Os jardins de Roberto Burle Marx muitas vezes são classificados como pinturas. Sem dúvida alguma, como artista polivalente que foi, usou conceitos de outras formas de arte. Conhecendo as leis que orientam a pintura, ele as aplicou no jardim, de uma forma diferente, mantendo a autonomia entre elas. Seus jardins não são apenas quadros bidimensionais. A composição tridimensional e a quarta dimensão – o tempo – sempre estiveram presentes na concepção paisagística, como ele mesmo definiu (Revista Projeto, 1991):
“Fazer jardim é fazer arte. Quando trabalho um jardim, penso nas leis que orientam os problemas artísticos: contrastes, texturas, relação entre volumes, harmonia e oposição de cores. Apenas não quero fazer um jardim que seja uma pintura de uma forma diferente. Nunca pensei em um jardim bidimensional, jardim sempre em terceira dimensão. E outra coisa importante é a quarta dimensão: o tempo necessário para se observar esse espaço.”
O paisagista não se limitou a utilizar as espécies comumente disponíveis na época. Foi um artista cientista, com grande conhecimento como botânico autodidata. Pesquisador da flora brasileira, inovou ao trazer para os jardins espécies nativas, com linguagem moderna, coletadas (e muitas vezes cultivadas em seu sítio) por ele em expedições de campo. Descobriu espécies, cujos nomes o homenageiam e foi um pioneiro na área de preservação ambiental.
Burle Marx foi também precursor do Land Art urbano. Algumas de suas obras são verdadeiras telas no coração das cidades, onde o expectador entra no quadro, que está sobre o terreno. Essa arte não foi para zonas periféricas, mas está presente na paisagem das cidades. Demonstrou compromisso social com a cidade e seu paisagismo (e também uma maior complexidade formal e conceitual).
“A paisagem definida pela necessidade estética não é um luxo nem um desperdício, mas necessidade absoluta para a vida humana, sem o que a própria civilização perderia sua razão ética.”* (Roberto Burle Marx)