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ID
1083262
Banca
FCC
Órgão
TRT - 19ª Região (AL)
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

No texto abaixo, Graciliano Ramos narra seu encontro com Nise da Silveira.

     Chamaram-me da porta: uma das mulheres recolhidas à sala 4 desejava falar comigo. Estranhei. Quem seria? E onde ficava a sala 4? Um sujeito conduziu-me ao fim da plataforma, subiu o corrimão e daí, com agilidade forte, galgou uma janela. Esteve alguns minutos conversando, gesticulando, pulou no chão e convidou-me a substituí-lo. Que? Trepar-me àquelas alturas, com tamancos?

     Examinei a distância, receoso, descalcei-me, resolvi tentar a difícil acrobacia. A desconhecida amiga exigia de mim um sacrifício; a perna, estragada na operação, movia-se lenta e perra; se me desequilibrasse, iria esborrachar-me no pavimento inferior. Não houve desastre. Numa passada larga, atingi o vão da janela; agarrei-me aos varões de ferro, olhei o exterior, zonzo, sem perceber direito por que me achava ali. Uma voz chegou-me, fraca, mas no primeiro instante não atinei com a pessoa que falava. Enxerguei o pátio, o vestíbulo, a escada já vista no dia anterior. No patamar, abaixo de meu observatório, uma cortina de lona ocultava a Praça Vermelha. Junto, à direita, além de uma grade larga, distingui afinal uma senhora pálida e magra, de olhos fixos, arregalados. O rosto moço revelava fadiga, aos cabelos negros misturavam-se alguns fios grisalhos.

Referiu-se a Maceió, apresentou-se:

     - Nise da Silveira.

     Noutro lugar o encontro me daria prazer. O que senti foi surpresa, lamentei ver minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-a culta e boa, Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se de tomar espaço. Nunca me havia aparecido criatura mais simpática. O marido, também médico, era meu velho conhecido Mário Magalhães. Pedi notícias dele: estava em liberdade. E calei-me, num vivo constrangimento.

     De pijama, sem sapatos, seguro à verga preta, achei-me ridículo e vazio; certamente causava impressão muito infeliz. Nise, acanhada, tinha um sorriso doce, fitava-me os bugalhos enormes, e isto me agravava a perturbação, magnetizava-me. Balbuciou imprecisões, guardou silêncio, provavelmente se arrependeu de me haver convidado para deixar-me assim confuso.

(RAMOS, Graciliano, Memórias do Cárcere, vol. 1. São Paulo, Record, 1996, p. 340 e 341)

A voz reflexiva está empregada em:

Alternativas
Comentários
  • Letra E
    Ele está ACHANDO algo, e está sofrendo a ação de se achar. :). 

  • O verbo está na voz reflexiva quando o sujeito é o agente e o paciente ao mesmo tempo, isto é, o sujeito executa e recebe a ação verbal simultaneamente.

  • Letra E - Eu me achei ridículo e vazio.

    Ou seja achei a mim mesmo, o sujeito é agente e paciente (:

  • Alguém detalha letra por letra? Grato.

  • A voz reflexiva é aquela na qual o sujeito é agente e paciente "eu a mim mesmo" - modo inculto.

    Letra A - Fitava-me os bagulhos - Ela o fitava. Ele é apenas paciente
    Letra B - A desconhecida amiga exigia de mim - Ela exigia, ele era exigido
    Letra C - Uma voz chegou-me - A voz chega a ele
    Letra D - Nunca me havia aparecido - Criatura nunca havia aparecido para mim
    Letra E - Achei-e ridículo : Eu achei a mim mesmo ridículo. Sujeito agente e paciente da ação, configurando a reflexidade.

  • Outros verbos com REFLEXAO:


    Eu me limpava

    eu me olhava

    ele se cagou!

  • Achei a mim mesmo ridículo.