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Prova CS-UFG - 2019 - UFG - Analista de Tecnologia da Informação - Área: Redes


ID
3192685
Banca
CS-UFG
Órgão
UFG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto a seguir para responder à questão.


A rua


    Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia. Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua. [...]

    Os dicionários só são considerados fontes fáceis de completo saber pelos que nunca os folhearam. Abri o primeiro, abri o segundo, abri dez, vinte enciclopédias, manuseei infólios especiais de curiosidade. A rua era para eles apenas um alinhado de fachadas, por onde se anda nas povoações...

    Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma! Em Benarès ou em Amsterdã, em Londres ou em Buenos Aires, sob os céus mais diversos, nos mais variados climas, a rua é a agasalhadora da miséria. Os desgraçados não se sentem de todo sem o auxílio dos deuses enquanto diante dos seus olhos uma rua abre para outra rua. A rua é o aplauso dos medíocres, dos infelizes, dos miseráveis da arte. [...] A rua é generosa. O crime, o delírio, a miséria não os denuncia ela. A rua é a transformadora das línguas. [...] A rua continua matando substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos léxicons futuros. [...]

    A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu calçamento. Cada casa que se ergue é feita do esforço exaustivo de muitos seres, e haveis de ter visto pedreiros e canteiros, ao erguer as pedras para as frontarias, cantarem, cobertos de suor, uma melopeia tão triste que pelo ar parece um arquejante soluço. A rua sente nos nervos essa miséria da criação, e por isso é a mais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das obras humanas. [...]

    Essas qualidades nós as conhecemos vagamente. Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível; é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes – a arte de flanar: É fatigante o exercício?

    Para os iniciados sempre foi grande regalo. A musa de Horácio, a pé, não fez outra coisa nos quarteirões de Roma. Sterne e Hoffmann proclamavam-lhe a profunda virtude, e Balzac fez todos os seus preciosos achados flanando. Flanar! [...] Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da populaça, admirar o menino da gaitinha ali à esquina, seguir com os garotos o lutador do Cassino vestido de turco [...]; é ver os bonecos pintados a giz nos muros das casas, após ter acompanhado um pintor afamado até a sua grande tela paga pelo Estado [...]

RIO, João do. A rua. In: A alma encantadora das ruas. Ministério da Cultura.Disponível em: 

<http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/alma_encantadora_das_ruas.pdf>. 

Acesso em: 11 jul. 2019.

A crônica de João do Rio foi publicada no início do século XX e trata das ruas do Rio de Janeiro, iluminada pelas primeiras luzes da modernidade. No texto, o amor revelado pela rua caracteriza-se por ser

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? A visão crítica é apresentada nesta parte:

    ? A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu calçamento. Cada casa que se ergue é feita do esforço exaustivo de muitos seres, e haveis de ter visto pedreiros e canteiros, ao erguer as pedras para as frontarias, cantarem, cobertos de suor, uma melopeia tão triste que pelo ar parece um arquejante soluço. A rua sente nos nervos essa miséria da criação, e por isso é a mais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das obras humanas. [...]

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Letra B

    A) idealizado, visto que o enunciador considera que o gozo do “calor do sol” e do “lirismo do luar” são ainda pouco(muito) suficientes para se chegar à essência da psicologia da rua.

    B)crítico, dado que o cronista define a rua como “agasalhadora da miséria” e descreve paisagens sociais que compõem o seu cenário.

    C) intimista, já que o prosador o declara “absoluto” e “exagerado” e firmando-se no âmbito de sua individualidade. ( todos)

    D) transitório, posto que ( mal uso foi usado aqui com sentido de porque equivale a embora e introduz uma concessão) o autor diz que “tudo varia o amor, o ódio, o egoísmo”, posicionando-se em favor dessa variação e transitoriedade(permanente).

    Questão comentada por professora Tereza gran cursos.

  • passei 40 min nessa questão. Oooo benção !

  • fiquei uns 30 minutos e errei

  • ohh questão complicada..não sei porque a banca não facilita colocando os parágrafos pra gente ler...eu quando pensei em cronica,já pensei em critica e chutei a questão certa..hehe

  • PQP !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  • EU VI UMA PROFESSORA ORIENTANDO QUE, A CRÔNICA TEM REALAÇÃO COM A CRITICA!

  • A Profa Flávia Rita fez a correção dessa prova nesse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=i4plJogugYY.

    Começa mais ou menos em 24:55.