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Luhmann arrola três ordens de improbabilidade. A primeira sugere ser "improvável que alguém compreenda o que o outro quer dizer, tendo em conta o isolamento e a individualização da sua consciência". Explica-se: o sentido é dado pelo contexto, e este último, por sua vez, é apreendido pela faculdade de memória de cada um.
A segunda diz ser "improvável que uma comunicação chegue a mais pessoas do que as que se encontram presentes numa situação dada". Trata-se aqui do problema da atenção, normalmente garantida pela interação entre os indivíduos numa situação determinada. Quando há diferentes interesses em situações distintas, desintegra-se a atenção.
A terceira refere-se à improbabilidade de se obter o resultado desejado, isto é, a aceitação da informação como premissa de comportamento por parte do receptor desejado. "Nem sequer o fato de que uma comunicação tenha sido entendida garante que tenha sido também aceita", diz Luhmann.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/o_paradoxo_da_comunicacao_improvavel
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O primeiro exemplo que acorre é o da entrevista de um chefe de centro de observação sísmica, que agora revela ter sabido horas antes do que ia se passar com a ilha paradisíaca. Ao analisar as possíveis conseqüências da altíssima intensidade do sismo, ele tentou avisar um colega na ilha, mas não conseguiu encontrá-lo. Recorreu à rádio local, mas como ninguém se lembrava de seu nome, não lhe deram a menor atenção. O tsunami possível em termos de natureza tornava-se, assim, num primeiro momento, comunicacionalmente improvável.
O teórico não está evidentemente sustentando que a comunicação é impossível, e sim que é improvável, ou seja, que ela requer mecanismos capazes de tornar possível o improvável, superando as três ordens de obstáculos apontadas. No caso dos impressionantes registros dos instantes iniciais do tsunami (feitos caoticamente por amadores), por exemplo, isso se revela quando alguns habitantes da ilha, alarmados com o recuo insólito da maré, avisam aos turistas que se afastem da praia. São ouvidos, jamais escutados. Teria sido preciso muito mais para que alguma comunicação se estabelecesse efetivamente.
http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/o-paradoxo-da-comunicacao-improvavel/
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Livro "Teoria da Comunicação - Ideias, Conceitos e Métodos", de Luís Mauro Sá Martino, Seção A, Capítulo IV (Comunicação interpessoal), subcapítulo 4 (A poética da realidade da mídia: Niklas Luhmann), página 87.
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Na teoria do sociólogo alemão Niklas Luhmann, a comunicação ocupa uma posição central. Luhmann defende que a comunicação enquanto tal é antes de tudo um fenômeno improvável. Ou seja, seria mais provável que alguém rejeitasse o conteúdo de uma mensagem qualquer do que o aceitasse. O problema da comunicação é decomposto por Niklas Luhmann em três improbabilidades:
1) Compreensão entre os interlocutores - É motivada pelo isolamento e a individualização da consciência de cada indivíduo e depende do contexto (do meio) que por sua vez está circunstanciado pela memória de cada um.
2) Recepção da mensagem pelos receptores - É relativa às contigências de tempo e espaço em que a comunicação é feita. Mesmo quando há reprodutores móveis que possam ampliar o número de interlocutores contatados, continua a verificar-se a improbabilidade, já que nesse caso, volta-se a deparar com a primeira das improbabilidades: a incompreensão sobre o que o outro quer comunicar.
3) O receptor adote o conteúdo seletivo da comunicação - Pressupõe que a operação comunicação, em estrito senso, já foi conseguida, ou seja: que a síntese da "unidade da informação, ato de comunicar e ato de entender" foi efetuada com sucesso e, por isso, ultrapassadas as improbabilidades anteriores. Todavia, entender não pressupõe aceitar, e esta diferença entre o ato de entender e o de aceitar implica a diferença, por um lado, entre a criação de um "acontecimento emergente" ou, dito de outra forma, da "realidade emergente" e, por outro, em obter o "resultado desejado".