letra D

  • A) Foi apontado por Borges a inutilidade de saber que a palavra cálculo veio do latim “calculus”. (A Inutilidade foi apontadA...)

    B) Usado pelas pessoas antigas para proteção contra doenças, orações parecem estarem na moda atualmente. (Usadas, orações parecem estar...)

    C) Batizou-se de vírus os agentes infecciosos naquela época invisível aos microscópios. (Batizaram-se...)

    D) De origem latina, “calculus” era empregado em referência aos pedregulhos que se usavam antigamente para fazer contas.

    E) O funcionamento e a produção de sentidos da linguagem pode ser conhecida por meio do estudo da história das palavras. (Podem ser conhecidos...)

  • GABARITO: D

    (A) Foi apontado por Borges a inutilidade de saber que a palavra cálculo veio do latim “calculus”. → Errado. O que foi apontado por Borges, pessoal? A inutilidade. A inutilidade foi APONTADA por Borges.

     

    (B) Usado (1) pelas pessoas antigas, orações parecem estarem (2) na moda atualmente. → Errado.

    1- O que é usado pelas pessoas antigas para proteção? Orações. Orações são USADAS pelas pessoas antigas.

    2- Aqui temos o verbo parecer seguido de infinitivo (parece estar). Quando isso acontecer, você flexionará OU o verbo parecer (orações parecem estar na moda) OU o infinitivo (orações parece estarem na moda), mas não os dois, como o examinador fez. Sei que ficou estranho o segundo exemplo rsrs, mas é assim mesmo. Outro exemplo:

    1. “Os sujeitos parecem estar nervosos”; (flexionei o primeiro)
    2. “Os sujeitos parece estarem nervosos” (flexionei o segundo).

    ➥ Não deixe de fazer: Q993327 (Ag. Adm/Pref. S. João).

     

    (C) Batizou-se de vírus os agentes infecciosos naquela época invisível aos microscópios. → Errado. O que se batizou de vírus? Os agentes infecciosos. Os agentes foram batizados de vírus. O correto é: “batizaram-se de vírus os agentes...”

      

    (D) De origem latina, “calculusera empregado em referência aos pedregulhos que se usavam antigamente para fazer contas. → Correto.

    1- O que era empregado em referência aos pedregulhos? “Calculus”. Dizendo de outra forma: o termo “calculus” era empregado em referência aos pedregulhos”.

    2- O que se usava antigamente para fazer contas? Pedregulhos. Pedregulhos eram usados para fazer conta.

     

    (E) O funcionamento e a produção de sentidos da linguagem pode ser conhecida por meio do** estudo da história das palavras. → Errado. Temos um sujeito composto (o funcionamento e a produção) ligado ao verbo (pode ser conhecido). A regrinha aqui é a seguinte:

    Se o verbo vier...

    1- ANTES do sujeito composto: concorda com o mais próximo ou com o todo:

    • Foi fabricado um boneco e uma boneca” ou (com o mais próximo);
    • foram fabricados um boneco e uma boneca” (com o todo, no masculino).

    2- DEPOIS do sujeito composto: concorda com o todo:

    • um boneco e uma boneca foram fabricados”.

    ➥ Na questão, temos o 2º caso, logo a concordância deve ser com O TODO, no masculino: “o funcionamento e a produção (...) podEM ser conhecidoS”.

    **Complementando: “por meio de” ou “através de”? Depende:

    • Através → Passa a ideia de atravessar/cruzar: o fantasma passou através da porta"; “ele passou o telefone através da janela”.
    • Por meio de → Passa a ideia de “por intermédio de”: “o pacote chegou por meio dos Correios” ou “eu conheci meu namorado por meio da Internet”.

    (IADES/SES-DF/2018) Na oração “O poder da meditação também já foi comprovado por meio de pesquisas” (linhas 22 e 23), o termo sublinhado pode ser corretamente substituído por através. → Errado. O poder da meditação foi comprovado por intermédio de pesquisas. O sentido não é o de “cruzar”, “atravessar algo” etc.

