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ID
1054294
Banca
FCC
Órgão
SEFAZ-RJ
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                   [Ponderando o julgamento]

       As leis não podem deixar de ressentir-se da fraqueza dos homens. Elas são variáveis como eles.
       Algumas, nas grandes nações, foram ditadas pelos poderosos com o fim de esmagar os fracos. Eram tão equívocas que mil intérpretes se apressaram a comentá-las; e, como a maioria só fez sua glosa como quem executa um ofício para ganhar algum dinheiro, acabou o comentário sendo mais obscuro que o texto. A lei transformou-se numa faca de dois gumes que degola tanto o inocente quanto o culpado. Assim, o que devia ser a salvaguarda das nações transformou-se tão amiúde em seu flagelo que alguns chegaram a perguntar se a melhor das legislações não consistiria em não se ter nenhuma.
       Examinemos a questão. Se vos moverem um processo de que dependa vossa vida, e se de um lado estiverem as compilações de juristas sabidos e prepotentes, e de outro vos apresentarem vinte juízes pouco eruditos mas que, sendo anciãos isentos das paixões que corrompem o coração, estejam acima das necessidades que o aviltam, dizei-me: por quem escolheríeis ser julgados, por aquela turba de palradores orgulhosos, tão interesseiros quanto ininteligíveis, ou pelos vinte ignorantes respeitáveis?
(VOLTAIRE. O preço da justiça. Trad. Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 7-8)

Atente para as seguintes afirmações:

I. No primeiro parágrafo, o segmento elas são variáveis expressa uma causa da qual a expressão fraqueza dos homens constitui o efeito.
II. No segundo parágrafo, considera-se que a multiplicidade de interpretações da lei, acionadas por glosadores interesseiros, acaba por comprometer a implementação da justiça.
III. No terceiro parágrafo, a interrogação final de Voltaire pode ser considerada retórica pois implica uma resposta já encaminhada pela pergunta.

Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • I. No primeiro parágrafo, o segmento elas são variáveis expressa uma causa da qual a expressão fraqueza dos homens constitui o efeito.   Errado. É uma relação de comparação e não uma relação de causa-efeito.

    II. No segundo parágrafo, considera-se que a multiplicidade de interpretações da lei, acionadas por glosadores interesseiros, acaba por comprometer a implementação da justiça.  Correto. Esse trecho é o segundo parágrafo escrito com outras palavras. Comprometer a implementação da justiça, no caso, seria "alguns chegaram a perguntar se a melhor das legislações não consistiria em não se ter nenhuma. "

    III. No terceiro parágrafo, a interrogação final de Voltaire pode ser considerada retórica pois implica uma resposta já encaminhada pela pergunta. O autor utiliza de recursos para deixar claro a resposta desejada, vide os adjetivos negativos empregados para o primeiro item (por aquela turba de palradores orgulhosos, tão interesseiros quanto ininteligíveis) e o adjetivo positivo empregado para o segundo item (respeitáveis). 

  •  Na dúvida fui na errada , porém acho mais desatenção...

  • Caro Mateus, sua interpretação está perfeita, mas no item II fique com dúvida:

    II. No segundo parágrafo, considera-se que a multiplicidade de interpretações da lei, acionadas por glosadores interesseiros, acaba por comprometer a implementação da justiça.
    Acho que item se refere ao seguinte trecho do texto, escrito com outras palavras: "A lei transformou-se numa faca de dois gumes que degola tanto o inocente quanto o culpado."

     

    O que acha? Estaria certo tb a minha afirmação?

    Luciana

  • Cara Luciana, acredito que sua interpretação também esteja correta, afinal todo o parágrafo tem esse sentido. No entanto, considero que o seu trecho ("A lei transformou-se numa faca de dois gumes que degola tanto o inocente quanto o culpado") diz respeito à lei já implementada, e o trecho por mim selecionado "alguns chegaram a perguntar se a melhor das legislações não consistiria em não se ter nenhuma." põe em xeque, ameaça, a implementação da justiça.  

  •  As leis não podem deixar de ressentir-se da fraqueza dos homens. Elas são variáveis como eles. 

