SóProvas


ID
1151137
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Colégio Pedro II
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Empresário, 84 anos. É presidente do banco Cédula. Sobrevivente do Holocausto, escreveu os livros A marca dos genocídios e A marcha.


“Eu não só vi o Holocausto: eu o vivi. E sobrevivi para contar. Fui um dos poucos de uma família de 79 pessoas. Foi em julho de 1941 que os soldados alemães chegaram ao nosso povoado: Secureni, que ficava na então Bessarábia (hoje território da Ucrânia). Não demorou a vir pelos alto- falantes a ordem para que todos os judeus se reunissem na manhã seguinte, na praça próxima ao cemitério judaico. Devíamos levar nossos pertences e mantimentos. Quem não obedecesse seria fuzilado. Começou ali nossa marcha de 1.500 quilômetros - que fizemos sujos, doentes e famintos. Marchar longas distâncias era uma das formas que os nazistas usavam para exterminar os judeus. Aprendemos a aceitar a morte, de tão corriqueira.

Como sobrevivi? Graças aos valentes do povo ucraniano, que correram risco para salvar inocentes. Já em outubro daquele ano, na Ucrânia, minha mãe perdeu as forças em decorrência do tifo, uma doença comum durante a guerra. Conseguimos nos esconder numa vala. Com medo de que fôssemos descobertos, ela me pediu para abandoná-la. A decisão era complicada - me salvar, abandonando-a, ou ficar e correr o risco de ser capturado e morto. Eu fiquei. Ao anoitecer, vimos luzes em um povoado. Batemos numa porta, que foi aberta por uma mulher e sua filha, as duas cristãs. Comovidas com nossa história, elas nos acolheram e ficamos escondidos.

Em setembro de 1941, eu, minha mãe e meu pai passávamos perto de uma floresta. Lembro ainda das trincheiras cavadas e do cheiro de corpos em decomposição. Soldados convocavam homens mais velhos para ajudar na limpeza da estrada. Era mentira. Meu pai foi. Estava magro, com semblante abatido - lembro ainda que conversou alguns minutos com minha mãe. Beijou-me várias vezes e pediu que cuidasse dela. Nunca mais o vi. Foi fuzilado e jogado numa vala comum. Em 1944, depois de o Exército russo libertar os judeus, voltei ao lugar onde ele tinha morrido. Era primavera e tudo florescia na floresta - mas eu só me lembrava do dia cinza de anos atrás. Disse então um kadish, a prece milenar dos órfãos e enlutados judeus, com três anos de atraso.

Mas este não é um depoimento só de tristeza. Hitler quis construir um império de 1.000 anos. Não durou nem 15. Eu pude reconstruir minha vida no Brasil, esta terra abençoada. Minha história é prova de que é possível seguir em frente, mesmo que tenha lembranças tão terríveis como a do Holocausto. Como se faz isso? Vivendo um dia de cada vez, apoiando-se no amor que sentimos por nossa família. Não me esqueci do que passei. Ainda tenho pesadelos. Mas isso não encerrou minha vida. Encontrei o amor, tive meus filhos e reencontrei a alegria. Vim para o Brasil com minha mãe, quando eu tinha 20 anos. Parte de minha família já tinha se estabelecido no Recife e no Rio de Janeiro desde 1906. Escolhi o Rio. Quando cheguei, trabalhei como vendedor ambulante, batendo de porta em porta. Ainda me lembro da primeira venda: um cordão de ouro com uma medalha e um relógio. A dívida era registrada num cartão, com a data da cobrança. Passei 50 anos sem falar nesse assunto. Hoje, penso que tenho obrigação de divulgar as atrocidades cometidas pelos nazistas contra os judeus, ciganos e outros povos. Histórias como a que vivi são uma bandeira para lutarmos por um mundo que respeite as diferenças.”


Em “eu o vivi.”, o termo destacado exerce no texto função de.

Alternativas
Comentários
  • objeto direto - substituir por "o", "a"

    objeto indireto - substituir por "lhe"

  • Questão simples...errei por pensar demais. :(

  • O verbo viver é INTRANSITIVO(VI), mas o VI pode vir de objeto direto posposto após a ele.

  • Sinceramente, não engulo essa questão, pra mim é Adj Adv.

    As informações adicionais que se ligam ao VI são Adj. Adv. quando lhe completam o sentido, ou Predicativo do Sujeito, quando dão qualidade ao sujeito do VI.

     

    Se alguém tiver uma explicação plausível, ficarei feliz.

  •  a)objeto direto. O verbo viver esta exigindo objeto sem preposicao. Quem vive, vive alguma coisa. A quem esta com dúvida se se trata de adjunto adverbial, lembre-se de que o adj. adv tem função de adverbio, a qual é de descrever o verbo. Observe a diferença:

    Ele viveu o passado. "o passado" é objeto porque é exigido pelo verbo viver.

    Ele viveu de modo perigoso. "de modo perigoso." descreve o verbo viver. Logo, é adjunto adverbial

  • Ochi essa é facil de entender, pois o "o" retoma holocausto, é só transscrever a frase na forma direta - Eu vivi "o" holocausto.

    Existem verbos que em regra são intrasitivos, mas em alguns contextos podem aceitar objetos diretos ou indiretos.

  • Não seria objeto direto pleonástico?

  • Rodrigo Marcelo não seria "anteposto"

  • O verbo "viver" no sentido figurado de experiência, de vivênciar, se torna VTD, sendo assim, o "o" apresentado se torna objeto direto desse verbo. 

  • Pronome pessoal oblíquo átono = OD [O,A,OS,AS,SE, ME, TE]

    Pronome pessoal oblíquo tônico = OI [LHE, SI, MIM, COMIGO, TI, CONTIGO]

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    ERA PARA SER UMA ANOTAÇÃO PARTICULAR, MAS O QC ESTÁ ''TENTANDO'' RESOLVER MEU PROBLEMA COM AS ANOTAÇÃO (ELAS NÃO SALVAM) HÁ QUASE 15 DIAS.

    SE NÃO ESTIVESSE PAGO ATÉ O FIM DO ANO JÁ TERIA TROCADO DE SITE HÁ MUITO TEMPO. QUE ARREPENDIMENTO!