Ontologicamente considerada, a moral não pertence a nenhuma esfera
particular: é uma mediação entre as relações sociais; uma mediação entre o
indivíduo singular e sua dimensão humano‐genérica (HELLER, 2000).
Sua origem atende a necessidades práticas de regulamentação do
comportamento dos indivíduos, cumprindo uma função social no processo de
reprodução das relações sociais: contribui para a formação dos costumes que se estruturam pelo hábito, orientando a conduta dos indivíduos, em termos de
normas e deveres.
A moral se desenvolve quando os homens já adquiriram um certo grau de consciência, no momento em que foi superada a sua condição natural e instintiva;
quando o homem já vivia em comunidade, como membro de uma coletividade,
tendo desenvolvido a fabricação de instrumentos de trabalho e conquistado um
determinado nível de conhecimento e de domínio sobre a natureza (VAZQUEZ,
1984).
A moral é histórica e mutável: são os homens que criam as normas e os valores, mas a autonomia dos indivíduos em face das escolhas morais é relativa às
condições de cada contexto histórico. Mesmo nas sociedades onde ainda não existe
o domínio de classe, a coesão em torno de um único código de valor não significa a
inexistência de tensões. O ato moral supõe a adesão consciente e voluntária do indivíduo aos valores
éticos e às normas morais, ou seja, implica a convicção íntima do sujeito em face
dos valores e normas, pois se entende que só assim as mesmas serão
internalizadas como deveres. Dependendo da esfera e das condições sociais nas
quais a moral se objetiva, surgem maiores ou menores possibilidades dela se
realizar apenas no âmbito da singularidade voltada ao “eu” – âmbito da vida
cotidiana – ou em ações que podem atingir a coletividade e a dimensão humano‐
genérica dos indivíduos.
Fundamentos éticos do Serviço Social - Maria Lúcia Silva Barroco
Professora de Ética Profissional – PUC/SP