O filho eterno
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Mas há um outro ponto, outra pequena utopia que o futebol promete – a alfabetização.
É a única área em que seu filho tem algum domínio da leitura, capaz de distinguir a maioria
dos times pelo nome, que depois ele digitará no computador para baixar os hinos de cada
clube em mp3, e que cantará, feliz, aos tropeços. Ele ainda confunde imagens semelhantes
– Figueirense e Fluminense, por exemplo – mas é capaz de ler a maior parte dos nomes.
Em qualquer caso, apenas nomes avulsos. O que não tem nenhuma importância, o pai
sente, além da brevíssima ampliação de percepção – alfabetizar é abstrair; se isso fosse
possível, se ele se alfabetizasse de um modo completo, o pai especula, ele seria arrancado
do seu mundo instantâneo dos sentidos presentes, sem nenhuma metáfora de passagem
(ele não compreende metáforas; como se as palavras fossem as próprias coisas que
indicam, não as intenções de quem aponta), para então habitar um mundo reescrito.
TEZZA, Cristovão. O filho eterno. 9ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2010, p. 221.
Assinale a alternativa que não expressa o sentido denotativo da linguagem.