SóProvas


ID
1241476
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder a questão considere o texto abaixo.


         Ler um livro é desinteressar-se a gente deste mundo co-
mum e objetivo para viver noutro mundo. A janela iluminada noi-
te adentro isola o leitor da realidade da rua, que é o sumidouro
da vida subjetiva. Árvores ramalham. De vez em quando pas-
sam passos. Lá no alto estrelas teimosas namoram inutilmente
a janela iluminada. O homem, prisioneiro do círculo claro da
lâmpada, apenas ligado a este mundo pela fatalidade vegetativa
do seu corpo, está suspenso no ponto ideal de uma outra di-
mensão, além do tempo e do espaço. No tapete voador só há
lugar para dois passageiros: Leitor e autor.
        O leitor ingênuo é simplesmente ator. Quero dizer que,
num folhetim ou num romance policial, procura o reflexo dos
seus sentimentos imediatos, identificando-se logo com o pro-
tagonista ou herói do romance. Isto, aliás, se dá mais ou menos
com qualquer leitor, diante de qualquer livro; de modo geral, nós
nos lemos através dos livros.
        Mas no leitor ingênuo, essa lei dos reflexos toma a forma
de um desinteresse pelo livro como obra de arte. Pouco importa
a impressão literária, o sabor do estilo, a voz do autor. Quer di-
vertir-se, esquecer as pequenas misérias da vida, vivendo ou-
tras vidas desencadeadas pelo bovarismo da leitura. E tem ra-
zão. Há dentro dele uma floração de virtualidades recalcadas
que, não encontrando desimpedido o caminho estreito da ação,
tentam fugir pela estrada larga do sonho.
        Assim éramos nós então, por não sabermos ler nas en-
trelinhas. E daquela primeira fase de educação sentimental, que
parecia inevitável como as espinhas, passava quase sempre o
jovem monstro para uma crise de hipercrítica. Devido à neces-
sidade de um restabelecimento de equilíbrio, o excesso engen-
drava o excesso contrário. A pouco e pouco os românticos per-
diam terreno em proveito dos naturalistas. Dava-se uma verda-
deira subversão de valores na escala da sensibilidade e a fanta-
sia comprazia-se em derrubar os antigos ídolos. Formava-se
muitas vezes, coincidindo com manifestações mórbidas que são
do domínio da psicanálise, um pedantismo da clarividência, tão
nocivo como a intemperança imaginosa ou sentimental, e talvez
mais ingênuo, pois refletia um ressentimento de namorado ain-
da ferido nas suas primeiras ilusões. 


(Adaptado de: MEYER, Augusto. “Do Leitor”, In: À sombra da
estante
, Rio de Janeiro, José Olympio, 1947, p. 11-19)

No segmento ... procura o reflexo dos seus sentimentos imediatos, identificando-se logo com o protagonista ou herói do romance (2º parágrafo), de acordo com o contexto, pode-se substituir a expressão sublinhada por:

Alternativas
Comentários
  • ALTERNATIVA CORRETA - LETRA "E"


    No segmento “... procura o reflexo dos seus sentimentos imediatos, identificando-se logo com o protagonista ou herói do romance” , a forma verbal destacada na transcrição introduz oração subordinada reduzida de gerúndio com ideia de modo, portanto poderia ser substituída, sem prejuízo do sentido, por “de modo a identificar-se”, porque “de modo a” revela ideia de modo. As demais alternativas geram as seguintes ideias: A)“porque se identifica” – causa/explicação;  B)“caso se identifique” – condição; C)“à medida que se identifica” – proporção; D)“posto que se identifique” – concessão.

    Espero ter ajudado. Bons estudos!

  • Perdão Luana, mas desconheço oração reduzida de gerúndio de modo, dificilmente pesquisando encontrará essa explicação. Creio que seja "consecutiva". "De moda a" seria uma locução conjuntiva consecutiva

    https://tentolingua.wordpress.com/2009/04/27/de-modo-a-que-de-forma-a-que/

  • identificando-se  pode ser substituido por DE MODO A IDENTIFICAR-SE, pois é, realmente, o MODO COMO SE IDENTIFICA O LEITOR IGENUO AO LER ALGO, quer de imediato ser  o protagonista ou herói do romance.

