SóProvas


ID
1164994
Banca
CRS - PMMG
Órgão
PM-MG
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                         A mulher do vizinho 
                                                                                                                                   Fernando Sabino

Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco.

O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia.

O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fabrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo a ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte:

- O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: dura lex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.

Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio:

-Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?

O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.

- Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não e gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou?

Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente:

- Da ativa, minha senhora?
E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado:
- Da ativa, Motinha! Sai dessa...

 

                                                      Texto extraído do livro "Fernando Sabino - Obra Reunida - Vol.01", 
                                                                            Editora Nova Aguiar - Rio de Janeiro, 1996, pág. 872.



Conforme se vê no primeiro parágrafo do texto, o autor optou em iniciar a narrativa com um verbo na primeira pessoa do plural e depois pela colocação de verbos entre parênteses. Sobre o uso desse tipo de estrutura, é CORRETO afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • Explicações, por favor.

  • A) Trata-se de uma estratégia que visa o não comprometimento do autor com a história narrada.

    Contaram-me, quis dizer que alguém contou para ele e nao é ele que está dizendo ele nao quer se comprometer.

  • Só não entendi o enunciado da questão. diz que o autor começou com a primeira pessoa do plural, mas só eu que não estou vendo?

  • Nobres, 

     

    A própria banca erra ao elaborar as alternativas e quer nos avaliar. O verbo "visar", exige a preposição "ao", o que foi simplismente esquecido pela banca!

     

    O correto seria "... que visa ao não comprometimento..." etc

     

    No mais, GABARITO A, tendo em vista que o uso do verbo na 3ª pessoa do plural transmite a ideia de um sujeito indeternimado, o que realmente demontra que o autor não quer "assumir a responsabilidade" de que é ele que está dizendo o que está por vir. Ademais o uso dos verbos em parênteses traduz uma noção de dúvida, o que também corrobora a alternativa A.

     

    Fonte: Comentários da Prof. Isabel (qconcursos)

     

    Smj, 

     

    Avante!

  • Renan, encontrei a seguinte explciação para a ausencia de preposição no verbo visar:

     

    "Apesar de ser essa a regência mais correta segundo a norma culta, diversos dicionários e gramáticas já atestam o uso de uma regência sem preposição para este sentido do verbo visar:

    Este projeto visa o desenvolvimento de competências relacionais nos alunos.

    As medidas visam a melhoria das condições de vida dos doentes acamados.

    As campanhas realizadas visam incentivar o consumo consciente da água."

  • Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e....

    Entendi como uma vontade do autor em demonstrar desconhecimento sobre o fato, por ele narrado, para não se envolver. Como se fosse: ouvir dizer não sei se é verdade.

    Gb A