SóProvas


ID
1102570
Banca
FCC
Órgão
TRF - 3ª REGIÃO
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Menino do mato

Eu queria usar palavras de ave para escrever.
Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem
[ nomeação.
Ali a gente brincava de brincar com palavras
tipo assim: Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na pedra!
A Mãe que ouvira a brincadeira falou:
Já vem você com suas visões!
Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis
e nem há pedras de sacristias por aqui.
Isso é traquinagem da sua imaginação.
O menino tinha no olhar um silêncio de chão
e na sua voz uma candura de Fontes.
O Pai achava que a gente queria desver o mundo
para encontrar nas palavras novas coisas de ver
assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do
rio do mesmo modo que uma garça aberta na solidão
de uma pedra.
Eram novidades que os meninos criavam com as suas
palavras.

Assim Bernardo emendou nova criação: Eu hoje vi um
sapo com olhar de árvore.
Então era preciso desver o mundo para sair daquele
lugar imensamente e sem lado.
A gente queria encontrar imagens de aves abençoadas
pela inocência.
O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias
para a gente bem entender a voz das águas e
dos caracóis.
A gente gostava das palavras quando elas perturbavam
o sentido normal das ideias.
Porque a gente também sabia que só os absurdos
enriquecem a poesia.

(BARROS, Manoel de, Menino do Mato, em Poesia Completa, São Paulo, Leya, 2013, p. 417-8.)

Considere as frases abaixo.

I. No verso O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias, o verbo destacado pode ser flexionado no plural, sem prejuízo para a correção e o sentido original.
II. Em seguida ao termo voz, no verso e na sua voz uma candura de Fontes, pode-se acrescentar uma vírgula, sem prejuízo para a correção e o sentido original.
III. Sem que nenhuma outra alteração seja feita, no verso e nem há pedras de sacristias por aqui, o verbo pode ser substituído por existe, mantendo-se a correção e o sentido original.

Está correto o que se afirma APENAS em

Alternativas
Comentários
  • I - (Correta) O verbo SER, é verbo de ligação, não se usa a regra de que o verbo concorda sempre com o sujeito, ora concorda com o predicado ora com o sujeito na seguinte ordem de prevalência:

    1° Pronome pessoal reto;

    2° Nome de pessoa;

    3° Palavra no plural;

    4° Sujeito.

    Ex: A vida são ilusões.

    O atleta é as esperanças do clube.

    II - (Correta) E na sua voz, uma candura de Fontes. A vírgula não traz prejuízo, pois "uma candura de fontes" é adjetivo de "voz".

    III - (Errada) O vero existir é pessoal e deve ir para o plural. Já o verbo haver, no sentido de existência, continua no singular. 


  • Luana, acredito que a justificativa da II é:

    II - O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de Fontes. 
         O menino tinha (o quê?) no olhar um silêncio de chão (O.D).
         O menino tinha (o quê?) na sua voz uma candura de Fontes (O.D).
         O menino tinha um silêncio de chãouma candura de Fontes. 

         O emprego da vírgula é para marcar enumeração dos objetos diretos.

         Se o termo, "uma candura de Fontes", fosse adjetivo, a vírgula não poderia ser empregada, pois não se admite vírgula entre nomes e seus complementos (adjunto adnominal e complemento nominal).

    Se eu estiver errado, por favor me corrija, agradeço!


    Bons estudos!






  • Acredito que a justificativa para o item II estar correto é a elipse do verbo. 

    O menino tinha no olhar um silêncio de chão 
    e na sua voz uma candura de Fontes. 


    O menino tinha no olhar um silência de chão / e na sua voz (tinha) uma candura de Fontes.

    Questão interessante, pois, à primeira vista, uma vírgula somente depois de 'voz' (sem uma vírgula simultânea antes do 'na', intercalando o trecho deslocado) ocasionaria prejuízo para a correção.

    Se alguém puder confirmar, agradeço.