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ID
903010
Banca
CESGRANRIO
Órgão
BNDES
Ano
2013
Provas
Disciplina
Psicologia
Assuntos

Se um psicólogo pretende levar adiante uma análise do trabalho, utilizando o método da confrontação cruzada proposto por Yves Clot, ele deve

Alternativas
Comentários
  • “por meio de observação da atividade (como filmagem, descrição e notas de campo), contraposto ao que se pensa que se faz nessa mesma situação (como entrevista, comentário e discussão). (...) é o trabalhador quem exercita a confrontação de si mesmo diante do seu trabalho” (Vieira, 2004, p.215). 

    O método da autoconfrontação cruzada representa um esforço de “estabelecer a relação entre as características observáveis e dedutíveis da atividade verbal e as demais dimensões da atividade em geral” (FAÏTA, 2002, p.49) na análise das situações de trabalho. 

    “Fundado sobre a teoria da enunciação de Bakhthin, esse procedimento consiste em criar uma primeira situação na qual um locutor, diante do filme de sua própria atividade de trabalho, se engaja num comentário, posicionando-o na “fronteira do discurso e da atividade” (Faïta e Vieira, 2004). Desse modo, a contextualização de sua atividade discursiva que se refere à sua atividade anterior confere uma dimensão concreta aos enunciados que ele produz. A autoconfrontação, do modo como a propomos, necessita da participação de um terceiro, observador ou pesquisador, cujo papel é manter os locutores no desconforto da situação criada, obrigando-os a compreender seus atos, já que, como escreveu Bakhthin (1984), “compreender é pensar a partir de um novo contexto”.

    A esse primeiro nível sucede uma fase ao longo da qual essa mesma atividade filmada é exposta ao olhar de um par, membro do coletivo que solicitou a demanda e está inserido no processo. Trocas vão acontecer, evoluindo de modo alternado sobre os registros do questionamento, da crítica, do começo de conflito, da pesquisa de um consenso, etc. Os pressupostos que no começo detinham os participantes não resistem ao processo dialógico.” (Faïta, 2005, p.121). 

    A autoconfrontação, uma vez que se constitui na produção de um discurso sobre a atividade, configura-se como uma atividade sobre a atividade. Atividade essa que não pode ocupar a centralidade da pesquisa em detrimento da atividade de trabalho propriamente dita. A autoconfrontação é um recurso por meio do qual o pesquisador busca se aproximar da atividade de trabalho. Aquilo que o sujeito diz de sua atividade não deve tomar o lugar se sua atividade real (FAÏTA e VIEIRA, 2003, p.128).

    No momento da autoconfrontação cruzada, o pesquisador deve preocupar-se em manter o debate sobre a atividade. É fundamental que ele tenha a capacidade de manter o processo dialógico, aproveitando ao máximo todas as oportunidades de relacionar os enunciados produzidos e o que eles revelam efetivamente. O pesquisador deve estar atento ao seu papel, ao seu lugar no processo de autoconfrontação, não se deixando confundir com o lugar do ator observado.