SóProvas


ID
1122655
Banca
FUMARC
Órgão
PC-MG
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O mais terrível não era a menina me chamando de "tio" e pedindo um trocado, ela de pé no chão no asfalto e eu no meu carro de bacana. O mais terrível não era eu escolhendo a cara e a voz para dizer que não tinha trocado, desculpe, como se a vergonha tivesse um protocolo que a absolvesse. O mais terrível foi nem a naturalidade com que ela cuspiu na minha cara. O mais terrível foi que ela era tão pequena que a cusparada não me atingiu.

Somos boas pessoas, bons cidadãos e bons pais, mas somos tios relapsos. Nossas sobrinhas e nossos sobrinhos enchem as ruas de nossas cidades, cercam nossos carros, invadem nossas vidas e insistem que são nossa família, e não temos nada para lhes dar ou dizer, além de esmola ou "desculpe". Na família brasileira "tios" e sobrinhos têm um diálogo de ameaça e medo, revolta e remorso, e poucas palavras. Nenhum consolo possível, nenhuma esperança, nenhuma explicação. O que dizer a uma sobrinha cuja cabeça mal chega à janela do carro e tenta cuspir na cara do tio? Feio. Falta de educação. Papai do céu castiga. Paciência, minha filha, este é apenas um ciclo econômico e a nossa geração foi escolhida para este vexame, você aí desse tamanho pedindo esmola e eu aqui sem nada para te dizer, agora afasta que abriu o sinal. Não pergunte ao titio quem fez a escolha, é tudo muito complicado e, mesmo, você não entenderia a teoria. Vá cheirar cola, para passar. Vá morrer, para esquecer. Ou vá crescer, para me matar na próxima esquina.

A história, dizem, terminou, e os mocinhos ganharam. Os realistas, os antiutópicos, os racionais. Ficou provado que a solidariedade é antinatural e que cada um deve cuidar dos apetites dos seus. Ou seja: ninguém é "tio" de ninguém. A família humana é um mito, o sofrimento alheio é um estorvo e se a miséria à tua volta te incomoda, compra uma antena parabólica. Ninguém é insensível, dizem os mocinhos, mas a compaixão não funciona. Todos esses anos de convivência com a dor dos outros, que deviam ter nos educado para a compaixão, nos educaram para a autodefesa, para cuspir primeiro. Os bons sentimentos faliram, dizem os mocinhos. Confiemos o futuro ao mercado, que não tem sentimentos, que tritura gerações entre seus dedos invisíveis, pra que se envolver? Afasta do carro que abriu o sinal.

Mas mais terrível do que tudo é eu ficar aqui, escolhendo frases para encher o papel, até cuidando o estilo, já que é domingo. Como se fizesse alguma diferença. Como se isso fosse nos salvar, o tio da sua impotência e cumplicidade e a sobrinha anônima do seu destino. Desculpe.

A suposta fala que NÃO foi dirigida à criança é:

Alternativas
Comentários
  • d) “Compra uma antena parabólica”. Fala dirigida ao leitor.

  • A questão requer compreensão textual, em que as informações estão explícitas no texto.


    ALTERNATIVA (A) – (2º parágrafo) O trecho “O que dizer a uma sobrinha cuja cabeça mal chega à janela do carro e tenta cuspir na cara do tio?" corrobora que a fala “Papai do céu castiga" foi dirigida à criança, as expressões, do trecho anterior, as quais ficam claro são “a uma sobrinha" e “do tio". A resposta dada à criança é por conta de ela tentar cuspir na “cara" dele.


    ALTERNATIVA (B) – (2º parágrafo) O trecho “O que dizer a uma sobrinha cuja cabeça mal chega à janela do carro e tenta cuspir na cara do tio?" corrobora que a fala “paciência, minha filha" foi dirigida à criança, as expressões, do trecho anterior, as quais ficam claro são “a uma sobrinha" e “do tio". O vocativo “minha filha" refere-se à criança. Ele pede paciência a ela porque vê que não nenhuma esperança na vida dela.


    ALTERNATIVA (C) – (2º parágrafo) O trecho “O que dizer a uma sobrinha cuja cabeça mal chega à janela do carro e tenta cuspir na cara do tio?" corrobora que a fala “vá morrer para esquecer" foi dirigida à criança, as expressões, do trecho anterior, as quais ficam claro são “a uma sobrinha" e “do tio". Ele dá esta resposta porque não vê nenhuma solução para o caso dela.


    ALTERNATIVA (D) – (3º parágrafo) “Compra uma antena parabólica" é uma resposta dada a nós -  leitores. Esta resposta é dada porque ele vê que a maior parte das pessoas não se importa com os problemas alheios, mas, caso haja alguém incomodado com a miséria do outro, ele sugere que compre uma antena parabólica e, assim, a pessoa se distrai com outras coisas.


    Por conseguinte, a única alternativa em que a fala NÃO foi dirigida à criança é a (D).


    GABARITO DA PROFESSORA: ALTERNATIVA (D).
  • (D)

    ALTERNATIVA (A) – (2º parágrafo) O trecho “O que dizer a uma sobrinha cuja cabeça mal chega à janela do carro e tenta cuspir na cara do tio?" corrobora que a fala “Papai do céu castiga" foi dirigida à criança, as expressões, do trecho anterior, as quais ficam claro são “a uma sobrinha" e “do tio". A resposta dada à criança é por conta de ela tentar cuspir na “cara" dele.

    ALTERNATIVA (B) – (2º parágrafo) O trecho “O que dizer a uma sobrinha cuja cabeça mal chega à janela do carro e tenta cuspir na cara do tio?" corrobora que a fala “paciência, minha filha" foi dirigida à criança, as expressões, do trecho anterior, as quais ficam claro são “a uma sobrinha" e “do tio". O vocativo “minha filha" refere-se à criança. Ele pede paciência a ela porque vê que não nenhuma esperança na vida dela.

    ALTERNATIVA (C) – (2º parágrafo) O trecho “O que dizer a uma sobrinha cuja cabeça mal chega à janela do carro e tenta cuspir na cara do tio?" corrobora que a fala “vá morrer para esquecer" foi dirigida à criança, as expressões, do trecho anterior, as quais ficam claro são “a uma sobrinha" e “do tio". Ele dá esta resposta porque não vê nenhuma solução para o caso dela.

    ALTERNATIVA (D) – (3º parágrafo) “Compra uma antena parabólica" é uma resposta dada a nós - leitores. Esta resposta é dada porque ele vê que a maior parte das pessoas não se importa com os problemas alheios, mas, caso haja alguém incomodado com a miséria do outro, ele sugere que compre uma antena parabólica e, assim, a pessoa se distrai com outras coisas.

    Fonte QC