SóProvas


ID
118768
Banca
FCC
Órgão
TRT - 20ª REGIÃO (SE)
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A arte de não fazer nada

Dizem-me que mais da metade da humanidade se
dedica à prática dessa arte; mas eu, que apenas recente e
provisoriamente a estou experimentando, discordo um pouco
dessa afirmativa. Não existe tal quantidade de gente
completamente inativa: o que acontece é estar essa gente
interessada em atividades exclusivamente pessoais, sem
consequências úteis para o resto do mundo.

Aqui me encontro num excelente posto de observação: o
lago, em frente à janela, está sendo percorrido pelos botes
vermelhos em que mesmo a pessoa que vai remando parece
não estar fazendo nada. Mas o que verdadeiramente está
acontecendo, nós, espectadores, não sabemos: cada um pode
estar vivendo o seu drama ou o seu romance, o que já é fazer
alguma coisa, embora tais vivências em nada nos afetem.

E não posso dizer que não estejam fazendo nada
aqueles que passam a cavalo, subindo e descendo ladeiras,
atentos ao trote ou ao galope do animal.

Há homens longamente parados a olhar os patos na
água. Esses, dir-se-ia que não fazem mesmo absolutamente
nada: chapeuzinho de palha, cigarro na boca, ali se deixam
ficar, como sem passado nem futuro, unicamente reduzidos
àquela contemplação. Mas quem sabe a lição que estão
recebendo dos patos, desse viver anfíbio, desse destino de
navegar com remos próprios, dessa obediência de seguirem
todos juntos, enfileirados, para a noite que conhecem, no
pequeno bosque arredondado? Pode ser um grande trabalho
interior, o desses homens simples, aparentemente desocupados,
à beira de um lago tranquilo. De muitas experiências
contemplativas se constrói a sabedoria, como a poesia. E não
sabemos ? nem eles mesmos sabem ? se este homem não vai
aplicar um dia o que neste momento aprende, calado e quieto,
como se não estivesse fazendo nada, absolutamente nada.

(Cecília Meireles, O que se diz e o que se entende)

Está inteiramente adequada a pontuação da frase:

Alternativas
Comentários
  • A oração “que ficam à beira de um lago” é adjetiva restritiva e por isso não pode vir separada por vírgula. 

    O termo “Aqueles homens” é sujeito da locução verbal da oração principal “não costumam fazer nada mais” e não pode permanecer isolado dela por meio de vírgula. 

    A conjunção “pois” introduz oração explicativa, a qual deve vir separada pela vírgula. 

    As vírgulas que isolam a expressão de natureza adverbial “com certeza” são bem empregadas; ela até pode vir sem as vírgulas, mas com cuidado. Use duas vírgulas, ou não use nada. Configura erro grosseiro utilizar, por exemplo, apenas uma vírgula depois dessa expressão:  ...pois acham com certeza, que...  Por quê? Quem acha acha algo, certo? O objeto direto do verbo é introduzido pela conjunção integrante “que”. A vírgula não pode separar o verbo do seu complemento. 

    Resposta – C 

    Abraços e bom estudo!!!

  • Como o amiguinho Pedro disse - orações restritivas não estão sujeitas à pontuação.

     

    Exemplo 1:

    Jamais teria chegado aqui, não fosse a gentileza de um homem que passava naquele momento. 
          Oração Subordinada Adjetiva Restritiva

     

    • Nesse período, observe que a oração em destaque restringe e particulariza o sentido da palavra "homem": trata-se de um homem específico, único. A oração limita o universo de homens, isto é, não se refere a todos os homens, mas sim àquele que estava passando naquele momento.

     

    Exemplo 2:

    O homem, que se considera racional, muitas vezes age animalescamente.
          Oração Subordinada Adjetiva Explicativa

     

    Nesse período, a oração em destaque não tem sentido restritivo em relação à palavra "homem": na verdade, essa oração apenas explicita uma ideia que já sabemos estar contida no conceito de "homem".

     

    Fonte: https://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint36.php

     

     

    Fiquem bém!