SóProvas


ID
1137559
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
SMA-RJ
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

            Livro, um alvará de soltura

            Costumo brincar que, para conseguir ler todos os livros que me enviam, só se eu pegasse uma prisão perpétua. Pois é de estranhar que, habituada a fazer essa conexão entre isolamento e livros, tenha me passado despercebida a matéria que saiu recentemente nos jornais (da qual fui gentilmente alertada por uma leitora) de que os detentos de penitenciárias federais que se dedicarem à leitura de obras literárias, clássicas, científicas ou filosóficas poderão ter suas penas reduzidas.
            A cada publicação lida, a pena será diminuída em quatro dias, de acordo com a Portaria 276 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). No total, a redução poderá chegar a 48 dias em um ano, com a leitura de até 12 livros. Para provar que leu mesmo, o detento terá que elaborar uma resenha que será analisada por uma comissão de especialistas em assistência penitenciária.
            A ideia é muito boa, então, por favor , não compliquem. Não exijam resenha (eles lá sabem o que é resenha?) nem nada assim inibidor. Peçam apenas que o sujeito, em poucas linhas, descreva o que sentiu ao ler o livro, se houve identificação com algum personagem, algo simples, só para confirmar a leitura. Não ameacem o pobre coitado com palavras difíceis, ou ele preferirá ficar encarcerado para sempre.
            Há presos dentro e fora das cadeias. Muitos adolescentes estão presos a maquininhas tecnológicas que facilitam sua conexão com os amigos, mas não consigo mesmo. Adultos estão presos às telenovelas e aos reality shows, quando poderiam estar investindo seu tempo em algo muito mais libertador. Milhares de pessoas acreditam que ler é difícil, ler é chato, ler dá sono, e com isso atrasam seu desenvolvimento, atrofiam suas ideias, dão de comer a seus preconceitos, sem imaginar o quanto a leitura as libertaria dessa vida estreita.
            Ler civiliza.
            Essa boa notícia sobre atenuação de pena é praticamente uma metáfora. Leitura = liberdade. Não é preciso ser um criminoso para estar preso. O que não falta é gente confinada na ignorância, sem saber como escrever corretamente as palavras, como se vive em outras culturas, como deixar o pensamento voar. O livro é um passaporte para um universo irrestrito. O livro é a vista panorâmica que o presídio não tem, a viagem pelo mundo que o presídio impede. O livro transporta, transcende, tira você de onde você está.
            Por receber uma quantidade inquietante de livros, e sem ter onde guardá-los todos, costumo fazer doações com frequência para escolas e bibliotecas. Poucos meses atrás, doei alguns exemplares para um presídio do Rio de Janeiro, e sugiro que todas as pessoas que tenham livros servindo de enfeite em casa façam o mesmo. Que se cumpram as penas, mas que se deixe a imaginação solta.

            (Martha Medeiros - publicado na revista de O Globo, em 8 de julho de 2012, página 24.)


Em crônicas, em geral os autores costumam estabelecer intimidade com seus leitores e empregar a língua coloquial, adequada a esse gênero de texto. A exigência de formalidade que caracteriza a escrita padrão no mundo do trabalho é, no entanto, diversa e está contemplada pela seguinte frase ou segmento:

Alternativas
Comentários
  • Gab. B

    “O que não falta é gente confinada na ignorância, sem saber como escrever corretamente as palavras...”


  • Alguém aí pode fazer um comentário que realmente ajude. vlw

  • Caro colega Gustavo Matos, permita-me ser-lhe útil. A questão nos pede a opção com texto formal, beleza? Nada de gírias, opiniões individuais etc. Fique atento, meu amigo, ao quesito IMPESSOALIDADE, pois ele será o nosso fator determinante para a compreensão de um texto formal, impessoal. Percebeu como eu usei gíria (beleza) e deixei claro a minha vontade (ser-lhe útil), fazendo um pedido (permita-me) e conversando com o companheiro (meu amigo)? Pois é, Gustavo. Isso deixa claro que meu comentário é exemplo de texto coloquial, informal e não se adequa ao que pede a questão, ok? Mas sigamos em frente.    a - “Não exijam resenha (eles lá sabem o que é resenha?) nem nada assim inibidor.” apresenta dois problemas para o texto formal: o texto conversa com o leitor e ainda faz uma pergunta retórica entre parênteses.      b - “O que não falta é gente confinada na ignorância, sem saber como escrever corretamente as palavras...” (gabarito)      c - “... para conseguir ler todos os livros que me enviam, só se eu pegasse uma prisão perpétua.” deixa bem clara a marca pessoal do escritor (só se EU), que ainda ironiza ao comparar a dificuldade da leitura de inúmeros livros com o tempo de "prisão perpétua"      d - “... pessoas acreditam que ler é difícil, ler é chato, ler dá sono, e com isso atrasam seu desenvolvimento...” tem a palavra "chato", que não cabe em texto formal.
    P.S.: Para mim, companheiro, sendo honesto com o amigo de estudos, nem a opção "b" me parece exemplo de texto realmente formal, válido como "escrita padrão no mundo do trabalho", conforme reza o comando dessa questão. Está clara a força da opinião de foro íntimo em "gente confinada na ignorância" por não "saber como escrever corretamente". E o pior, companheiro Gustavo: faz uso de linguagem metafórica ao comparar a ignorância com uma cela na qual estariam presos os ignorantes da ortografia. De qualquer modo, espero ter ajudado. Estudemos, estudemos! Abraços.

  • "o que não falta é gente..." descrito como linguagem formal na resposta?! 

  • Também não concordo com nenhuma das opções .. fui na que achei "menos informal" ..

  • Assim como Veríssimo, Martha também é outra autora famosa de crônicas. Caso perguntem o gênero textual em algum texto dela, associem.

  • A propósito, sentido figurado não retira a formalidade de um texto, como afirmou o "sabichão" Helser.

    ex:

    "Na esteira da discussão sobre as relações entre o direito e informática, o Marco Civil da Internet foi regulamentado pelo Decreto nº 8.771/2016, mediante o qual suas disposições passaram a ser (...)"

    Outro ponto: na letra D, o problema não está na palavra chato, e sim na expressão "dá sono".