É a partir da década de 80 que emerge a "cultura organizacional" como objeto específico de produção de conhecimentos científicos (Hofstede, 1980; Motta & Caldas, 1997; Spink, 1997), tomando impulso importante na década de 90 (Fleury, Shinyashiki & Stevenato, 1997). Atualmente, a abordagem de Schein (1989) aparece como "campeã" de citações na literatura. Esse autor define cultura organizacional como um conjunto de pressupostos básicos eficazes, inventados, descobertos ou elaborados por um grupo que resultam do aprendizado ao lidar com problemas de adaptação externa e/ou de integração interna. O caráter eficaz de tais pressupostos se constitui, segundo o autor, no modo principal por meio do qual se opera a sua legitimação e sua transmissão aos novos membros do grupo como modelo correto de perceber, pensar e sentir em relação a tais problemas (Bertero, 1996; Fleury, 1996a). Apesar do uso recorrente da definição proposta por Schein, constata-se que a definição de cultura organizacional ainda está longe de ser um objeto de consenso na literatura (ver, por exemplo, as definições propostas por Fleury, 1996b; Garay, 2000).
O conceito de cultura organizacional adotado neste trabalho é o proposto por Freitas (1997). A autora define cultura organizacional da seguinte forma (grifos nossos):
"... um conjunto de representações imaginárias sociais ..., construídas e reconstruídas nas relações cotidianas dentro da organização, que são expressas em termos de valores, normas, significados e interpretações, visando a um sentido de direção e unidade, e colocando a organização como fonte de identidade e de reconhecimento para os seus membros". (p. 294-295)
O debate entre as várias linhas que discutem a cultura organizacional apontou para a necessidade de elaboração de uma proposta conceitual que, partindo da concepção de Schein, incorporasse a dimensão política inerente a tal fenômeno. Na proposta elaborada por Fleury (1989), a cultura organizacional é concebida como um conjunto de valores e pressupostos básicos, expresso em elementos simbólicos, que, em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construir a identidade organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e consenso como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação. Analisar, pesquisar e até mesmo procurar gerenciar a cultura das organizações incorporando essa dimensão política das relações de poder tem sido o desafio de pesquisadores e profissionais.
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1846103/mod_resource/content/1/Aula%209%20-%20Cultura%20e%20compet%C3%AAncia%20organizacional%20-%20FLEURY%20et%20al.pdf