SóProvas


ID
1130878
Banca
CEFET-MG
Órgão
CEFET-MG
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                       A língua não pode servir para a exclusão social

       Dizer em voz alta que as formas não normatizadas também estão corretas é impedir que o conhecimento da norma tradicional seja usado como um instrumento de perseguição, de discriminação, de humilhação do outro, ou como uma espécie de saber esotérico, reservado para alguns iluminados de inteligência superior...
       Porque o verdadeiro problema, a verdadeira questão social implicada nisso tudo não tem a ver com o fato de se usar a regra A ou a regra B. Tem a ver, isso sim, com o uso social perverso que se faz do domínio desse suposto saber: “Eu sei usar a passiva sintética, eu sei usar o acento indicador de crase, eu sei usar os pronomes oblíquos, mas você não... Por isso eu sou mais inteligente, estou mais preparado para exercer o comando, pertenço a uma casta superior”.
       É esse o discurso, muitas vezes não explicitado, dissimulado, oculto na atitude de quem usa o seu conhecimento da gramática normativa como um instrumento de distinção, como se saber a regência “correta” do verbo implicar implicasse em algum tipo de vantagem, de superioridade, de senha secreta para um ingresso num círculo de privilegiados.
       Conhecer a história da língua, a tradição gramatical, a riqueza do nosso vocabulário, a beleza da nossa literatura oral e escrita, o potencial de nossa linguagem - tudo isso é muito bom, é precioso e deve ser cultivado. Só não podemos admitir que alguém transforme tudo isso numa arma, num arame farpado, numa cerca eletrificada ou em qualquer outro instrumento de exclusão social.


BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso. Por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola editorial, 2007.


Considerando-se os argumentos do texto, o emprego do verbo “implicar”, no 3º parágrafo,

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: letra E

    A título de curiosidade: 

    "O verbo ‘implicar’ possui várias regências. Ficaremos com aquelas mais usuais.

    1.implicar, no seu sentido mais usado, significa ‘produzir como consequência’. Nesse sentido, ele é verbo transitivo direto – aquele que tem um objeto direto da ação verbal, mas sem o uso de preposição obrigatória.

    Assim sendo, não se usa com a preposição ‘em’, como se vê hoje em dia por aí. Alguns gramáticos – e bancas de concursos públicos, como a ESAF (Escola de Administração Fazendária) – já aceitam esse uso moderno do idioma em relação a esse verbo.

    Porém, em texto formais, prefira sempre a norma culta tradicional.

    Ex.: Estudar implica alguns muitos sacrifícios (e não: Estudar implica em alguns muitos sacrifícios.)

    2. implicar também possui o sentido de envolver / envolver-se (quando pronominal, com o pronome). Assim, o verbo é transitivo direto e indireto – aquele que pede as duas formas de completar seu sentido –, no primeiro caso; e transitivo indireto – aquele que pede o objeto da ação verbal com o auxílio da preposição – no segundo.

    Atentem! Agora, nesse sentido, o implicar deve ser usado com ‘em’. Confiram: quem implica implica alguém ‘em’ algo ou se implica ‘em’ algo.

    Ex.: Os vídeos implicaram deputadas em fraude. A deputada implicou-se em confusão.

    3.há também a significação de ‘ter implicância’ para o verbo implicar. Esse ninguém erra, porque ouvimos muito quando criança. Nessa acepção ele é verbo transitivo indireto com a preposição ‘com’.

    Todos já fizeram do irmão ou irmã seu ‘saco de pancadas’ e denúncias para a mamãe. Vejamos:

    Ex.: Pare de implicar com seu irmão, menino!

    ► Fonte: diego-amorim.blogspot.com.br

  • implicar ( sentido acarretar ) VTD e não se usa em, ou seja a primeira alternativa está certa, pois no texto o implicar está com erro de regência, mas importante perceber que a questão trata-se de interpretação do texto "Considerando-se os argumentos do texto". Sendo assim resposta correta letra e 

    desconstrói a ideia de superioridade da norma padrão da língua.

    como se saber a regência “correta” do verbo implicar implicasse em algum tipo de vantagem, de superioridade, de senha secreta para um ingresso num círculo de privilegiados.


  • Sempre achei que o verbo implicar fosse um verbo transitivo direito. Solicitemos comentário do Professor.

  • ok, pode que o objetivo da questão seja o da interpretação textual,  mas não se pode ferir o que rege a norma culta. Implicar, no texto, tem sim o sentido de acarretar e será hoje ou até que haja mudança gramatical, verbo transitivo direto. Dessa forma, a letra "a" está correta. 

  • Complicada a letra A ... de fato houve erro gramatical também.

    Fixando:

    Estudar implica sacrifícios. (Implicar - VTD, sentido de acarretar)

    Os vídeos implicaram os ministros em fraudes. (Implicar - VTDI, quem implica, implica alguém em algo)

    Para de implicar com sua irmã. (Implicar - VTI, sentido de ter implicância com)

  • a opção A está correta, a questão deveria ser anulada.

  • Regência do verbo implicar:

    Sentido de acarretar = vtd: A infração implicará multa.

    Sentido de envolver -se (verbo pronominal) = vti (uso da prep. em): Os jovens implicaram-se numa briga.

    Sentido de "ter implicância com" = vti (uso da prep. com): Ele sempre implica com a irmã.

  • Sobre a 'A'

    Vejamos o que diz o Gramático Agnaldo Martino (2018, p. 258)

    IMPLICAR

    ■ (ser chato com) — VTI — preposição COM:

    Ana sempre implica com todos.

    Implicava comigo, sempre que eu chegava tarde.

    ■ (envolver -se) — VTI — preposição EM:

    Ana implicou -se em casos de vandalismo.

    ■ (acarretar) — VTD — sem preposição:

    Sua atitude implica demissão.

    Desobedecer à lei implica receber punição.

    ■ (acarretar) — VTI — preposição EM:

    Sua atitude implica em demissão.

    Desobedecer à lei implica em receber punição.

    Curiosidade: Hodiernamente, o verbo implicar, no sentido de acarretar, pode ser usado das duas maneiras mencionadas acima.

    Então, conforme esse autor a alternativa 'A' está errada.