A GRATIDÃO 
Desta vez, trago-vos algumas histórias e fico grato pelo  tempo que possa ser dispensado à sua leitura. Falam-nos de  gratidão e poderão fazer-nos pensar no quanto  a gratidão fará,  ou não, parte das nossas vidas. Estou certo de que sabereis  extrair a moral da história.
 Uma brasileira, sobrevivente de um campo de extermínio  nazista, contou que, por duas vezes, esteve numa fila que a  encaminhava para a câmara de gás.  E que, nas duas vezes, o  mesmo soldado alemão a retirou da fila. 
Aristides de Sousa Mendes foi cônsul de Portugal na França.  Quando as tropas de Hitler invadiram o país, Salazar ordenou que  não se concedesse visto para quem tentasse fugir do nazismo.  Contrariando o ditador, Aristides salvou dez mil judeus de uma  morte certa. Pagou bem caro pela sua atitude humanitária.  Salazar destituiu-o do cargo e o fez viver na miséria até o fim da  vida. Diz um provérbio judeu que “quem salva uma vida salva a  humanidade”. Em sinal de gratidão, há vinte árvores plantadas  em sua memória no Memorial do Holocausto, em Jerusalém. E  Aristides recebeu dos israelenses o título de “Justo entre as  Nações”, o que equivale a uma canonização católica.
Quando um empregado de um frigorífico foi inspecionar a  câmara frigorífica, a porta se fechou e ele ficou preso dentro  dela. Bateu na porta, gritou por socorro, mas todos haviam ido  para suas casas. Já estava muito debilitado pela baixa  temperatura, quando a porta se abriu e o vigia o resgatou com  vida. Perguntaram ao vigia-salvador: Por que foi abrir a porta da  câmara, se isso não fazia parte de sua rotina de trabalho? Ele  explicou: Trabalho nesta empresa há 35 anos, vejo centenas de  empregados que entram e saem, todos os dias, e esse é o único  funcionário que me cumprimenta ao chegar e se despede ao sair.  Hoje ele me disse “bom dia” ao chegar. E não percebi que se  despedisse de mim. Imaginei que poderia lhe ter acontecido algo.  Por isso o procurei e o encontrei. 
Talvez a gratidão devesse  ser uma rotina nas nossas vidas,  algo indissociável da relação humana, mas talvez ande arredada  dos nossos cotidianos, dos nossos gestos. E se começássemos  cada dia dando gracias a la vida, como faria a Violeta?  
 
“...e esse é o único funcionário que me cumprimenta ao chegar e  se despede ao sair”. A mesma relação semântica entre  cumprimenta/se despede se repete em: