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ID
1123183
Banca
FUMARC
Órgão
PC-MG
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

              Redução da maioridade penal: O elo perdido

                     Robson Sávio Reis Souza

       Todas as vezes que ocorre um crime a provocar grande comoção nacional, parte da sociedade brasileira - capitaneada por um discurso minimalista e conservador, com repercussão imediata na grande mídia - clama por leis draconianas como lenitivo para diminuir a criminalidade violenta. Foi assim com a "criação" da lei de crimes hediondos, por exemplo. O resultado desse tipo de medida repressiva e pontual - objetivando o adensamento do estado penal - não apresenta resultado efetivo em termos de diminuição dos crimes.
       É admissível e compreensível que, diante de um crime bárbaro, os parentes da vítima desejem vingança. Sob o ponto de vista privado, essa é uma prerrogativa do indivíduo; dos que sofrem a violência desproporcional de qualquer forma e estão sob o impacto dela. Porém, o Estado não tem essa prerrogativa. Considerando-se que o indivíduo pode, intimamente, desejar vingança (haja vista nossa cultura judaico-cristã, que valoriza os atos sacrificiais), o Estado - mantenedor das conquistas do processo civilizatório, cuja base está na garantia dos direitos humanos - não pode ser vingativo e passional em seus atos.
       A mesma indignação que move muitas pessoas a desejarem o recrudescimento penal (desde que seja sempre direcionado para o outro) em momentos de comoção não é mobilizadora frente à violência e carnificina generalizadas que atingem, cotidianamente, milhares de pessoas. Segundo o Ministério da Saúde, do total de 1.103.088 mortes notificadas em 2009, 138.697 (12,5%) foram decorrentes de causas externas (que poderiam ser evitáveis), representando a terceira causa mais frequente de morte no Brasil.
        A resposta simplista, da sociedade e do Estado, para enfrentar a criminalidade violenta é o encarceramento. Nos últimos 20 anos, nosso sistema prisional teve um crescimento de 450%. Hoje, são mais de 550 mil presos (cerca de 60% cometeram crimes contra o patrimônio; 30%, crimes relacionados a drogas e menos de 10% crimes contra a vida). Superlotado, o sistema prisional tem um déficit de cerca de 250 mil vagas. Em condições degradantes e subumanas, quase 80% dos egressos prisionais voltam a praticar crimes. É neste sistema que desejamos trancafiar adolescentes autores de atos infracionais?
       Paradoxalmente, nesse período de brutal encarceramento, as taxas de crimes violentos mantiveram-se em patamares elevadíssimos. A Organização Mundial de Saúde informa que taxas de homicídio acima de 10 mortes por 100 mil habitantes são epidêmicas. A média brasileira, nesse quesito, é de 29 por 100 mil, sendo que na maioria das capitais essa cifra supera 30 homicídios por 100 mil, chegando, por exemplo, em Maceió, à estrondosa cifra de 86 por 100 mil, ou seja, oito vezes mais do que o aceitável. Segundo relatório recente da ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, dentre as 34 nações mais violentas, o Brasil encontra-se em 13º lugar. No ranking das 50 cidades mais violentas do mundo, 15 são do Brasil. Por que assistimos a esse massacre com tanta passividade? [...]

 (Excerto do Artigo publicado no Jornal Estado de Minas, de 25/05/2013, Caderno "Pensar e Agir").


A alternativa cujo argumento NÃO fundamenta o posicionamento do autor é:

Alternativas
Comentários
  • Resposta letra A; no texto esse trecho elucida o não posicionamento do autor - Paradoxalmente, nesse período de brutal encarceramento, as taxas de crimes violentos mantiveram-se em patamares elevadíssimos.

  • A questão trabalha compreensão textual em que as informações estão explícitas no texto, não há necessidade de fazer inferências a partir de dados implícitos.


    DICA!!! Sempre que aparecer, no enunciado, uma palavra negativa, tais como: não, exceto, incorreta, circule essa palavra para não correr o risco de marcar justamente a resposta correta, pois, no caso, o que a Banca pede é a alternativa que esteja incorreta.



    ALTERNATIVA (A) – O argumento utilizado pelo autor não fundamenta seu posicionamento, pois, segundo dados do Ministério da Saúde, do total de 1.103.088 mortes notificadas em 2009, 138.697 (12,5%) foram decorrentes de causas externas (que poderiam ser evitáveis), representando a terceira causa mais frequente de morte no Brasil. [Trecho retirado do terceiro parágrafo]. Logo, o responsável pelo massacre social não é o total de presos no sistema prisional do Estado.


    ALTERNATIVA (B) – O argumento utilizado pelo autor fundamenta seu posicionamento, visto que os dados da Ministério da Saúde comprovam que 12,5% das mortes foram decorrentes de causas externas, representando a terceira causa mais frequente de morte no Brasil. Tal informação pode ser corroborada no terceiro parágrafo.


    ALTERNATIVA (C) – O argumento utilizado pelo autor fundamenta seu posicionamento, visto que os dados da Organização Mundial da Saúde informam que as taxas de homicídio no Brasil estão elevadíssimas – acima de 10 mortes por 100 mil habitantes, por isso o número de brasileiros acima do parâmetro epidêmico. Tal informação pode ser corroborada no quinto parágrafo.


    ALTERNATIVA (D) – O argumento utilizado pelo autor fundamenta seu posicionamento, pois, segundo relatório recente da ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, no ranking das 50 cidades mais violentas do mundo, 15 são do Brasil. Tal informação pode ser corroborada no quinto parágrafo.

    Assim, a alternativa que marcaremos é a (A) por não corresponder ao posicionamento do autor.



    GABARITO DA PROFESSORA: ALTERNATIVA (A).
  • A assertiva A está incorreta porque o total de presos não é causa para o massacre social, mas uma consequência da alta criminalidade, portanto não é posicionamento do autor no texto; como consequência do total de presos encarcerados em condições degradantes e subumanas temos que a maioria deles, 80%, volta a delinquir.

    Assim: alta criminalidade ---> aumento do número de encarcerados ----> maioria volta a delinquir.