  • Obrigada Luana, comente sempre!

  • Gabarito: letra E

    "Considerações acerca das orações modais:

    Como já vimos na seção que tratou dos pressupostos teóricos deste trabalho, dentre as cinco gramáticas consultadas apenas quatro admitem a existência das orações adverbiais modais. Desses quatro, apenas três o fazem “explicitamente”, pois BECHARA (2001) não chega a afirmar que as modais constituem um tipo de oração. Antes, ele as chama de “oração que denota modo, meio, instrumento”. Seus exemplos, inclusive, são extraídos integralmente deSintaxe Histórica Portuguesa, de Epifânio Dias (1970). Não há em BECHARA (2001) qualquer informação sobre que critérios seguir para identificar uma oração como “denotadora de modo, meio, instrumento”.

    Já em ROCHA LIMA (2002) observamos a proposta “explícita” da nomenclatura “orações adverbiais modais”.O autor começa até mesmo dizendo que “o modo (juntamente com o tempo e o lugar) é a mais fundamental das circunstâncias”. Acrescenta ainda que, por não existirem conjunções modais, “no plano do período composto por subordinação, a circunstância de modo somente aparece sob a forma de oração reduzida (de gerúndio)”.

    Adriano da Gama KURY (2004), ao tratar das orações adverbiais de modo, diz que “equivalem a um adjunto adverbial de modo. Exprimem a maneira, o meio pelo qual se realiza o fato enunciado na oração principal”. KURY (2004) destaca o fato de a Nomenclatura Gramatical Brasileira não incluir as orações modais em sua classificação e, com isso, lista as possíveis interpretações dadas a essas orações na falta da nomenclatura MODAIS. Kury mostra como essas orações se diluem pelas outras orações contempladas pela NGB. Seriam elas:

    1. As comparativas

    Geralmente aquelas iniciadas pela conjunção como com o valor de tal qualassim comodo mesmo modo que, como em:

    “Eu deixo a vida como deixa o tédio / Do deserto o poento caminheiro”

    2. As conformativas

    As iniciadas por como com a significação de conformesegundoconsoante:

    “A voz dela, como dizia o pai, era muito mimosa.”

    3. As consecutivas

    Em geral as que começam com as locuções de modo que, de sorte que, de forma que:

    “Todos estavam exaustos, de modo que se recolheram logo”.

    Continua (...)

  • Trecho do texto: "O leitor ingênuo é simplesmente ator. Quero dizer que, num folhetim ou num romance policial, procura o reflexo dos seus sentimentos imediatos, identificando-se logo com o protagonista ou herói do romance. Isto, aliás, se dá mais ou menos com qualquer leitor, diante de qualquer livro; de modo geral, nós nos lemos através dos livros."  é a maneira de fazer isso...

    O que se dá mais ou menos com qualquer leitor? R.: "nós nos lemos através dos livros". Isto é, de modo geral, logo nos identificamos com o protagonista ou herói da trama, por exemplo. Ou seja, de modo geral, o leitor, num folhetim ou num romance policial, procura o reflexo dos seus sentimentos imediatos, de modo a identificar-se logo com o protagonista ou herói do romance.
  • Amigos, no vídeo da resposta o professor Arenildo comenta que há uma relação TEMPORAL e não de modo como vem sendo comentado.

     

    (antes) "procura o reflexo dos seus sentimentos imediados"
    (depois) "identificando-se logo com o protagonista ou heróis do romance"

     

    Ele explica que o trecho de modo a identificar-se mantêm essa ideia temporal

     

     

     

  • "O leitor ingênuo é simplesmente ator. Quero dizer que,

    num folhetim ou num romance policial, procura o reflexo dos

    seus sentimentos imediatos, identificando-se logo com o pro-

    tagonista ou herói do romance. Isto, aliás, se dá mais ou menos

    com qualquer leitor, diante de qualquer livro; de modo geral, nós

    nos lemos através dos livros."

    A ideia que o texto passa é a de que o leitor lê para que possa se identificar com o personagem, já que a leitura é para "divertir-se, esquecer as pequenas misérias da vida...", então a única alternativa que cabe nesse contexto é a E (procura o reflexo dos seus sentimentos imediatos, de modo a identificar-se logo com o protagonista ou herói do romance).