Leia o texto para responder às questões 01 e 02.
O que leva um compositor popular consagrado,
uma glória da MPB, a escrever romances?
Para responder a essa pergunta, convém
lembrarmos algumas características da personalidade
de Chico Buarque de Holanda. Primeiro,
a forte presença de um pai que, além
de ser um historiador notável, era um fino crítico
literário. Depois, o fato de Chico ter se
dado conta de que sua genial produção musical
não bastava para dizer tudo que ele tinha a
nos dizer.
Não se pode dizer que o que o Chico nos
diz nos romances não tem nada a ver com o
que ele passa aos seus ouvintes através das
suas canções. No recém-lançado Budapeste,
por exemplo, eu, pessoalmente, vejo um clima
de bem-humorada resignação do personagem
com suas limitações, um clima que me parece
que encontrei, em alguns momentos, na sua
obra musical. Uma coisa, porém, são as imagens
sugestivas das canções; outra é a complexa
construção de um romance. A distância
entre ambas talvez pudesse ser comparada
àquela que vai das delicadas e rústicas capelas
românicas às imponentes catedrais góticas.
Chico Buarque percorreu esse caminho
com toda a humildade de quem queria aprender
a fazer melhor, mas também com a autoconfiança
de quem sabia que podia se tornar
um mestre romancista.
Valeu a pena. A autodisciplina lhe permitiu
mergulhar mais fundo na confusão da nossa
realidade, nas ambigüidades do nosso tempo.
A ficção, às vezes, possibilita uma percepção
mais aguda das questões em que estamos
todos tropeçando. No caso deste romance
mais recente de Chico Buarque, temos um rico
material para repensarmos, sorrindo, o problema
da nossa identidade: quem somos nós,
afinal?
(Leandro Konder, Jornal do Brasil, 18/10/2003)
Em relação ao texto, assinale a opção correta.