- ID
- 606313
- Banca
- CESGRANRIO
- Órgão
- FINEP
- Ano
- 2011
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
RETRATOS DE UMA ÉPOCA
Mostra exibe cartões-postais de um tempo que não volta mais
Em tempos de redes sociais e da presença cada
vez maior da internet no cotidiano, pouca gente se
recorda de que nem sempre tudo foi assim tão rápido,
instantâneo e impessoal. Se os adultos esquecem
logo, crianças e adolescentes nem sabem como os
avós de seus avós se comunicavam. Há 15 dias, uma
educadora no Recife, Niedja Santos, indagou a um
grupo de estudantes quais os meios de comunicação
que eles conheciam. Nenhum citou cartões-postais.
Pois eles já foram tão importantes que eram usados
para troca de mensagens de amor, de amizade,
de votos de felicidades e de versos enamorados que
hoje podem parecer cafonas, mas que, entre os sé-
culos XIX e XX, sugeriam apenas o sentimento movido
a sonho e romantismo. Para se ter uma ideia de
sua importância, basta lembrar um pouco da história:
nasceram na Áustria, na segunda metade do século
XIX, como um novo meio de correspondência. E
a invenção de um professor de Economia chamado
Emannuel Hermann fez tanto sucesso que, em apenas
um ano, foram vendidos mais de dez milhões
de unidades só no Império Austro-Húngaro. Depois,
espalharam-se pelo mundo e eram aguardados com
ansiedade.
– A moda dos cartões-postais, trazida da Europa,
sobretudo da França, no início do século passado
para o Recife de antigamente, tornou-se uma mania
que invadiu toda a cidade – lembra o colecionador
Liedo Maranhão, que passou meio século colecionando-os
e reuniu mais de 600, 253 dos quais estão
na exposição “Postaes: A correspondência afetiva na
Coleção Liedo Maranhão", no Centro Cultural dos
Correios, na capital pernambucana.
O pesquisador, residente em Pernambuco, começou
a se interessar pelo assunto vendo, ainda jovem,
os postais que eram trocados na sua própria família.
Depois, passou a comprá-los no Mercado São
José, reduto da cultura popular do Recife, onde eram
encontrados em caixas de sapato ou pendurados em
cordões para chamar a atenção dos visitantes. Boa
parte da coleção vem daí. [...]
– Acho que seu impacto é justamente o de trazer
para o mundo contemporâneo o glamour e o romantismo
de um meio de comunicação tão usual no passado
– afirma o curador Gustavo Maia.
– O que mais chama a atenção é o sentimento
romântico como conceito, que pode ser percebido na
delicadeza perdida de uma forma de comunicação
que hoje está em desuso – reforça Bartira Ferraz, outra
curadora da mostra. [...]
LINS, Letícia. Retratos de uma época. Revista O Globo,
Rio de Janeiro, n. 353, p. 26-28, 1o
maio 2011. Adaptado.