    (Relação de comparação) Alternativa errada!

  • Posso errado, Mas no segundo paragrafo, ele fala que há um interesse econômico em tentar interpretar a lei, e depois cita que a lei é injusta. E mais fala que é obscuro o que os "interesseiros" tentam explicar. Ai te falo, como posso concluir que uma coisa liga a outra sendo que não posso somar o que o autor quer no texto? Em nenhum momento ele falou, em agregar, somar.

    Se alguém puder me explicar. 

    Grato

  •   As leis não podem deixar de ressentir-se da fraqueza dos homens. Elas são variáveis como eles. 

     Eu discordo com os colegas sobre o Por Que da questão está errada. Existe uma relação de causa e efeito sim:

    As lei não podem deixar de ressentir-se pois(por que) elas são variáveis. A relação de comparação

    Está em: Elas são variáveis como são os homens!


  • a fraqueza dos homens é que constitui a causa de as leis serem variáveis, e não o contrário, como consta da alternativa A.

    Este é o erro.

  • I - No primeiro parágrafo, o segmento elas são variáveis expressa uma causa da qual a expressão fraqueza dos homens constitui o efeito. O trecho ao qual a assertiva diz respeito é: "As leis não podem deixar de ressentir-se da fraqueza dos homens. Elas são variáveis como eles". Esse trecho pode ser reescrito da seguinte forma: As leis são suscetíveis às fraqueza dos homens. Elas (as leis) são variáveis como eles (os homens). Dessa forma fica claro que as leis são variáveis como os homens e que isso se dá porque as leis são suscetíveis às fraquezas dos homens. Logo fraqueza dos homens é a causa das leis serem variáveis e não o contrário. Assertiva errada.

    II. No segundo parágrafo, considera-se que a multiplicidade de interpretações da lei, acionadas por glosadores interesseiros, acaba por comprometer a implementação da justiça. Pode-se tirar o seguinte trecho do 2º parágrafo: "Eram tão equívocas que mil intérpretes se apressaram a comentá-las (multiplicidade de interpretações da lei); e, como a maioria só fez sua glosa como quem executa um ofício para ganhar algum dinheiro (glosadores interesseiros), acabou o comentário sendo mais obscuro que o texto (acaba por comprometer a implementação da justiça)." Assertiva correta.

    III. No terceiro parágrafo, a interrogação final de Voltaire pode ser considerada retórica pois implica uma resposta já encaminhada pela pergunta. Para responder essa alternativa pegarei emprestado a resposta do Diennes C (retirada da questão 1 dessa prova): 

    Percebe-se  que o autor faz dois levantamentos quanto aos julgadores do processo:

    No primeiro:  sabidos e prepotentes(arrogantes, opressores) ele faz o leitor desprezá-los.

    No segundo: ...sendo anciãos isentos das paixões que corrompem o coração (isento de paixão demasiada pelo poder, paixão que corrompe o juízo de valores...etc) ele faz o leitor ter apreço aos vinte juízes.

    Com essas informações podemos concluir que os melhores julgadores são os vinte juízes, os sensatos e experientes."

    Portanto na pergunta de Voltaire já se encontra a resposta. Assertiva correta.


  • I. Incorreto. Relação de Comparação.

    A título de elucidação, seguem as conjunções adverbiais comparativas: quanto, do que (superioridade ou inferioridade), tal... qual, assim como, bem como, tão... quanto.

    Conjunções adverbiais causais: que, porque, porquanto, como (só no início de frase), já que, pois, pois que, etc.

  • Senhores, descordo do item II: a causa da multiplicade de interpretações vem das leis criadas de forma equivocada para o domínio do forte pelo fraco, corroborada através das interpretações de outros fracos, que na sua aplicação geram dificuldades na implementação da justiça. Mas essas dificuldades só existem porque a causa - origem - foram as leis criadas equivocadamente, e não suas interpretações. enfim, esse é meu entendimento, mas a banca foi mais simplista - no meu ponto de vista equivocada - na sua resposta.

  • Não comprometeu a implementação da justiça. A banca forçou a barra.