Letra D
O sofrimento e as
defesas desempenham importante papel para assegurar a saúde dos trabalhadores. Não
obstante as defesas podem constituir uma armadilha, gerando alienação. A alienação
se constrói quando essas defesas se transformam em ideologia defensiva (Dejours
(1980/1987).
A ideologia
defensiva tem como objetivo mascarar, conter e ocultar uma ansiedade
particularmente grave, sendo específica de um grupo social particular. Destina-se
a lutar contra um perigo e um risco reais. Ela é coletivamente elaborada e
alimentada. Para ser eficaz, a ideologia defensiva deve conseguir a
participação de todos os interessados no encobrimento do sofrimento. Aquele que
não contribui ou não compartilha do conteúdo é, cedo ou tarde, excluído. Para ser
funcional, ela deve ser dotada de certa coerência, o que supõe arranjos
relativamente vivos com a realidade. Tão inevitável contra a própria realidade,
a ideologia defensiva torna-se obrigatória. Ela substitui os mecanismos de
defesa individuais, tornando-os impotentes.
O autor utiliza o
caso de trabalhadores da construção civil franceses que produziram a ideologia
defensiva de ignorar o risco, por meio de atitudes viris. Fazem isso justamente
para lidar com o sofrimento resultante do trabalho embrutecedor.
Esta ideologia
defensiva também foi identificada entre trabalhadores da construção civil no
Brasil (Souza, 2002 e Barros e Mendes, 2003). O perigo gerado por essa
ideologia ocorre quando ela deixa de ser defesa e passa a ser o próprio
objetivo dos trabalhadores, o que pode ocorrer com as defesas de adaptação e de
exploração, surgindo, neste momento, o risco de alienação.
É possível concluir
que, se por um lado as defesas permitem a convivência com o sofrimento, por
outro podem levar à alienação das suas verdadeiras causas. Essa alienação serve
à ideologia dominante, visto que ela não tem interesse nas mudanças das relações
de trabalho e desse modo, explora e usa o paradoxo próprio das defesas para
evitar discussões sobre a organização do trabalho e manter os trabalhadores
produtivos, desconhecendo as causas de seu sofrimento e fazendo a manutenção de
seu emprego.
Psicodinâmica do Trabalho: teoria,
método e pesquisas – Ana Magnólia Mendes.