    • Veja se entendeu: Q1837385 (FGV/2021).

     

    Bons estudos! :)

  • GABARITO: D

    (A) Foi apontado por Borges a inutilidade de saber que a palavra cálculo veio do latim “calculus”. → Errado. O que foi apontado por Borges, pessoal? A inutilidade. A inutilidade foi APONTADA por Borgem.

     

    (B) Usado (1pelas pessoas antigas, orações parecem estarem (2na moda atualmente. → Errado.

    1- O que é usado pelas pessoas antigas para proteção? Orações. Orações são USADAS pelas pessoas antigas.

    2- Aqui temos o verbo parecer seguido de infinitivo (parece estar). Quando isso acontecer, você flexionará OU o verbo parecer (orações parecem estar na moda) OU infinitivo (orações parece estarem na moda), mas não os dois, como o examinador fez. Sei que ficou estranho o segundo exemplo rsrs, mas é assim mesmo. Outro exemplo:

    1. “Os sujeitos parecem estar nervosos”; (flexionei o primeiro)
    2. “Os sujeitos parece estarem nervosos” (flexionei o segundo).

    ➥ Não deixe de fazer: Q993327 (Ag. Adm/Pref. S. João).

     

    (C) Batizou-se de vírus os agentes infecciosos naquela época invisível aos microscópios. → Errado. O que se batizou de vírus? Os agentes infecciosos. Os agentes foram batizados de vírus. O correto é: “batizaram-se de vírus os agentes...”

      

    (D) De origem latina, “calculus” era empregado em referência aos pedregulhos que se usavam antigamente para fazer contas. → Correto.

    1- O que era empregado em referência aos pedregulhos? “Calculus”. Dizendo de outra forma: o termo “calculus” era empregado em referência aos pedregulhos”.

    2- O que se usava antigamente para fazer contas? Pedregulhos. Pedregulhos eram usados para fazer conta.

     

    (E) O funcionamento e a produção de sentidos da linguagem pode ser conhecida por meio do** estudo da história das palavras. → Errado. Temos um sujeito composto (o funcionamento e a produção) ligado ao verbo (pode ser conhecido). A regrinha aqui é a seguinte:

    Se o verbo vier...

    1- ANTES do sujeito composto: concorda com o mais próximo ou com o todo:

    • Foi fabricado um boneco e uma boneca” ou (com o mais próximo);
    • foram fabricados um boneco e uma boneca” (com o todo, no masculino).

    2- DEPOIS do sujeito composto: concorda com o todo:

    • um boneco e uma boneca foram fabricados”.

    ➥ Na questão, temos o 2º caso, logo a concordância deve ser com O TODO, no masculino: “o funcionamento e a produção (...) podEM ser conhecidoS”.

    **Complementando: “por meio de” ou “através de”? Depende:

    • Através → Passa a ideia de atravessar/cruzar: o fantasma passou através da porta"; “ele passou o telefone através da janela”.
    • Por meio de → Passa a ideia de “por intermédio de”: “o pacote chegou por meio dos Correios” ou “eu conheci meu namorado por meio da Internet”.

    (IADES/SES-DF/2018) Na oração “O poder da meditação também já foi comprovado por meio de pesquisas” (linhas 22 e 23), o termo sublinhado pode ser corretamente substituído por através. → Errado. O poder da meditação foi comprovado por intermédio de pesquisas. O sentido não é o de “cruzar”, “atravessar algo” etc.

     

    Recomentado.

    Espero ter ajudado.

    Bons estudos! :)

  • achei essa questão PESADA. :-(

  • A questão de o gabarito ser D é perigosa. Era necessário entender "cálculus" como O TERMO e não A PALAVRA, pois se fosse entendido como A PALAVRA, a concordância nominal estaria errada no período. Outrossim, o correto seia "era empregadA"