SóProvas


ID
68782
Banca
FCC
Órgão
TRT - 3ª Região (MG)
Ano
2009
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas
vitaminosas.
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa,
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu
osso.
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é
tempo de comida,
mais tarde será o de amor.
Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios,
forma indecisa, evoluem.
O esplêndido negócio insinua-se no tráfego.
Multidões que o cruzam não veem. É sem cor e sem
cheiro.
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul,
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões,
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.

Escuta a hora espandongada da volta.
Homem depois de homem, mulher, criança, homem,
roupa, cigarro, chapéu, roupa, roupa, roupa,
homem, homem, mulher, homem, mulher, roupa, homem
imaginam esperar qualquer coisa,e se quedam mudos, escoam-se passo a passo, sentam-
se,últimos servos do negócio, imaginam voltar para casa,
já noite, entre muros apagados, numa suposta cidade,
imaginam.

(Carlos Drummond de Andrade. Nosso tempo, in Poesia
completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 128)

É correto perceber que o poeta

I. se dirige a alguém - que pode ser um eventual leitor - tratando-o pela 2º pessoa verbal.

II. se coloca como mais um elemento anônimo na multidão que se mistura aos trabalhadores nas ruas.

III. deixa implícito que os sentimentos pessoais - como, por exemplo, o amor - foram sobrepujados pela preocupação mercantil.

Está correto o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • o verbo não está na terceira pessoa do singular? ESCUTA, SALTA, ETC.Alguém poderia explicar esta questão?
  • A segunda assertiva apresenta-se incorreta.
  • LETRA B

    I. se dirige a alguém - que pode ser um eventual leitor - tratando-o pela 2º pessoa verbal. (CORRETA, pois a 2ª pessoa do presente do indicativo, transforma-se no imperativo afirmativo: tu escutas ==> Escuta)

    II. se coloca como mais um elemento anônimo na multidão que se mistura aos trabalhadores nas ruas. (NÃO, ele narra.)

    III. deixa implícito que os sentimentos pessoais - como, por exemplo, o amor - foram sobrepujados pela preocupação mercantil. (CORRETA, pois ele descreve uma rotina de trabalho, transporte, refeição meio que mecânica e racional, NÃO emocional como o amor)
  • colegas concurseiros, me deem essa força aqui pra futuros concursos:

    no item II eu fiquei em dúvida..

    de fato, considerando os versos, ele apenas narra..

    mas então eu me perguntei até que ponto o título faz parte do "texto"..

    o poema se chama "nosso tempo".. incluindo essa informação aos versos, fiquei com a impressão que ele se coloca como mais um em todos aspectos do texto..

    vi que pensei errado nesse caso.. mas e então? considerar a informação contida no título mas não contida no texto é, em regra, um erro numa questão de interpretação? depende de banca?

    muito grato pela ajuda.
  • O Otávio levantou uma dúvida que também é minha. Alguém pode ajudar?

  • I. se dirige a alguém - que pode ser um eventual leitor - tratando-o pela 2º pessoa verbal.  ( fato, o uso do imperativo na 2ª pessoa indica isso )

    II. se coloca como mais um elemento anônimo na multidão que se mistura aos trabalhadores nas ruas. ( Eu diria que extrapola, não se pode dizer que ele é qualquer um na multidão, ele é um ator ou participe,rs --- SIM , com gabarito sempre é possível acertar! )

    III. deixa implícito que os sentimentos pessoais - como, por exemplo, o amor - foram sobrepujados pela preocupação mercantil.( Sim, em todo o  texto, amor é dito muito rapidamente e fica para depois.. )


    Quanto à dúvida da Natalia e do Otávio,  Se o título faz parte do texto.
    A pergunta seria, que Título, o texto não tem título, o que vejo é parte do texto ( vendo o pdf da prova ).
    Num texto dissertativo em prosa, o título é algo mais sintético que a tese que é a opinião defendida sobre um tema.
    Uma frase desprovida (quase sempre) de verbo, e que busca instigar o leitor que adentre ao texto.

    No caso de uma poesia, que já é difícil compreender, pensar se o título (ausente) faz parte do texto é ...divagar..vamos devagar,rs
    Não sei se ajudei, mas a intenção foi essa.