SóProvas


ID
637675
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Congonhas - MG
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

É tempo de pós-amor

   Cansei de amor! Quantos filmes, entrevistas, artigos, livros sobre amor cruzaram seu caminho ultimamente? Em uma semana, assisti a um vídeo, vi um filme, li meio livro e participei de um debate na televisão. Tudo sobre amor. E ouvi as pessoas – provavelmente também eu própria – dizerem coisas pertinentes e bem ditas que, de tão pertinentes e repetidas, já se tornaram chavões comportamentais, e parecem fichas de computador dissecadas de qualquer verdade emocional. E de repente está me dando uma urticária na alma, um desconforto interno que em tudo se assemelha à indigestão.

    Estamos fazendo com o amor o que já fizemos com o sexo. Na década passada parecia que tínhamos reinventado o sexo. Não se pensava, não se falava, não se praticava outro assunto. Toda a nossa energia pensante, todo o nosso esforço vital pareciam concentrados na imensa cama que erguíamos como única justificativa da existência humana. Transformamos o sexo em verdade. Adoramos um novo bezerro de ouro.

    Mas o ouro dos bezerros modernos é de liga baixa, que logo se consome na voracidade da mass media. O sexo não nos deu tudo o que dele esperávamos, porque dele esperávamos tudo. E logo a sociedade começou a olhar em volta, à procura de um outro objeto de adoração. Destronado o sexo, partiu-se para a grande festa de coroação do amor.

  Agora, aqui estamos nós, falando pelos cotovelos, analisando, procurando, destrinchando. E desgastando. Antes, quando eu pensava numa conversa séria, direita, com a pessoa que se ama, sabia a que me referia. Mas agora, quando ouço dizer que “o diálogo é fundamental para a manutenção dos espaços”, não sei o que isso quer dizer, ou melhor, sei que isso não quer dizer mais nada. Antes, quando eu pensava ou dizia que amor é fundamental, tinha a exata noção da diferença entre o fundamental e o absoluto. Mas agora, quando eu ouço repetido de norte a sul, como num gigantesco eco, que “a vida sem amor não tem sentido”, fico com a impressão de estar ouvindo um slogan publicitário e me retraio porque sei que estão querendo me impor um produto.

    A vida sem amor pode fazer sentido, e muito. É bom que a gente recomece a dizer isso. Mesmo porque há milhões de pessoas sem amor, que viveriam bem mais felizes se de repente a voz geral não lhes buzinasse nos ouvidos que isso é impossível. O mundo só andou geometricamente aos pares na Arca de Noé. Fora disso, anda emparelhado quem pode, quando pode. E o resto espera uma chance, sem nem por isso viver na escuridão.

   Antes que se frustrem as expectativas, como aconteceu com o sexo, seria prudente descarregar o amor, tirar-lhe dos ombros a responsabilidade. Ele não pode nos dar tudo. Nada pode nos dar tudo. Porque o tudo não existe. O que existe são parcelas, que, eternamente somadas e subtraídas, multiplicadas e divididas, nos aproximam e afastam do tudo. E a matemática dessas parcelas pode ser surpreendente: quando, como está acontecendo agora, tentamos agrupá-las todas em cima de uma única parcela – o amor −, elas não se somam, pelo contrário, se fracionam, causando o esfacelamento da parcela-suporte.

     Amor criativo é ótimo, dizem todos. E é verdade. Mas melhor ainda é pegar uma parte da criatividade que está concentrada no amor, e jogá-la na vida. Solta, ela terá possibilidades de contaminar o cotidiano, permear a vida toda e voltar a abastecer o amor, sem deixar-se absorver e esgotar por ele. Dedicar-se à relação é importante, dizem todos. E é verdade. Mas qualquer um de nós tem inúmeras relações, de amizade, vizinhança, sociais, e anda me parecendo que concentrar toda a dedicação na relação amorosa pode custar o empobrecimento das outras.

   Sim, o amor é ótimo. Porém acho que vai ficar muito melhor quando sair do foco dos refletores e passar a ser vivido com mais naturalidade. Quando readquirirmos a noção de que não é mais vital do que comer e banhar o corpo em água fria nem mais tranquilizador do que ter amigos e estar de bem com a própria cara. Quando aceitarmos que não é o sal da terra, simplesmente porque a terra é seu próprio sal, e é ela que dá sabor ao amor.

(Colasanti, Marina, 1937 – Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996) 

Assinale a alternativa que é frase, mas não é oração:

Alternativas
Comentários
  • CORRETA A

    Questão simples de resolver. Vejam só:

    Frase é qualquer palavra ou conjunto de palavras que possuem significado. Oração é uma frase com verbo. Não tem verbo? Então não tem oração!

    a) Tudo sobre amor. [ Certíssima, não possui verbo algum ]

    b) Adoramos um novo bezerro de ouro. [ Errada, verbo - ADORAR ]

    c) Porque o tudo não existe. [ Errada, verbo - EXISTIR ]

    d) Sim, o amor é ótimo. [ Errada, verbo - SER ]

    e) ... e é ela que dá sabor ao amor. [ Errada, verbo - DAR ]


  • Questão dada, alternativa A correta

    Frase é tudo o enunciado capaz de transmitir uma ideia, oração conjunto linguistico que se estrutura em torno de um verbo

    Bons estudos

    SEAP 2012
  • Além dos comentários dos colegas, acredito que a melhor forma de perceber que a letra A é a correta é percebendo que existe supressão do artigo O antes de amor e por isso este não pode ser caracterizado como verbo.

    Abraços e bons estudos
  • Para que nao seja oracao, faz-se necessario que na frase nao haja verbo. Logo na Alternativa:
    a) Tudo sobre amor. - Vejam que amor neste caso, apesar de a palavra amor ser um verbo no infinitivo, esta como um Substantivo e sujeito.
    b) Adoramos e o verbo da frase, e esta no Presente do Indicativo. O Sujeito esta Oculto ( NOS ADORAMOS)
    c) Exste e o verbo da frase. Neste caso o sujeito e o Tudo.
    d) Vejam que neste caso o verbo e o "è", que e um verbo de ligacao. AMor e sujeito, e o Otimo e o predicativo do sujeito.
    e) Novamente o ver e E, mas tambem tem o verbo DA, de dar.

  • não tem verbo. portanto, não é oração. gabarito A.

  • Sem verbo= sem oração