SóProvas


ID
1239883
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                        Vaidade do humanismo

        A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor
esforço, pelo nosso trabalho de humanistas.
        Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de vertiginoso avanço tecnológico,
esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo - todas estas dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho - Humanismo e crítica democrática - afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor - compartilhamento justificado não necessariamente poradesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que seja esta a nossa vaidade de humanistas. 

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

Ocorrem adequada transposição de voz verbal e perfeita correlação entre tempos e modos na seguinte passagem:

I. A vaidade, uma vez justificável, deixa de ser um vício abominável. = Se a justificarmos, a vaidade já não seria um vício abominável.

II. Ele toleraria a vaidade, desde que pudesse justificá-la. = A vaidade seria tolerada, desde que ela pudesse ser justificada por ele.

III. Ele não vê como poderia justificar a vaidade que eventualmente o assalta. = A vaidade não é vista justificada por ele, quando eventualmente é por ela assaltado.

Está correto o que consta APENAS em

Alternativas
Comentários
  • A questão pede a correta :Transposição de voz e Correlação.

    I. A vaidade, uma vez justificável, deixa de ser um vício abominável. = Se a justificarmos, a vaidade já não seria um vício abominável. 


    Aqui, tem-se uma locução verbal: deixar de ser. As locuções verbais são constituídas de verbos auxiliares mais gerúndio ou infinitivo. São conjuntos de verbos que, numa frase, desempenham papel equivalente ao de um verbo único. Nessas locuções, o último verbo é o chamado principal, portanto o auxiliar, é o único que varia, considerando sempre o verbo principal.

    Nesse caso, o verbo principal da locução é, "ser" que é verbo de ligação e não pode ser transformado para a voz passiva, pois exige-se um VTD.

     
    II. Ele toleraria a vaidade, desde que pudesse justificá-la. = A vaidade seria tolerada, desde que ela pudesse ser justificada por ele. 
    CORRETO. O verbo "tolerar" é VTD bem como o verbo "poder". Quem tolera, tolera ALGO. Quem pode, pode ALGO.

    Na transposição houve perfeita correlação verbal, continuando com os verbos, respectivamente, no futuro do pretérito do indicativo e no pretérito imperfeito do subjuntivo. Correlação muito usual pela FCC. 


    III. Ele não como poderia justificar a vaidade que eventualmente o assalta. = A vaidade não é vista justificada por ele, quando eventualmente é por ela assaltado. 

    ERRADA. A frase está bestante confusa, mas percebe-se que há um erro na transposição pois há uma locução verbal "poderia justificar" que foi suprimida quando transformada para a voz passiva.

    Estaria correto, por exemplo:

    Ele não poderia justificar a vaidade.

    A vaidade não poderia ter sido justificada por ele.

  • III -  acredito que a correlação dos verbos não está correta:

    vê: presente

    poderia: futuro do pretérito

  • Vou tentar ser objetivo ao tratar de cada item. Não é necessário me prolongar muito já que o comentário da Luana Campos está excelente.

    Antes quero abrir um adendo ao comentário dessa colega, pois as locuções verbais são formadas por verbo auxiliar + verbo principal (sempre no gerúndio, no infinitivo ou no particípio - a colega se olvidou dessa parte).


    Vejamos.
     Eu poderia abordar item por item, mas pelo que aprendi em cursos preparatórios e  minhas anotações tudo o que será dito abaixo é o que nós precisamos saber para acertar uma questão de vozes verbais e correlação.

    1) a maioria das bancas, ao cobrarem voz ativa, trabalham com VTD.

    2) A tradição da língua culta NÃO tolera que verbos transitivos indiretos sejam passados para a voz passiva. E é assim que 99,99% das bancas veem tal fato.

      Dica: Para resolver, portanto, uma questão de voz verbal, veja qual opção traz um verbo transitivo direto (ou transitivo direto e indireto). Este é o bizu!

    > Se o verbo é transitivo indireto, logo não pode ser passado da voz ativa para a voz passiva analítica. Os demais, sendo transitivos diretos, admitem passagem.

    3) não há passagem de voz ativa para passiva analítica se o verbo for intransitivo ou de ligação

    Quanto às correlações, o quê sei e o quê disponho de material é extenso. Inclusive tenho uma lista com o que os professores chamam de "dobradinhas clássicas" que é uma tabela esquematizada com as articulações modo-temporais e posso disponibilizar aos interessados. Só mandar mensagem.

  • Justificando o erro da III: Ele (SUJEITO) não (ADVÉRBIO) vê (VTD) como poderia justificar a vaidade (OD). Na voz passiva, o objeto direto da voz ativa vira sujeito da passiva e o sujeito da voz ativa vira agente da passiva. Logo, a correta transposição de voz dessa oração seria: "como poderia justificar a vaidade (OD DA ATIVA) não é visto (VL + PARTICÍPIO) por ele.(SUJEITO DA ATIVA)"