SóProvas


ID
637657
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Congonhas - MG
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

É tempo de pós-amor

   Cansei de amor! Quantos filmes, entrevistas, artigos, livros sobre amor cruzaram seu caminho ultimamente? Em uma semana, assisti a um vídeo, vi um filme, li meio livro e participei de um debate na televisão. Tudo sobre amor. E ouvi as pessoas – provavelmente também eu própria – dizerem coisas pertinentes e bem ditas que, de tão pertinentes e repetidas, já se tornaram chavões comportamentais, e parecem fichas de computador dissecadas de qualquer verdade emocional. E de repente está me dando uma urticária na alma, um desconforto interno que em tudo se assemelha à indigestão.

    Estamos fazendo com o amor o que já fizemos com o sexo. Na década passada parecia que tínhamos reinventado o sexo. Não se pensava, não se falava, não se praticava outro assunto. Toda a nossa energia pensante, todo o nosso esforço vital pareciam concentrados na imensa cama que erguíamos como única justificativa da existência humana. Transformamos o sexo em verdade. Adoramos um novo bezerro de ouro.

    Mas o ouro dos bezerros modernos é de liga baixa, que logo se consome na voracidade da mass media. O sexo não nos deu tudo o que dele esperávamos, porque dele esperávamos tudo. E logo a sociedade começou a olhar em volta, à procura de um outro objeto de adoração. Destronado o sexo, partiu-se para a grande festa de coroação do amor.

  Agora, aqui estamos nós, falando pelos cotovelos, analisando, procurando, destrinchando. E desgastando. Antes, quando eu pensava numa conversa séria, direita, com a pessoa que se ama, sabia a que me referia. Mas agora, quando ouço dizer que “o diálogo é fundamental para a manutenção dos espaços”, não sei o que isso quer dizer, ou melhor, sei que isso não quer dizer mais nada. Antes, quando eu pensava ou dizia que amor é fundamental, tinha a exata noção da diferença entre o fundamental e o absoluto. Mas agora, quando eu ouço repetido de norte a sul, como num gigantesco eco, que “a vida sem amor não tem sentido”, fico com a impressão de estar ouvindo um slogan publicitário e me retraio porque sei que estão querendo me impor um produto.

    A vida sem amor pode fazer sentido, e muito. É bom que a gente recomece a dizer isso. Mesmo porque há milhões de pessoas sem amor, que viveriam bem mais felizes se de repente a voz geral não lhes buzinasse nos ouvidos que isso é impossível. O mundo só andou geometricamente aos pares na Arca de Noé. Fora disso, anda emparelhado quem pode, quando pode. E o resto espera uma chance, sem nem por isso viver na escuridão.

   Antes que se frustrem as expectativas, como aconteceu com o sexo, seria prudente descarregar o amor, tirar-lhe dos ombros a responsabilidade. Ele não pode nos dar tudo. Nada pode nos dar tudo. Porque o tudo não existe. O que existe são parcelas, que, eternamente somadas e subtraídas, multiplicadas e divididas, nos aproximam e afastam do tudo. E a matemática dessas parcelas pode ser surpreendente: quando, como está acontecendo agora, tentamos agrupá-las todas em cima de uma única parcela – o amor −, elas não se somam, pelo contrário, se fracionam, causando o esfacelamento da parcela-suporte.

     Amor criativo é ótimo, dizem todos. E é verdade. Mas melhor ainda é pegar uma parte da criatividade que está concentrada no amor, e jogá-la na vida. Solta, ela terá possibilidades de contaminar o cotidiano, permear a vida toda e voltar a abastecer o amor, sem deixar-se absorver e esgotar por ele. Dedicar-se à relação é importante, dizem todos. E é verdade. Mas qualquer um de nós tem inúmeras relações, de amizade, vizinhança, sociais, e anda me parecendo que concentrar toda a dedicação na relação amorosa pode custar o empobrecimento das outras.

   Sim, o amor é ótimo. Porém acho que vai ficar muito melhor quando sair do foco dos refletores e passar a ser vivido com mais naturalidade. Quando readquirirmos a noção de que não é mais vital do que comer e banhar o corpo em água fria nem mais tranquilizador do que ter amigos e estar de bem com a própria cara. Quando aceitarmos que não é o sal da terra, simplesmente porque a terra é seu próprio sal, e é ela que dá sabor ao amor.

(Colasanti, Marina, 1937 – Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996) 

A expressão destacada foi corretamente substituída pela forma átona do pronome pessoal em:

Alternativas
Comentários
  • Forma Correta agrupar Pronomes Oblíquos Átonos aos Verbos
     
    Me, te, se, lhe, lhes, o, a, os, as, nos, vos:
     
    a) Associados a verbos terminados em R, S, Z, e à palavra Eis, os pronomes o, a, os, as assumem as antigas formas    lo, la, los, las,caindo aquelas consoantes:
    Ex:prendê-lo. / Ajudemo-la. / Fê-los entrar. / Ei-lo aqui!
     
     
    b) associados a verbos terminados em ditongo nasal -AM,
    -EM; -ÃO, -ÕE), os ditos pronomes tomam as forma   no, na,
    nos, nas:
    Ex:Trazem-no. / Ajudavam-na. / Dão-nos de graça /Põe-no aqui.
     
     
    c) associados a verbos conjugados no futuro do presente do
    indicativo ou no futuro do pretérito do indicativo, os pronomes “dividem” o verbo, sendo empregados logo após o infinitivo e antes da desinência, respeitando as regras anteriores funciona como objeto direto ocupa a posição mesoclítica, com as devidas acomodações:
    ex1: localizá-la-á.
     
     
    Ex: cantar + o + ei = cantá-lo-ei; dar + lhe + ei =
    dar-lhe-ei
  • Sobre o comentário da Glauce, na letra e), acredito que a frase está construída na voz passiva sintética, no modo subjuntivo (Antes que as expectativas sejam frustradas); as expectativas é o sujeito paciente. Sendo assim, a substituição pela forma átona nem faria sentido. Colegas do site, estou correto? 
  • Colocando a explicação de Juliana em pratica:

    a) livros sobre amor cruzara-no

     b)“... reinventado-o 

     c) “Transformamo-lo

     d)“A vida sem amor pode faze-lo

     e)“Antes que se frustre-nas

     

    "Bendizei ao Senhor em todas as suas obras..."

  • Na letra A, se estivesse '' cruzaram - lhe o caminho '' estaria correta? Porque pronomes pessoais podem possuir valor de pronomes possessivos.

    Estou errada? Alguém poderia me ajudar?

  • Jéssica Tolentino, o LHE só pode ser usado como Objeto Indireto. Portanto, com VTI ou VTDI. Ex.: Darei a ele = Dar-lhe-ei.