SóProvas


ID
1096087
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
UFGD
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                        Pensando livremente sobre o livre arbítrio 

                                                                                                Marcelo Gleiser

      Todo mundo quer ser livre; ou, ao menos, ter alguma liberdade de escolha na vida. Não há dúvida de que todos temos nossos compromissos, nossos vínculos familiares, sociais e profissionais. Por outro lado, a maioria das pessoas imagina ter também a liberdade de escolher o que fazer, do mais simples ao mais complexo: tomo café com açúcar ou adoçante? Ponho dinheiro na poupança ou gasto tudo? Em quem vou votar na próxima eleição? Caso com a Maria ou não?
      A questão do livre arbítrio, ligada na sua essência ao controle que temos sobre nossas vidas, é tradicionalmente debatida por filósofos e teólogos. Mas avanços nas neurociências estão mudando isso de forma radical, questionando a própria existência de nossa liberdade de escolha. Muitos neurocientistas consideram o livre arbítrio uma ilusão. Nos últimos anos, uma série de experimentos detectou algo surpreendente: nossos cérebros tomam decisões antes de termos consciência delas. Aparentemente, a atividade neuronal relacionada com alguma escolha (em geral, apertar um botão) ocorre antes de estarmos cientes dela. Em outras palavras, o cérebro escolhe antes de a mente se dar conta disso.
      Se este for mesmo o caso, as escolhas que achamos fazer, expressões da nossa liberdade, são feitas inconscientemente, sem nosso controle explícito.
      A situação é complicada por várias razões. Uma delas é que não existe uma definição universalmente aceita de livre arbítrio. Alguns filósofos definem livre arbítrio como sendo a habilidade de tomar decisões racionais na ausência de coerção. Outros consideram que o livre arbítrio não é exatamente livre, sendo condicionado por uma série de fatores, desde a genética do indivíduo até sua história pessoal, situação pessoal, afinidade política etc.
      Existe uma óbvia barreira disciplinar, já que filósofos e neurocientistas tendem a pensar de forma bem diferente sobre a questão. O cerne do problema parece estar ligado com o que significa estar ciente ou ter consciência de um estado mental. Filósofos que criticam as conclusões que os neurocientistas estão tirando de seus resultados afirmam que a atividade neuronal medida por eletroencefalogramas, ressonância magnética funcional ou mesmo com o implante de eletrodos em neurônios não mede a complexidade do que é uma escolha, apenas o início do processo mental que leva a ela.
      Por outro lado, é possível que algumas de nossas decisões sejam tomadas a um nível profundo de consciência que antecede o estado mental que associamos com estarmos cientes do que escolhemos. Por exemplo, se, num futuro distante, cientistas puderem mapear a atividade cerebral com tal precisão a ponto de prever o que uma pessoa decidirá antes de ela ter consciência da sua decisão, a questão do livre arbítrio terá que ser repensada pelos filósofos.
      Mesmo assim, me parece que existem níveis diferentes de complexidade relacionados com decisões diferentes, e que, ao aumentar a complexidade da escolha, fica muito difícil atribuí-la a um processo totalmente inconsciente. Casar com alguém, cometer um crime e escolher uma profissão são ponderações longas, que envolvem muitas escolhas parciais no caminho que requerem um diálogo com nós mesmos. Talvez a confusão sobre o livre arbítrio seja, no fundo, uma confusão sobre o que é a consciência humana. 

                        http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcelogleiser/2014/01/ 1396284-pensando-livremente-sobre-o-livre-arbitrio.shtml.


Assinale a alternativa INCORRETA quanto ao que se afirma a seguir.

Alternativas
Comentários
  • ...tomo café com açúcar...   "com açúcar" é predicativo do objeto?

  • O termo "com açúcar" não é complemento nominal e, sim, adjunto adverbial de companhia. Não poderia ser predicativo do objeto porque o termo não está dando nenhuma qualificação ao café e, sim, indicando uma companhia.

  • Adjunto adverbial? Mas para ser adjunto adverbial o café deveria ser verbo, não?
    Me parece ser um predicativo do objeto....

    Alguém pode explicar?
  • Vandré

    Gabarito - Letra B

    b) Em “...tomo café com açúcar...” funciona como complemento nominal.

           Café - subst. concreto, logo com açúcar é adj. adnominal.


     - Identificou o termo antecedente como subst. abstrato pode ser C.N. ou A.A., mas sendo subst. concreto só pode ser A.A.;

    - Para identificar no caso de abstrato verificar se o termo antecedente tem natureza passiva (C.N.) ou agente (A.A.);

    - C.N sempre preposicionado, o A. A. ocasionalmente preposicionado;

    - C.N completa subst. abstratos, adjetivos ou advérbios; A.A. acompanha subst. abstrato e concreto.


    Força e Fé!!!


  • "Com açúcar" é adjunto adnominal, pode ser trocado por café açucarado,  está qualificando o café. 

    Não pode ser CN porque café é substantivo concreto, e não pode ser locução adverbial também por isso, pois advérbio só modifica verbo, adjetivo ou outro adverbio.

  • Muito útil o comentário Jéssica.........Obrigada!!!

  • Pessoal, logo vi que a alternativa B não se tratava de C.N, mas, sim, de A.A. Minha dúvida ficou na alternativa C, pois conforme aprendi, não se pode, após um vírgula, colocar um pronome oblíquo, no caso o "me", e achei a alternativa errada em razão do ''pode'', o certo não seria ''deve''? Desculpa se foi um comentário impertinente,mas realmente fiquei na dúvida, se alguém puder esclarecer, agradeço, desde já!
  • Na alternativa C o pronome é usado PREFERENCIALMENTE após o verbo por causa da vírgula. No entanto, ela pode vir antes do verbo, como está escrito. Mas a banca costuma considerar apenas o uso do pronome após o verbo correto nesses casos. Por isso, se não houver nenhuma alternativa errada, esta pode ser considerada errada conforme essa banca.

  • complemento nominal só com adjetivo, adverbio e substantovo abstrato com natureza passiva....

    na frase há substantivo concreto, portanto é adjunto adnominal.